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Análise: Bolsonaro mostra coerência na economia e confusão na política

Paulo Guedes monta equipe à sua imagem e semelhança e Lorenzoni terá dificuldades para conciliar interesses partidários

atualizado

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Ricardo Moraes Pool/Getty Images
Jair Bolsonaro vota
1 de 1 Jair Bolsonaro vota - Foto: Ricardo Moraes Pool/Getty Images

À medida que anuncia os futuros ministros, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, emite sinais determinantes dos rumos que pretende dar ao seu governo. Pelo visto, até essa quinta-feira (22/11), pode-se dizer que a equipe terá perfil coerente e sólido na economia, mas contraditório e confuso na política.

Nesse formato, projeta-se para os próximos quatro anos uma administração federal com planos econômicos bem definidos, porém, com grandes dificuldades de implementação de projetos. As opções políticas de Bolsonaro desestimulam previsões otimistas na relação com o Congresso.

Para começar, a indicação de três ministros de uma única legenda, o DEM, provoca desequilíbrio entre as forças do Parlamento. As escolhas Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Tereza Cristina (Agricultura) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde) também demonstram, pelo menos por enquanto, descaso com o Senado, pois os três são deputados.

Por mais que o futuro chefe do Executivo nacional ressalte o caráter não partidário dessas opções, por ter apoio de frentes parlamentares temáticas, esse discurso tem pouco alcance entre os congressistas. Na hora de encaminhar as votações e negociar alianças, a próxima gestão precisará, impreterivelmente, tratar com os líderes das legendas.

Nessa hora, entram os profissionais da política. Há grande curiosidade, por exemplo, sobre como o governo Bolsonaro vai relacionar-se com o PP. Quarta maior bancada da Câmara, a sigla tem parlamentares experientes e bem-sucedidos na arte de trocar apoios por cargos, como o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do partido, e o deputado Aguinaldo Ribeiro (PB), ministro das Cidades de Dilma Rousseff.

O próximo presidente da República terá, então, de testar a capacidade de executar o discurso feito durante a campanha eleitoral contra o toma-lá-dá-cá político. A ver.

No campo das distorções, nota-se ainda a distribuição desigual do peso federativo dos nomes: Cristina e Mandetta são do Mato Grosso do Sul, estado de pouca expressão política no Congresso.

No Legislativo, também há muitas reclamações em relação ao nome de Lorenzoni. O deputado gaúcho tem um perfil pouco comum para quem arcará com a responsabilidade de coordenar as articulações com o Congresso. Sem ter liderado bancadas e sem ascendência sobre seus pares, ainda precisará provar que tem capacidade para envolver os parlamentares com as orientações do governo.

Lorenzoni será encarregado, por exemplo, de convencer os antigos colegas de que cumpre acordos, característica não consolidada nos seus quatro mandatos de deputado. Bolsonaro vai depender dessa aposta para fazer seus projetos avançarem no Congresso.

Também nesse aspecto, não está clara a divisão de poderes dentro do Palácio do Planalto. Pelo que disseram até agora, o vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, e o futuro secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bibiano, devem dividir algumas atribuições com Lorenzoni. Essa distribuição de tarefas exige cuidado e clareza, sob pena de abrir espaço para atritos e ciúmes dentro da sede do governo brasileiro.

Economia e militares
Na área econômica, pelo cenário projetado, há menos possibilidade de divergências. Indicado para o comando da equipe nesse setor, o liberal Paulo Guedes está montando um time à sua imagem e semelhança. Nomes como o do futuro presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, e do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçam a ideia de coesão nos princípios defendidos pelo guru de Bolsonaro.

De nada adiantará essa unidade de pensamento se a base política não atender aos interesses do governo. Para a prioritária reforma da Previdência, por exemplo, as propostas formuladas pela equipe econômica precisam de três quintos dos votos na Câmara e no Senado. Esse será o desafio de Lorenzoni e do presidente eleito – dois políticos que tiveram pouca influência entre os colegas nos seus mandatos parlamentares.

Vale ressaltar, por fim, a importância que os militares terão nos próximos quatro anos. Mourão e o general Alberto Heleno, escolhido para a Gabinete de Segurança Institucional (GSI), possuem experiência e patentes para ajudar o capitão da reserva a comandar o Brasil. Em caso de crises, tanto na política quanto na economia, estarão na linha de frente das tropas do governo. A boa condução do país, nesses momentos, vai depender da capacidade desses dois para administrar situações difíceis.

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