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Análise: fustigado por rolos do filho, Bolsonaro dá cartada em Maduro

Na volta ao Brasil, presidente terá de estancar suspeitas sobre Flávio enquanto busca atuação relevante na crise da Venezuela

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Bolso Davos
1 de 1 Bolso Davos - Foto: Alan Santos/PR

Quando retornar de Davos, o presidente Jair Bolsonaro encontrará o ambiente político diferente no Brasil e na América Latina. Nos últimos dias, a série de revelações sobre seu filho Flávio, senador eleito pelo PSL, descortinou um mundo de benesses com dinheiro público nos gabinetes da família. Mostrou, também, ligações perigosas com personagens procurados pela polícia fluminense.

Na América Latina, o agravamento da crise na vizinha Venezuela – com apoio do Brasil, EUA e outros países aos opositores de Nicolás Maduro – sacode a geopolítica regional e cria condições para Bolsonaro buscar protagonismo no cenário externo.

Em entrevista concedida na noite dessa quarta-feira (23/1) à TV Record, o presidente agiu na defensiva ao comentar os problemas de Flávio. Genericamente, disse que as acusações são “infundadas” e tentou proteger o primogênito.

Também não mencionou os empregos dados pelo filho a familiares de milicianos nem fez referência ao seu expressivo aumento patrimonial. “Não é justo usar o garoto para tentar me atingir”, argumentou.

Para agir na sublevada Venezuela, Bolsonaro mostrou-se de prontidão. “Estamos no limite do que podemos fazer para restabelecer a democracia naquele país”, afirmou.

As notícias corrosivas para Flávio e a mobilização contra Maduro turvaram os movimentos da comitiva brasileira em Davos. Flagrado enquanto almoçava sozinho em um bandejão, Bolsonaro também deixou má impressão na imprensa internacional pelo discurso curto – e superficial – na abertura do fórum e por ter faltado a uma entrevista coletiva agendada para essa quarta (23).

Sobre o cancelamento do encontro com jornalistas, mais tarde, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, explicou que a mudança se deu para permitir que o presidente, perto de fazer mais uma cirurgia no abdômen, descansasse um pouco naquele momento.

Apesar dos tropeços, mais um recorde na Bolsa brasileira e a queda de 1% do dólar deram mote para o presidente fazer, na entrevista à TV, um balanço positivo sobre a viagem à Suíça. A atuação do ministro da Fazenda, Paulo Guedes, nos contatos com agentes externos, também deu fôlego para o discurso brasileiro.

Mesmo assim, a repercussão das apresentações dos brasileiros entre os investidores estrangeiros foi discreta. A falta de anúncios claros sobre a reforma da Previdência e a indefinição do perfil da privatização preparada pelo governo contribuíram para a cautela dos interlocutores.

Na volta ao Brasil, na esfera familiar, Bolsonaro terá de encarar os enroscos de Flávio. Como primeira tarefa, tentará estancar os efeitos negativos das descobertas do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e da imprensa sobre a imagem do filho.

Do ponto de vista político, o presidente vai trabalhar para evitar que a onda contra o senador eleito avance sobre o Congresso no momento da aprovação dos projetos de interesse do governo. Pelo histórico recente do Congresso, em decorrência do desgaste da família Bolsonaro, pode-se imaginar deputados e senadores mais arredios na hora de apreciar as propostas do Palácio do Planalto.

Por fim, vale observar que, por mais que a Venezuela seja relevante para a estabilidade do Brasil, o futuro do governo depende, primeiramente, da capacidade da equipe de Bolsonaro em resolver nossos desajustes internos. Nesse sentido, um episódio sul-americano serve como exemplar referência.

Em 1982, o então ditador da Argentina, Leopoldo Galtieri, ocupou as Malvinas e declarou guerra contra a Inglaterra, que domina essas ilhas no Atlântico. Com a ação, o militar buscava o apoio da população para seu governo sanguinário.

No final, a Inglaterra derrotou a Argentina, Galtieri foi destituído e condenado a 12 anos de prisão por incompetência na invasão das Malvinas. Moral dessa história: não adianta se meter nos problemas dos outros países se não for capaz de comandar a política interna.

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