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Análise: capitão demite general e tenta estabelecer “ordem unida”

Bolsonaro afasta Santos Cruz da Secretaria de Governo e reforça influência do filho Carlos e do guru Olavo de Carvalho no Planalto

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Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles
Diplomação do presidente da República eleito Jair Bolsonaro – Brasília(DF), 10/12/2018
1 de 1 Diplomação do presidente da República eleito Jair Bolsonaro – Brasília(DF), 10/12/2018 - Foto: Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

No jargão dos quartéis, o termo “ordem unida” aplica-se à formação organizada e sincronizada dos militares durante as marchas e paradas. Perfilados, mantêm entre si as distâncias regulamentares e obedecem às ordens dos comandantes.

Em uma analogia, pode-se dizer que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) demitiu o general Carlos Alberto dos Santos Cruz da Secretaria de Governo para manter a ordem unida no Palácio do Planalto. Assim, tenta assegurar a sintonia entre os subordinados e reafirmar autoridade sobre os comandados.

Militar de currículo invejável, Santos Cruz esteve à frente das tropas brasileiras no Haiti e da missão de estabilização da Organização das Nações Unidas (ONU) no Congo, postos que lhe deram rara experiência e prestígio nas Forças Armadas. Forjado em situações extremas, enfrentou a desordem da ilha caribenha e correu risco de vida para ajudar a implantar a paz no país africano.

No governo, as credenciais do general tiveram pouca serventia para lidar com o deslumbramento dos áulicos do Planalto, do escritor Olavo de Carvalho e do vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Por não marchar sincronizado com essa turma, principalmente em relação à política de comunicação do governo, Santos Cruz perdeu o cargo.

Chefe do Poder Executivo e comandante-em-chefe das Forças Armadas, o capitão reformado Bolsonaro demitiu, pela primeira vez, um general de seu governo. Fez valer a hierarquia estabelecida pelas urnas para tentar harmonizar o ambiente no Palácio. Com o intuito de agradar o guru e o filho, abriu mão de um militar de renome internacional.

A demissão de Santos Cruz representa mais um capítulo na singular relação entre o presidente e as Forças Armadas. Bolsonaro saiu do Exército depois de punido em decorrência de atos de indisciplina e só reconquistou a confiança dos antigos colegas de farda por ser uma alternativa viável para evitar a volta do PT ao poder na sucessão de Michel Temer.

Longe do centro de poder desde o fim da ditadura, os oficiais generais se esforçam para adaptar-se ao estilo do presidente. Para isso, precisaram aprender a conviver com as interferências atípicas para o meio militar, como os palpites diversionistas de Olavo e os ataques insolentes de Carlos. Na caserna não há espaço para ingerências dessa natureza.

Santos Cruz resistiu e reagiu a essas interferências externas. Sem nunca obter apoio de Bolsonaro para se impor frente aos tuítes ensandecidos de Carlos e Olavo, o general não chegou a completar seis meses no governo.

No lugar de Santos Cruz assume um general da ativa, Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, até agora comandante militar do Sudeste. Ao substituir um oficial de alta patente por outro, Bolsonaro reforça sua disposição de dividir o poder com integrantes das Forças Armadas.

Para os militares, esse gesto significa mais uma oportunidade de acompanhar de perto as ações do capitão. Nessa circunstância, o general terá a missão de ajudar o governo a manter a ordem unida – apesar dos comandos externos, fora da hierarquia e da disciplina intrínsecas dos quartéis onde fez carreira.

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