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Análise: Bolsonaro e Eduardo dão bandeira ao relativizar fake news

Veto do presidente ao aumento da pena para quem espalha mentiras reforçou a impressão de tolerância com abusos em campanhas eleitorais

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Hugo Barreto/Metrópoles
Brasília (DF), 23/07/2019 Cerimônia de Lançamento do Novo Mercado de Gás local: Palacio do planalto Foto: Hugo Barreto/Metrópoles
1 de 1 Brasília (DF), 23/07/2019 Cerimônia de Lançamento do Novo Mercado de Gás local: Palacio do planalto Foto: Hugo Barreto/Metrópoles - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

A influência das notícias falsas em eleições tornou-se tema de debate em algumas das principais disputas políticas no mundo nos últimos anos. O fenômeno esteve no centro das discussões, por exemplo, na vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, em 2016, e no plebiscito que decidiu pela saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit, no mesmo ano.

Também no Brasil, em 2018, o uso das fake news como estratégia de campanha contribuiu em grande medida para o aumento da polarização entre o então candidato Jair Bolsonaro e os adversários. A proliferação de boatos nas redes sociais e, em particular, nos grupos de WhatsApp potencializou a tensão na corrida ao Palácio do Planalto.

Na prática, a nova realidade tecnológica contrariou o velho ditado “mentira tem perna curta”. Com a Internet popularizada, as fake news espalham-se pelo mundo na velocidade de um clique.

Nesse aspecto, alguns fatos da campanha do ano passado expuseram, principalmente, Bolsonaro e seus seguidores. A suposta adoção de um tal de “kit gay” pelo governo Dilma Rousseff, por exemplo, foi alardeada pelo candidato do PSL em entrevista à TV Globo.

Antes da campanha, partidários e eleitores do capitão divulgaram informações mentirosas sobre a vereadora Marielle Franco (PSol), assassinada no Rio de Janeiro em março de 2018. Em uma das versões, a parlamentar teria sido namorada de um traficante carioca.

Passadas as eleições, ganhou força no Congresso a tramitação de um projeto de lei de 2011 sobre denunciação caluniosa em campanhas políticas. Aprovada na Câmara federal e no Senado, a proposta foi parcialmente vetada pelo presidente da República.

Bolsonaro excluiu do texto, exatamente, o trecho que aumenta para até oito anos a pena para produtores e espalhadores de fake news. Na noite de quarta-feira (28/08/2019), no entanto, o Congresso derrubou o veto presidencial.

Em linguagem popular, pode-se dizer que, ao tentar evitar o aumento do tempo de cadeia, Bolsonaro deu bandeira sobre suas intenções. Se havia alguma dúvida a respeito das intenções do capitão de facilitar as mentiras eleitorais, ao relativizar a gravidade das falsidades, essa incerteza não existe mais.

Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) mostrou-se indignado com a queda do veto e chegou a travar no Twitter um bate-boca com o colega Kim Kataguiri (DEM-SP) por causa da decisão do Congresso. A bandeira ficou maior ainda.

A falta de compromisso com a verdade ficou evidente, também, na reação do presidente à notícia de que empresas estrangeiras suspenderam a compra de couro do Brasil por causa da destruição da Amazônia. Bolsonaro negou o fato mais de uma vez. Na última, foi desmentido pelos repórteres que o entrevistavam nessa sexta-feira (30/08/2019).

Para se fazer justiça, deve-se lembrar que a distorção da realidade não é exclusividade de Bolsonaro e seus seguidores. Na campanha de 2014, por exemplo, os militantes do PT desconstruíram a candidatura de Marina Silva, na época filiada ao PSB.

Quem acreditasse em tudo que diziam, teria certeza de que a concorrente socialista era uma representante do sistema financeiro na corrida presidencial. Candidata à reeleição, Dilma Rousseff escondeu os problemas na economia do país, o que contribuiu para o desgaste que enfrentou depois que as urnas foram abertas.

De volta a 2018, vale recordar o atentado contra Bolsonaro praticado pelo pedreiro Adélio Bispo dos Santos. Desde os primeiros dias depois do episódio, o capitão e seus filhos forçaram a barra para tentar vincular Adélio ao PSol, partido ao qual esteve filiado alguns anos antes.

Eles não se satisfizeram nem mesmo depois que a Polícia Federal concluiu as investigações sem achar qualquer pista de participação de terceiros no ato de Juiz de Fora (MG). Continuaram espalhando a informação falsa.

O mesmo raciocínio vale para o outro lado. Adversários de Bolsonaro sustentaram que o atentado não existiu. Teria sido forjado pelo candidato do PSL para alavancar a campanha com a comoção provocada pelo episódio.

Como as duas versões são excludentes, necessariamente, uma delas é mentirosa. Ou as duas, como entende a Polícia Federal.

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