Análise: Bolsonaro perde popularidade e aliados políticos se afastam
Ao mesmo tempo que pesquisas apontam queda no apoio dos brasileiros, Bolsonaro assiste ao afastamento de congressistas da base do governo
atualizado
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O estilo Jair Bolsonaro (PSL) de fazer política dá sinais de esgotamento. Tanto na percepção da população quanto na reação dos congressistas, nota-se a fuga de aliados conquistados ao longo da campanha eleitoral de 2018. Se continuar nesse rumo, o capitão terá mais dificuldades para governar daqui em diante.
Pesquisa Datafolha divulgada nessa segunda-feira (02/09/2019) mostra expressiva deterioração dos índices de apoio do presidente em diferentes segmentos dos brasileiros. Bolsonaro perdeu força no Nordeste, no Sul, entre os que ganham acima de dez salários mínimos, os mais pobres e os mais escolarizados.
Na sustentação do chefe do Executivo, estão empresários, evangélicos neopentecostais, pessoas com renda entre cinco e dez salários mínimos, homens brancos e moradores do Centro-Oeste. Apesar da queda no índice, 37% dos habitantes do Sul permanecem fiéis ao capitão.
Feitas as ponderações, segundo o Datafolha, 38% dos brasileiros reprovam Bolsonaro no poder. Antes, eram 33%. Os que aprovam chegam a 29%, quatro pontos percentuais a menos do que no levantamento anterior, feito no início de julho.
O presidente não reconheceu publicamente os resultados da pesquisa. Disse que seria o mesmo que acreditar em Papai Noel. Pelo tamanho do tombo na popularidade, em período tão curto de governo, compreende-se a resistência de Bolsonaro aos números aferidos pelo instituto.
A depreciação do prestígio do capitão, no entanto, pode ser detectada por outro indicador, o apoio dos políticos. Desde a posse de Bolsonaro, não se identificou nenhuma adesão de peso ao governo. Ao contrário, verifica-se a fuga de aliados da campanha.
Afastam-se do barco governista, por exemplo, os deputados Alexandre Frota (SP) – que trocou o PSL pelo PSDB -, Kim Kataguiri (DEM-SP) e Marcel van Hattem (Novo-RS). O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também se distanciou do Palácio do Planalto.
Filho do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC) desdenhou as baixas na base de apoio. No Twitter, o Zero Dois deu um recado para os dois últimos.
“Novo nunca apoiou Bolsonaro. MBL apoiou aos 45 do segundo tempo, quando a eleição estava praticamente definida. Doria precisou se aproximar para ser eleito, não para eleger o presidente”, escreveu o vereador.
Van Hattem e Kataguiri estiveram entre os integrantes o Movimento Brasil Livre (MBL), grupo político que teve destacada atuação nas manifestações que pressionaram pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT) e ficaram ao lado de Bolsonaro contra o candidato petista, Fernando Haddad, em 2018. Doria também se juntou a Bolsonaro no segundo turno.
Carlos tem razão quando diz que essa turma se aproveitou de Bolsonaro para se eleger. Mas a recíproca é verdadeira. O capitão também precisou de apoios políticos para assegurar a vitória nas urnas. É assim que funciona.
Sem experiência na política nacional, o vereador talvez não tenha noção do que representa perder aliados com tanta velocidade. Em tese, claro, esses movimentos podem ser revertidos e os desgarrados podem voltar para a aba do governo.
Para isso, no entanto, o presidente teria de rever as atitudes que corroem sua popularidade e assustam antigos apoiadores. Resta saber se ele estaria disposto a mudar o estilo e o conteúdo de suas ideias. Sem acreditar em pesquisas, fica mais difícil. Como revelou a repórter Manoela Albuquerque em reportagem publicada no dia 25 de agosto, Bolsonaro substituiu as pesquisas de opinião – pelas quais os governos anteriores se orientavam – por análises das redes sociais.
No combate virtual, o presidente ganhou a eleição. Para governar, no entanto, precisa de apoio dos congressistas e da população. Nesse campo, ele perde terreno.