Análise: Bolsonaro canta vitória com 0,6% de aumento do PIB
Presidente comemora resultado como um “sucesso”, mas crescimento da economia brasileira continua no mesmo patamar pífio do governo Temer
atualizado
Compartilhar notícia
O aumento de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre de 2019, comparado aos três meses anteriores, animou o governo. Acima da expectativa do mercado, o índice ajuda o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) a manter um discurso otimista para seus seguidores.
“O Brasil está crescendo”, comemorou o capitão. Na prática, o resultado projeta para 2019 um PIB anual no mesmo patamar do período Michel Temer (MDB), na faixa de 1% em 2017 e em 2018.
Esse feito, convenhamos, é insuficiente para empolgar as multidões. Para caracterizar um aumento expressivo, na verdade, Bolsonaro precisa comparar seu desempenho com a fase final da presidente Dilma Rousseff no Planalto. Em 2015 e 2016, a economia caiu mais de 3% por ano.
Com a economia capenga e a política polarizada, basta agora uma fração decimal no trimestre para alimentar a retórica governista. Na boca do presidente, o índice 0,6% configura “um sucesso”.
Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, (foto em destaque) também contabilizam como boas notícias a inflação baixa e a redução dos juros. Embora tenham reflexos diretos na vida das pessoas e na contabilidade das empresas, esses indicadores se mostram insatisfatórios para atender as necessidades de parte considerável da sociedade.
Nos próximos meses, os brasileiros saberão se o crescimento ainda tênue do PIB se sustentará a ponto de reverter números perversos da economia. O desemprego, por exemplo, cai lentamente e ultrapassa 11% da população ativa.
Ainda mais grave, a extrema pobreza cresceu nos últimos anos e atinge 13,5 milhões de brasileiros. Não se viu, até agora, nenhuma iniciativa relevante do governo para mudar essa realidade.
Mas, na forma que os governistas cantam vitória com os 0,6% do PIB, parece até que o Brasil revive com Bolsonaro o “milagre econômico” do governo do general Emílio Garrastazu Médici – que, a propósito, durou pouco.