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Análise: Messias Bolsonaro quer partido à sua imagem e semelhança

Mistura das ideias do presidente com o discurso religioso reforçam o viés autoritário e personalista da legenda que governistas querem criar

atualizado

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Bolsonaro vai a Igreja Sara Nossa Terra
1 de 1 Bolsonaro vai a Igreja Sara Nossa Terra - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O presidente Jair Messias Bolsonaro e aliados começam nesta quinta-feira (21/11/2019) a coleta das assinaturas necessárias para a criação da Aliança pelo Brasil (APB). De cordo com o anunciado até agora, a sigla pretende se apresentar ao eleitorado à imagem e semelhança do chefe do Executivo, como na expressão bíblica.

Na nova legenda, Bolsonaro não precisará dividir as decisões e as verbas partidárias com outros dirigentes, como acontecia no PSL de Luciano Bivar. Talvez o próprio capitão presida a APB.

Sabe-se, também, que a legenda terá ideologia de direita, na extremidade do espectro ideológico. Homenagens como as feitas pelo capitão ao torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, por exemplo, dão uma ideia do que significa essa vertente política.

No contexto da América Latina, as referências mais explícitas do presidente são antigos ditadores, como Augusto Pinochet, no Chile, e Alfredo Stroessner, no Paraguai. Esse tipo de inspiração autoritária e sanguinária sugere caminhos conhecidos e rejeitados há quase quatro décadas pelos brasileiros.

Em outros continentes, a defesa do estreitamento das relações com Israel sinalizará um dos rumos apontados pelo futuro partido para a política externa. Ainda não se viu o que o Brasil tem a ganhar com essa aproximação.

Caso, de fato, Bolsonaro consiga cumprir as etapas necessárias para a criação da APB, deve-se ter como certa a pregação de “valores morais e cristãos”, como define o deputado Eduardo Bolsonaro (SP), o “03”. A presença da família na definição dos rumos da APB reforçam a linha personalista da iniciativa.

O capitão demonstra intenção de usar os filhos para manter o controle absoluto sobre a sigla. Outro filho, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) está cotado para ocupar a vice-presidência do novo partido.

Adotada para chegar ao Palácio do Planalto, a retórica com forte apelo religioso buscará manter a hegemonia sobre os eleitores evangélicos, setor decisivo na eleição de 2018. Em uma espécie de “milagre” brasileiro, esse discurso segue junto com a defesa de mais armas para a população. A habilidade para manejar propostas excludentes ajuda a explicar a vitória de Bolsonaro na corrida presidencial.

Não há precedentes de criação, depois da redemocratização do Brasil, de um partido constituído exclusivamente para atender à estratégia de um presidente da República. Não se pode prever, portanto, se a ideia de Bolsonaro de comandar a própria legenda ajudará o governo a aprovar propostas no Congresso. 

Mas, por todas as evidências, o partido preparado pela direita brasileira tem o propósito de fazer da exaltação de seu líder máximo uma estratégia de preservação e ampliação do poder. Nesse aspecto, entre os seguidores evangélicos, são comuns as citações ao presidente como uma espécie de enviado dos céus para salvar o Brasil. 

Em um trocadilho simplório com o nome completo do capitão, pode-se dizer que, se existir mesmo, a APB servirá – mais que tudo – ao projeto messiânico de Bolsonaro.

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