Análise: passa da hora de Bolsonaro mandar ministro do Turismo passear
Se fosse coerente com o discurso de campanha, presidente demitiria Antônio pela gravidade das denúncias investigadas pela Polícia Federal
atualizado
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Quando se trata de adversários, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se mostra intolerante com práticas de corrupção ou qualquer outro desvio de conduta. Esse foi um dos motes da eleição vitoriosa de 2018.
A escolha do juiz Sergio Moro, da Operação Lava Jato, para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, pretensamente, simbolizou a disposição de combater crimes relacionados a dinheiro público. Na prática, porém, Bolsonaro se mostra transigente com suspeitas graves contra pessoas de suas relações.
O caso mais evidente tem como personagem central o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, acusado de montar uma rede de candidaturas laranjas no seu partido, o PSL, em 2018. As primeiras denúncias sobre o caso foram publicadas em fevereiro deste ano pela Folha de S. Paulo.
Desde então, as suspeitas contra o ministro se acumulam. Na última quinta-feira (27/06/2019), dois assessores e um ex-assessor de Antônio foram presos pela Polícia Federal em decorrência das revelações do jornal.
Bolsonaro se encontrava em viagem para o Japão, onde participou da reunião de cúpula do G20, quando a PF encarcerou os três protegidos do ministro. O presidente disse que resolveria o assunto quando voltasse ao Brasil. Depois do retorno, ele decidiu manter Antônio no cargo.
O chefe do Executivo considera as denúncias sem “substância”, segundo afirmou nesta terça-feira (02/07/2019). “Por enquanto, não tem nada contra ele. Se o assessor falar e for confirmado que ele tem participação, a gente toma providência”, disse Bolsonaro.
Contra o ministro, pesa a acusação de ter patrocinado a formação da rede de laranjas que recebeu recursos públicos para candidaturas. Parte desse dinheiro foi parar em contas de empresas ligadas a assessores de Antônio, que é deputado federal, em seu gabinete na Câmara.
Bolsonaro releva as denúncias que envolvem seu partido. As primeiras informações publicadas pela Folha de S. Paulo provocaram brigas internas no PSL.
Nesse episódio, por pressão do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, foi demitido. Desde então, Antônio permanece no governo sem conseguir se livrar das acusações. Ao contrário, as prisões da semana passada reforçam a gravidade dos rolos em torno do titular do Turismo.
Ao segurar Antônio, Bolsonaro passa algumas mensagens para os brasileiros e, em especial, para os aliados. A sociedade fica com a impressão de que, quando se trata de proteger amigos, ele tem atitude semelhante ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não gostava de demitir ministros por causa de denúncias da imprensa.
Para os aliados, o capitão emite o sinal de que, em determinadas circunstâncias, desvios de conduta são tolerados. Essa postura contraria o discurso da moralidade feito contra os adversários, mas ajuda a manter o apoio dos correligionários no Congresso.
Na verdade, se quisesse cumprir as promessas de campanha, o presidente há muito tempo teria mandado o ministro do Turismo passear. Assim, Bolsonaro seria coerente.