Análise: no governo Bolsonaro, Brasil vive auge da “era da baixaria”
Como os filmes estrelados por Alexandre Frota, postagens do presidente devem ser classificadas como inadequadas para menores de 18 anos
atualizado
Compartilhar notícia
O tuíte do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), com cenas bizarras gravadas durante o Carnaval marca o ponto máximo de uma tendência da política nacional. Sob muitos aspectos, há alguns anos, o país vive um período que pode ser chamado de “era da baixaria”.
Política no Brasil nunca foi sinônimo de polidez. Ao contrário, as disputas eleitorais caracterizam-se, em grande parte, por radicalismo e falta de respeito pelos adversários. Mas Bolsonaro arrastou para dentro do Palácio do Planalto o baixo nível dos debates travados nas ruas e nas campanhas.
A falta de modos dos brasileiros ficou evidente durante a Copa do Mundo de 2014. Na época, as torcidas sacudiram estádios com gritos de “Dilma, vai tomar no c*”, em manifestações contra a então presidente Dilma Rousseff.
Ela também foi vítima de desrespeito nos adesivos para tampas de tanques de gasolina em que aparecia de pernas abertas. No ano passado, ficou famosa a imagem de um cachorro urinando em um cartaz de Bolsonaro, como se estivesse atingindo a boca do então candidato ao Planalto.
Agora, no Carnaval, blocos de foliões em todo o país entoaram de novo o “vai tomar no c*”, desta vez direcionado para o presidente. Atacado pelo público, como se fizesse pirraça, Bolsonaro divulgou o vídeo com cenas pornográficas.
Ao fazer a postagem escatológica, o presidente se mistura com o que há de mais tosco no comportamento político dos brasileiros. Em vez de elevar o nível do debate, ele reforça a esculhambação das ruas.
O gesto de Bolsonaro contraria princípios óbvios da educação. Seguido por pessoas de todas as idades, ele não se preocupou com o fato de que as imagens grotescas seriam acessadas por adolescentes e crianças. Se a intenção era denunciar aberrações que ocorrem durante o Carnaval, certamente poderia buscar as vias institucionais, como a polícia ou o Ministério Público.
Falta educação
É difícil imaginar ainda como esse tipo de atitude poderia ajudar o governo. A começar pela reforma da Previdência, missão mais complicada assumida por Bolsonaro desde a campanha eleitoral. Quando gasta seu poder de influência junto aos brasileiros para propagar obscenidades, ele perde a chance de se concentrar no debate necessário para convencer os congressistas da importância de se cortar privilégios para equilibrar as contas públicas.
Desse episódio lamentável, sobram algumas lições. Uma delas é que os perfis do presidente nas redes sociais devem ser classificados como inadequados para menores de 18 anos, como os filmes estrelados pelo agora deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP)
Outra conclusão óbvia é que falta educação no Brasil. Até mesmo por parte do presidente da República.