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Análise: demora em demitir Vélez provoca danos irreversíveis no MEC

Não dava mesmo para esperar resultados positivos na educação brasileira depois de campanha eleitoral centrada no factoide do “kit gay”

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Vélez
1 de 1 Vélez - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Desde as primeiras semanas de governo, ficou clara a incapacidade do então ministro da Educação, Ricardo Vélez, para exercer o cargo. Escolhido pelo presidente, Jair Bolsonaro, para comandar uma das áreas mais complexas do governo, ele provocou crises desnecessárias e travou a máquina administrativa da pasta.

Vale lembrar que, na campanha eleitoral, o debate em torno da educação brasileira girou em torno, principalmente, do “kit gay”, um factoide sem ligação com a realidade no país. Não dava mesmo para esperar bons resultados nessa área. Quem votou em Bolsonaro por causa desse aspecto não tinha noção dos reais problemas do setor.

A demora na demissão do titular do Ministério da Educação (MEC) demonstrou descaso com a educação e, ao mesmo tempo, revela os danos causados ao setor pelo estilo do presidente na tomada de decisões. Preso às ideias do escritor Olavo de Carvalho, Bolsonaro prolongou a instabilidade provocada pela permanência de Vélez no cargo.


Divergências entre seguidores de Carvalho, militares e educadores do MEC potencializaram as turbulências. O próprio Bolsonaro, mais de uma vez, reconheceu a inadequação de Vélez.

No dia 28 de março, uma quinta-feira, antes da viagem para Israel, o presidente opinou sobre o desempenho do auxiliar. Na ocasião, ele disse que o subalterno era “novo no assunto” e não tinha “tato político”.

A falta de rumo na educação teve consequências práticas, como o atraso na renovação e na concessão de 1 milhão de contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), o que prejudicou o ano letivo de estudantes e atinge o fluxo financeiro das faculdades particulares.

Enquanto permaneceu no cargo, Vélez teve tempo para desorganizar vários setores do ministério. Uma de suas ações paralisou o projeto Base Nacional Comum para Formação de Professores da Educação Básica, voltado para docentes das licenciaturas e cursos de pedagogia em faculdades públicas e privadas.

Em pouco mais de três meses no cargo, Vélez trocou mais de uma vez integrantes do primeiro escalão, como o secretário-executivo, número dois no organograma do Ministério da Educação. Também houve mudanças no Instituto Nacional de Educação e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pela aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Exemplo para crises futuras
Ao enrolar-se com a substituição de um subalterno incompetente, Bolsonaro deixa exposto um traço preocupante do seu modo de governar. Primeiro, nomeou uma pessoa que não tinha qualquer tradição nas discussões centrais da educação brasileira.

Depois, mesmo com seguidos exemplos da incapacidade de Vélez, o presidente prolongou as crises ao não providenciar imediata substituição. Do ponto de vista da educação, esse é um dano irreversível, no mínimo, para o atual ano letivo.

Para o Brasil, a situação do MEC revela que o estilo Bolsonaro de tomar decisões tem consequências graves para a administração pública. Espera-se, pelo menos, que a bagunça provocada por Vélez sirva de exemplo em crises futuras. É assim que se aprende.

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