Análise: Bolsonaro quer atirar primeiro e perguntar depois
Ao propor uma GLO para o campo, presidente procura agradar a bancada ruralista ao mesmo tempo que esvazia poder dos governadores
atualizado
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Em mais uma iniciativa de confronto com adversários políticos, o presidente Jair Bolsonaro quer ter poder para autorizar emprego de forças de segurança em ações de reintegração de posse. Atualmente, esse tipo de ação depende, antes, de solicitação do governador do estado.
Com a proposta, o capitão mira especialmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), segmento que atua em favor da reforma agrária no Brasil. O objetivo, segundo o presidente, é proteger fazendeiros e sitiantes de invasões de propriedades.
A ideia do chefe do Executivo federal é aprovar um projeto de lei no Congresso com esse conteúdo. Seria uma extensão, explícita, para o campo da Garantia da Lei e da Ordem (GLO), já existente.
Bolsonaro não apresentou dados concretos que justifiquem a iniciativa contra o MST, movimento ligado aos partidos de esquerda. Em entrevista coletiva, falou genericamente sobre morte de animais e depredações de patrimônio por invasores. Mas não citou qualquer caso ocorrido durante seu governo.
Na verdade, mais do que resolver alguma demanda atual, o presidente procura atender reivindicações antigas da bancada ruralista, aliada do governo. Ao defender mais facilidades para enfrentar mobilizações de sem-terra, ele renova esses laços, importantes para assegurar apoio no Congresso.
Outro desdobramento da medida anunciada por Bolsonaro é a concentração de mais poder, com o consequente esvaziamento dos governadores. Se a vontade do capitão for satisfeita, os chefes dos executivos estaduais perderão a primazia desse tipo de convocação.
Caso obtenha a prerrogativa, o capitão poderá atropelar governadores de oposição – como os do Nordeste, por exemplo – e enviar tropas para as áreas rurais dos estados quando julgar conveniente. Não vai depender de solicitação das unidades da federação.
Pelo visto, nem precisará indagar se precisa intervir. Para se usar uma expressão dos velhos filmes de faroeste, em uma linguagem figurada, Bolsonaro quer atirar primeiro e perguntar depois.