Análise: movimento da China testa a economia do Brasil com Bolsonaro
Com a mudança cambial no gigante asiático, Bolsonaro fica mais dependente da reforma da Previdência para manter discurso de estabilidade
atualizado
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A desvalorização da moeda chinesa, o iuan, em 1,4% mexeu com o mercado financeiro nessa segunda-feira (05/08/2019). O movimento do gigante asiático acende um sinal de alerta para a economia mundial, particularmente, para os países com números mais frágeis. Nesse contexto, o governo do presidente Jair Bolsonaro vai passar por um teste de estabilidade.
No primeiro dia de mudança no câmbio chinês, o real caiu 1,68% frente ao dólar e o índice Ibovespa teve redução de 2,51%. Por enquanto, são variações pouco significativas. Mas as próximas semanas serão de expectativa em relação ao impacto da queda do iuan no comportamento dos mercados.
O governo brasileiro aposta no avanço da reforma da Previdência para manter o discurso otimista sobre as contas públicas. Os números tímidos obtidos até agora em relação, por exemplo, ao combate ao desemprego e ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) tornam a situação do Brasil mais preocupante.
Com isso, um dos fatores que vai pesar no comportamento da economia local será o ritmo da tramitação, na Câmara e no Senado, do pacote de mudança nas aposentadorias. Pelos cálculos otimistas do governo, o Congresso concluirá as votações da reforma até o final de setembro.
Se a previsão se confirmar, reduzem-se as chances de turbulência na economia brasileira. Caso o Parlamento atrase o cronograma, abre-se espaço para especulações contra o país.
Nessas circunstâncias, o avanço da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) nº 6, que institui as novas regras da Previdência, depende muito mais do ministro da Economia, Paulo Guedes (foto em destaque), dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), do que de Bolsonaro. Nessa segunda-feira (05/08/2019), os três firmaram um pacto pela aprovação da reforma tributária, outra iniciativa com impacto na arrumação das contas do país.
Na prática, pode-se dizer que o presidente da República demonstra pouca influência no Congresso. Uma análise mais rigorosa, na verdade, mostra que Bolsonaro causa mais atritos do que consensos com sucessivas declarações que tumultuam o ambiente político.
Por enquanto, esse comportamento pouco afetou a PEC, pois os dois chefes do Legislativo assumiram a responsabilidade pela aprovação do pacote e desfrutam de boas condições para mobilizar as bancadas. Se não surgir fato novo que atrapalhe a tramitação, as chances de promulgação da reforma são grandes.
Deve-se considerar ainda que, na reta final da aprovação da reforma na Câmara, em primeiro turno, o governo liberou verbas para emendas parlamentares, gesto que caracteriza o velho toma lá, dá cá da política brasileira. O fisiologismo, como sempre, é um argumento convincente para se obter apoio do Parlamento.
Mas não se deve desprezar o potencial desestabilizador do palavrório do presidente. Por enquanto, os ataques feitos a adversários – como os governadores nordestinos – e a defensores de causas que o contrariam – como a proteção do meio ambiente – foram insuficientes para provocar reações de peso contra o governo.
O estilo agressivo, no entanto, tende a aumentar a tensão com os políticos. Esse é um jeito novo de relacionamento com o Congresso e só o tempo dirá se funciona como estratégia de governo.
Com a mexida no câmbio chinês, torna-se ainda mais necessário acompanhar como evoluem as relações do Brasil no cenário internacional. As declarações contrárias a questões relevantes para o mundo, como a proteção ambiental, têm potencial para criar atritos que comprometam as relações políticas e econômicas com outros países.
Nesse rumo, as preocupações mais urgentes surgem dos exportadores. Basta lembrar, por exemplo, a reação negativa dos países árabes contra o anúncio da intenção transferir de Tel Aviv para Jerusalém a embaixada do Brasil em Israel. O mesmo se deu no episódio dos navios de bandeira do Irã que ficaram atracados em Santa Catarina por causa do alinhamento de Bolsonaro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Pelo exposto acima, então, o segundo semestre começa com um componente de instabilidade externa, a China, e algumas incertezas na economia e na política do Brasil. No meio disso tudo, está Bolsonaro e sua incrível capacidade de criar problemas desnecessários.