Análise: Mourão propagou fake news sobre morte da menina Ágatha
Na época do crime, vice-presidente reforçou versão de que partira de traficante a bala que matou garota, mas inquérito diz que foi a polícia
atualizado
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Um inquérito da Polícia Civil do Rio de Janeiro concluiu que partiu do fuzil de um agente das forças de segurança a bala que matou a menina Ágatha Vitória Sales Félix, de oito anos, dois meses atrás. Com isso, fica desmontada uma tentativa de atribuir a traficantes a responsabilidade pelo crime.
Ágatha morreu em setembro (21/09/2019) em decorrência de tiro disparado por um policial, segundo informações sobre o caso divulgadas nesta terça-feira (19/11//2019) pela imprensa. Na ocasião, o vice-presidente, Hamilton Mourão, comportou-se como agente propagador de fake news produzidas para tentar confundir o público.
Sem apontar evidências, o homem que ocupa o segundo cargo mais importante do país contestou a versão da família da vítima. “É aquela história, é a palavra de um contra o outro. Você sabe muito bem que nessas regiões de favela, se o cara disser que foi um traficante que atirou, no dia seguinte está morto”, reagiu o vice.
Desde o início, os familiares de Ágatha asseguraram que os tiros foram dados por policiais militares, mas Mourão preferiu alimentar uma especulação que eximia os agentes de segurança da “tragédia” no Complexo do Alemão. Fez isso ao mesmo tempo que defendeu a aprovação pelo Congresso da norma “excludente de ilicitude”, proposta para dificultar a punição de policiais responsáveis por mortes em operações de rua.
Ao conferir ares de credibilidade a um boato mentiroso, Mourão reforça a característica, marcante do governo Jair Bolsonaro, de confundir a população com versões fantasiosas sobre fatos que desagradem a agenda oficial. Foi assim, por exemplo, no caso do derramamento de óleo no litoral brasileiro, quando o chefe do Executivo e alguns subalternos apressaram-se em insinuar que a Venezuela tinha culpa no crime ambiental, até hoje sem elucidação.
Bolsonaro também tentou enganar os brasileiros quando afirmou que Fernando Santa Cruz – pai do atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz – foi morto por companheiros de militância contra a ditadura. Baseado, segundo o presidente, no que ele ouviu dizer na década de 1970. Documentos militares desmentem essa mentira.
A proliferação de fake news nas redes sociais é um fenômeno atual da comunicação, sem perspectiva de ser impedido. O problema é grave, mas se torna assustador quando tem como vetores o presidente e o vice-presidente da República.