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Análise: líderes fazem política e retiram “bodes” da Previdência

Ao propor mudanças na proposta do governo, partidos ajudam na retomada do diálogo com Planalto, mas ainda é pouco para o avanço da reforma

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Congresso Nacional
1 de 1 Congresso Nacional - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Era de se esperar que o Congresso derrubasse os pontos da reforma da Previdência que prejudicam os mais pobres, como as mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e na aposentadoria rural. Além de injustiças com quem mais precisa, essas medidas atingem amplos segmentos de eleitores dos parlamentares.

Desde que o pacote elaborado pela equipe econômica ficou pronto, esses tópicos tinham aparência de “bodes”, jargão no Legislativo para propostas de difícil aceitação pelos congressistas, apresentadas pelo governo apenas com o intuito de negociar a aprovação das outras.

Ao anunciar veto à parte das medidas, na verdade, os líderes que representam 278 deputados fazem um gesto mais simbólico do que efetivo. O fato se revela mais importante por representar uma retomada das conversas políticas em torno da Previdência, emperradas desde que o governo e o Congresso começaram a se desentenderem em relação à tramitação das propostas.

Na segunda-feira (25/3), deputados demonstraram interesse em resgatar o pacote, sobre o mesmo tema, elaborado pelo governo Michel Temer e engavetado pelo Congresso. Esse é outro caminho buscado no Legislativo para a retomada dos diálogos com a atual administração federal em torno da aprovação da reforma da Previdência.

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PSL) viajou aos Estados Unidos e ao Chile, o pacote do ministro da Fazenda, Paulo Guedes, permaneceu parado na burocracia do Legislativo. Em vez de uma comunicação própria de autoridades, o capitão e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), perderam-se em discussões inúteis pelo Twitter.

Bolsonaro demonstra desprezo pelo Parlamento quando diz não saber o que é articulação. Pelo visto, imagina que o papel de presidente seja apenas enviar uma lista de intenções, sem disposição para dialogar em torno de mudanças e aperfeiçoamentos.

Nessa lógica, se o pacote não for aprovado, a culpa será do Congresso. Ao mesmo tempo em que o chefe do Executivo nacional empurra a responsabilidade para o Legislativo, seus seguidores brigam entre si, além de atacarem Maia e outros políticos. Não pesam as consequências negativas desses desentendimentos para a tramitação das propostas do governo.

Jogo de cena
Agora, ao se movimentarem, os líderes se protegem de futuras acusações de omissão e demonstram algum interesse em destravar o diálogo com o Planalto. Mesmo que, no fundo, seja apenas um jogo de cena. Nada impede que congressistas desses partidos contrariem as posições manifestadas no documento divulgado pelos representantes das legendas.

A bem da verdade, deve-se observar ainda que, se quisesse, o Congresso teria feito uma reforma da Previdência há alguns anos. A ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Michel Temer propuseram mudanças no sistema, mas trombaram nos interesses em ação no Parlamento.

No fundo, deputados e senadores de fato são responsáveis pela falta de solução para a Previdência. De antemão, então, deve-se duvidar do real interesse do Parlamento em aprovar a reforma. Mais difícil, ainda, se os congressistas se sentirem afrontados pelo Planalto. Afinal, também têm legitimidade conquistada nas urnas, são representantes do povo.

Cabe ao presidente da República, nesse contexto, encontrar o tom certo para tratar com o Congresso. Sem toma lá dá cá, mas sem imposições. Para isso foi eleito pelos brasileiros.

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