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Análise: como todo factoide, entrada na OCDE teve perna curta

Recuo dos Estados Unidos no apoio ao Brasil expõe mais um movimento errático do governo Bolsonaro nas relações internacionais

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Isac Nóbrega/PR
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1 de 1 Bolsonaro-e-Donald-Trump - Foto: Isac Nóbrega/PR

O termo “factoide” foi criado no início da década de 1990 pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia, pai do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Desde então, a palavra é usada para definir atos fabricados por políticos com o intuito, apenas, de ocupar espaço na mídia.

Foi o que aconteceu no caso do anúncio feito em março pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na ocasião, o líder norte-americano disse que apoiava a pretensão do governo brasileiro.

Trump fez a promessa antes de um encontro que teve na Casa Branca com o presidente Jair Bolsonaro (PSL) no dia 19 de abril. O fato foi comemorado com entusiasmo pelo governo. Nesta quinta-feira (10/10/2019), o gesto tomou forma de factoide.

A agência de notícias Bloomberg divulgou uma carta enviada pelo governo dos Estados Unidos para a OCDE com manifestação de apoio à Argentina e à Romênia para participar da organização. O Brasil foi escanteado.

Bolsonaro tentou minimizar a omissão dos EUA. Sem a euforia demonstrada no anúncio de abril, o presidente baixou o tom do discurso.

“Não é chegou, vai entrando. Eles fazem uma seleção. A seleção é a conta-gotas. Exatamente para que este novo país que entra cumpra todo o estatuto. O Brasil vai ter a sua hora”, disse o capitão nesta quinta-feira em transmissão ao vivo pela Internet.

Depois da repercussão negativa da carta divulgada pela Bloomberg, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, relativizou o conteúdo da mensagem. Disse que seu país “apoia totalmente” o “início do processo” do Brasil na OCDE. Elogiou, ainda, os “esforços contínuos” pelas reformas econômicas e alinhamento com a organização internacional.

Mesmo que, no futuro, os Estados Unidos venham de fato ajudar na entrada na OCDE, a ausência do nome do Brasil na carta revelada pela agência de notícias provoca frustração nas expectativas. Quando o anúncio foi feito, não se falou em fila de pretendentes. Agora, soube-se que Romênia e Argentina estavam na frente na reivindicação.

Enfraquecido na intenção de levar o Brasil para a OCDE, Bolsonaro acumula movimentos erráticos no cenário externo. Desde que tomou posse no Planalto, o capitão teve de recuar em mais de uma iniciativa na área das relações internacionais.

O presidente fracassou, por exemplo, na tentativa de transferir a Embaixada do Brasil em Tel Aviv para Jerusalém. As pressões políticas e comerciais dos países árabes demonstraram, na prática, que a promessa de campanha não seria cumprida.

Maior conquista do governo Bolsonaro nesse setor, a assinatura do acordo entre o Mercosul e a União Europeia também corre riscos. A postura exacerbada do capitão em relação à Amazônia, com rumorosa troca de farpas com o presidente da França, Emmanuel Macron, provocou reações de países que incluem questões ambientais nas negociações diplomáticas.

Desses exemplos, ficam algumas lições. Uma delas é que mesmo acordos fechados podem perder efeito se houver descaso por parte dos interlocutores, como acontece com Bolsonaro em relação à aliança entre Mercosul e União Europeia.

Outro aprendizado está diretamente relacionado à OCDE: quando um anúncio oficial se dá em forma de factoide, a qualquer momento, pode cair no vazio. Enquanto os EUA, de fato, não apoiarem a pretensão do Brasil, a tentativa de entrar na organização permanecerá apenas como desejo do governo Bolsonaro. Por enquanto, nesse episódio, o presidente contabiliza uma derrota política.

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