Análise: Bolsonaro ganha fôlego, mas segue dependente do Congresso
Manifestação ajuda discurso do governo na defesa das reformas, embora não tenha peso suficiente para forçar Parlamento a aprovar medidas
atualizado
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A manifestação deste domingo (26/05/2019) demonstrou que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) conta com apoio popular para defender seu governo. A sustentação obtida nas ruas, no entanto, não se mostrou suficiente para estimular aventuras autoritárias do capitão ou, mesmo, pretensões de subjugar o Congresso Nacional.
Bolsonaro deixou evidente a necessidade de negociar com os outros Poderes na entrevista concedida depois do ato ao programa Domingo Espetacular, da Record TV. Na ocasião, ele revelou intenção de chamar os chefes do Legislativo e do Judiciário para conversar sobre um pacto pelo Brasil. Para o padrão do presidente, ele até parecia humilde. O tamanho da manifestação, pelo visto, aparou um pouco de sua autossuficiência.
Para mobilizar um número expressivo de brasileiros, os organizadores do ato moderaram o discurso nos últimos dias e isolaram os aliados mais radicais. Com isso, os defensores de ilegalidades como o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), ou de intervenção militar, perderam espaço na convocação e, principalmente, no protesto.
Nas ruas, prevaleceram as bandeiras focadas na pressão pela aprovação de medidas como o pacote anticrime e as reformas administrativa e da Previdência. As reivindicações ficaram majoritariamente enquadradas nos limites da democracia.
No balanço do domingo, deve-se ainda destacar o desgaste sofrido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), apontado pelos manifestantes como um obstáculo ao avanço das propostas de Bolsonaro no Congresso. Nas últimas semanas, ele se tornou alvo de perseguição nas redes sociais, acusado de exigir vantagens para pautar os projetos de interesse do Planalto.
Maia também foi bombardeado pelos seguidores de Bolsonaro por causa das acusações de envolvimento com crimes apontados em delações premiadas. Como efeito, porém, a exposição do presidente da Câmara tende a provocar aumento de sua insatisfação com o governo.
Nesse contexto, o deputado fluminense acumula ressentimentos no momento em que o Planalto precisa dele para acelerar as reformas. Do ponto de vista do governo, esse é mais um complicador para a construção de saídas negociadas com o Congresso.
Deve-se, ainda, prestar atenção nos efeitos da manifestação sobre o comportamento do Centrão, grupo suprapartidário com cerca de 200 deputados. Apontados nas ruas como inimigos do governo, os integrantes do condomínio parlamentar têm força para aprovar ou barrar os projetos em tramitação.
Sem vida fácil
Parece pouco provável que o humor de Maia e do Centrão com o Planalto tenha melhorado depois da mobilização do fim de semana. Assim, pelo menos por enquanto, não se vislumbra vida fácil para Bolsonaro na implementação de suas propostas.
Por fim, vale ressaltar o caráter democrático da manifestação deste domingo (26/05/2019) e do protesto contra os cortes no Orçamento da Educação, no dia 15 de maio. Posicionados nos polos contrários da disputa política nacional, os dois lados se mostraram dispostos a se levantar por suas reivindicações.
Pelo visto nos dois episódios, os rumos do governo, em grande parte, vão depender da capacidade de aliados e opositores manterem os seguidores mobilizados. Nesses termos, essa é uma disputa democrática.