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Ana Estela Haddad: “Sou uma companheira militante”

Casada há 30 anos com o presidenciável petista, a professora e odontopediatra afasta a ideia do “primeiro-damismo” na campanha pelo Planalto

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Reprodição/Arquivo pessoal
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1 de 1 WhatsApp-Image-2018-09-15-at-21.09.301 - Foto: Reprodição/Arquivo pessoal

Nesta segunda-feira (17/9), a professora e odontopediatra Ana Estela Haddad completará 30 anos de casamento com o candidato petista à Presidência da República, Fernando Haddad. Em vez de comemorações, será dia de trabalho árduo para o casal, em plena campanha.

Ele tem sabatina marcada em São Paulo e, depois, vai para Curitiba encontrar-se com quem lhe passou a tarefa de ser o candidato do PT na corrida pelo Palácio do Planalto: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ana Estela estará ao seu lado. Longe do estereótipo clássico das primeiras-damas, ela se coloca na campanha como “militante” e “companheira”.

Professora livre-docente da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (Fousp), mesma instituição pela qual se graduou em 1988, ela é mestre e doutora em ciências odontológicas. Ocupa também o cargo de membro permanente e orientadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Odontológicas da Fousp.

Ana Estela Haddad sentiu o impacto de trabalhar no serviço público no início do governo Lula, em 2003. “Mudou minha vida, mudou minha vida acadêmica inclusive. Minha trajetória acadêmica passou a ser influenciada por tudo isso”.

 

Ricardo Stuckert/Divulgação

“Acompanhar a vida política do país, desde então, me faz sentir um impulso de participar deste momento, de não me omitir. Eu e o Fernando temos uma longa história juntos, de muito companheirismo”, disse Ana Estela em conversa com o Metrópoles.

Nascida em São Paulo, ela tem o mesmo sobrenome do marido, Haddad, de sua família, também libanesa. Apesar da coincidência, não tem parentesco direto com Fernando Haddad, por quem se apaixonou aos 14 anos. Ele tinha 17.

Participação política
A desenvoltura e o poder articulador de Ana Estela como primeira-dama da cidade de São Paulo fizeram com que o PT enxergasse nela um grande quadro político. Quando as candidaturas estavam se desenhando neste ano, ela recebeu três convites para disputar eleições.

O setorial de mulheres do Partido dos Trabalhadores queria lançá-la como candidata a deputada estadual. Ela não aceitou a proposta. Depois, deputada federal, convite também recusado. O outro aceno partiu de Luiz Marinho, que disputa atualmente o governo de São Paulo pelo PT. Ele queria Ana Estela como sua vice. “Senti que este momento era muito crítico, muito difícil. Era importante estar ao lado do Fernando”, explicou a esposa do ex-prefeito de São Paulo.

Ao se definir nesta campanha, Ana Estela ainda aponta uma “terceira militância”, de compromisso com mudança no papel que se espera das mulheres. “A gente também precisa se fazer presente no espaço público. Trata-se da figura feminina no espaço público. Nesse sentido, procuro cuidar e me preocupar com a forma que a gente faz isso”, ponderou.

Créditos
Reverenciar a mulher em público tornou-se um hábito nos momentos mais importantes da vida política de Fernando Haddad. Em 2012, quando foi eleito prefeito de São Paulo, em seu primeiro discurso, ele exaltou a parceria da companheira.

Meses antes, ao deixar o Ministério da Educação (MEC) para entrar na corrida municipal, Haddad havia dado a ela todos os créditos pela redação do Programa Universidade para Todos, o Prouni, sua maior vitrine.

No início desta semana, quando foi ungido pelo ex-presidente Lula e recebeu a tarefa de ser o candidato do PT à Presidência da República, Haddad passou à Ana Estela a tarefa de representá-lo em um grande encontro de campanha do PT paulista, com militantes, artistas e intelectuais no teatro Tuca.

Sua fala provocou silêncios e aplausos. Ana Estela foi sensível ao falar do ex-presidente preso, que no ano passado perdeu sua companheira, a ex-primeira-dama Marisa Letícia: “Para todos nós, Lula é tudo. É um líder, é um mito, é uma ideia. É tudo isso e muito mais. Mas por trás disso tudo tem um homem que tem uma família e perdeu sua companheira nesse processo. Tem muitas mãos invisíveis que estão nos ajudando e eu queria pedir que a gente vibrasse por todas elas, junto com o presidente Lula”.

A atuação de Ana Estela em políticas públicas nacionais teve início em 2003, quando desembarcou em Brasília para trabalhar no Ministério da Educação, sob gestão de Cristovam Buarque, hoje no PPS. Chegou à pasta a pedido do marido, que trabalhava no Ministério do Planejamento. Já em 2003, ela apostava no Prouni, ou melhor, em um esboço do programa que inclusive apresentou ao então ministro.

“De fato, apresentei o projeto. Demorei até conseguir apresentar para o ministro porque eu não despachava diretamente com ele e sim com o chefe de gabinete”, disse Ana Estela, referindo-se a Marcelo Aguiar, que ocupava o cargo na época.

De acordo com Aguiar, Buarque gostou da proposta, mas preferiu não implementá-la de imediato. No entanto, pediu estudos de viabilidade. “Ele achou interessante, mas a gente não conseguiu levar em frente. Segui trabalhando com o projeto e interagia um pouco com o Fernando no Ministério do Planejamento, pela experiência que ele tinha nas áreas jurídica e econômica, e a gente foi avançando na proposta”, contou Ana Estela.

No entanto, Cristovam não chegou a receber os resultados da análise. Foi demitido, pelo telefone, no início de 2004, em meio a divergências com o então ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. O gaúcho Tarso Genro assumiu a pasta e logo chamou Haddad para ocupar o segundo posto do ministério. Foi aí que o esposa de Ana Estela chegou à Educação e começou a implementar o projeto que hoje é seu cartão de visita.

“Quando o Tarso assumiu, foi a primeira coisa que a gente apresentou para ele. O projeto estava um pouco mais amadurecido. Aí, em uma semana, ele anunciou”, lembrou Ana. “Ele comprou a ideia, e a partir daí, a gente começou um longo caminho para colocar o Prouni de pé”, detalhou.

De secretário-executivo, em julho de 2005, o Prouni fez de Haddad ministro. A mulher do então titular do MEC partiu para o Ministério da Saúde, onde trabalhou, até 2010, na Diretoria de Gestão da Educação na Saúde da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES).

Ana Estela foi exonerada, a pedido, após reportagens que questionavam suas viagens, com filhos, ao lado do marido ministro, em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB). A prática motivou um processo na Comissão de Ética da Presidência da República. Em 2014, seu marido foi absolvido da acusação.

Cartas
Na primeira agenda de Haddad como candidato, na última quarta-feira (12), ela se emocionou ao falar do Prouni, do modo que foi concebido e apresentado o programa. O casal vê projeto como uma parceria.

Uma das funções de Ana Estela no MEC era ler as cartas que chegavam para o então presidente Lula. Quando se tratava de assuntos educacionais, o Palácio do Planalto enviava as correspondências para serem respondidas pela pasta comandada por Haddad.

Além de estudar as estatísticas que apontavam um baixo percentual de brasileiros no ensino superior, dados fornecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), ela ainda esteve a par da agonia de pessoas que não conseguiam pagar os estudos dos filhos.

Uma das cartas que emocionou Ana Estela era da mãe de um estudante que morreu dois meses depois de ter concluído o ensino superior financiado pelo antigo Fies. Mesmo após a morte do filho, a mulher pagava as prestações do financiamento. “Entendi que este era um desafio que a gente tinha de enfrentar e que é assim que a gente encontra o sentido das coisas”, destacou.

Atuação
Na noite do Tuca, o recado passado pelo marido descrevia a cena que move a campanha. Era uma ocasião tensa, mas Ana Estela chamou as pessoas a imaginarem Lula subindo novamente a rampa do Planalto.

“Queria usar aqui uma imagem. O Fernando tem usado e acho muito significativa. Não sei qual é exatamente o desfecho, mas seja ele qual for, a nossa imagem é a de conduzir o presidente Lula pela rampa do Planalto”, disse Ana Estela aos petistas.

Ela também se revelou uma importante força política na campanha pela prefeitura de São Paulo. Tinha uma agenda paralela aos compromissos do marido, postulante ao posto. Nas ruas, sentiu a diferença entre as duas campanhas: a vitoriosa, de 2012, e a que Haddad perdeu para o tucano João Doria, em 2016.

“Fiz campanha em 2012 e 2016. Foi dificílimo ir para a rua em 2016. A gente se sentia sozinho, abandonado, rejeitado”, revelou Ana Estela para os militantes do PT. Hoje, conforme acredita, o clima de campanha é diferente. “Estou indo agora. Acho que o cenário é outro. Acho que a gente não está sozinho”, observou.

Ciente de sua função na campanha e, sobretudo, da tarefa delegada ao seu marido, Ana Estela deixa de lado a vaidade de se tornar a primeira-dama do país para apontar a gravidade das circunstâncias que a levaram a esta possibilidade.

“É muito sério ter a principal liderança que este país já teve privada de seus direitos políticos e ainda ter o povo, privado de sua soberania, sem poder escolher em quem votar. É muito difícil este momento. Além de estarmos lutando pela democracia, também estamos preocupados com o resultado eleitoral, que pode nos conduzir, ou não, a restabelecer esta democracia”. E enfatiza aos companheiros de sigla: “Gostaria de dizer que estamos juntos”.

Articulação
Seu poder de aglutinar forças também ficou evidente ao coordenar o projeto São Paulo Carinhosa, inspirado no programa Brasil Carinhoso, implementado no governo de Dilma Rousseff. A versão municipal obteve maior reconhecimento do que a nacional. Ana Estela articulou 14 secretarias locais relacionadas à primeira infância e priorizou áreas vulneráveis para melhorar a vida de crianças e de suas famílias.

O programa previa visita aos domicílios por agentes de saúde comunitária, ações na educação e alimentação escolar, redução do teor de açúcar e gordura nas merendas, ampliação do uso de alimentos orgânicos e não processados e utilização de produtos oriundos da agricultura familiar. Outra premissa era o incentivo ao “brincar” na cidade para crianças.

Dinamismo
“Ela não fica só no falar. Ela vai, faz e agita. É superativa. Ela não é dona de casa, disse a publicitária Rejane Laitano, que conviveu com Ana Estela, de forma mais próxima, durante o período no qual morou no DF.

O dinamismo de Ana Estela é unanimidade entre as pessoas que mais conhecem a companheira do postulante ao Executivo nacional pelo PT. “A imagem dela não é daquela mulher que se coloca atrás do marido, mas de uma mulher que se coloca ao lado do marido. Ela fala muito bem, tem conteúdo e sabe o que dizer. A impressão que tenho é de que não só a Ana Estela conta com o Fernando Haddad. Ele também conta muito com ela”, disse a amiga Thassia Alves, jornalista. As duas conviveram em Brasília e São Paulo.

“Em um tempo em que discutimos tanto o papel da mulher, acho que Ana Estela é uma grande referência. Ela encontrou um caminho muito próprio como primeira-dama de São Paulo. Ela não abandonou seu trabalho como professora da USP, e nem deixou de contribuir com a gestão do marido. Além disso, como primeira-dama e à frente de um trabalho importantíssimo com a primeira infância, Ana Estela demonstrou ser uma grande gestora pública”, observou Thassia.

Outra grande amiga é a atriz Débora Duboc. “Ana Estela é uma pessoa muito culta, animada, divertida, acolhedora. Sabe aquela pessoa que você gostaria de levar para uma viagem? Então, ela é esta pessoa”, declarou.

Para Débora, Ana Estela foi “pega pelo destino”. “É uma mulher que nos inspira a resistir, porque seus medos são menores do que o seu sonho de um Brasil livre, potente, justo, com oportunidades para todos e, claro, acolhedor, carinhoso, como ela”, elogiou.

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