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“Alianças levaram país ao fundo do poço”, diz Marina Silva

Presidenciável defende as reformas administrativa e da Previdência, com “reduções necessárias” nos ministérios e fim de privilégios

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Marina SIlva
1 de 1 Marina SIlva - Foto: Michael Melo/Metrópoles

A pré-candidata à Presidência pela Rede, Marina Silva, conseguiu levar nesta quinta-feira (2/8), um partido para seu palanque, o PV, mas ainda está distante de outros candidatos no tempo de TV e recursos para campanha. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ela afirmou que foram justamente essas alianças com outros partidos, sem um olhar “programático”, que levaram o País ao “fundo do poço”.

Questionada se não seria utópico governar sem uma base aliada no Congresso, Marina disse que utópico é achar que essas alianças, como a de Geraldo Alckmin (PSDB) com o Centrão, vão salvar o País. A presidenciável defendeu ainda as reformas administrativa e da Previdência, com “reduções necessárias” nos ministérios e fim de privilégios na aposentadoria, mas não especificou propostas.

Leia abaixo a íntegra da entrevista: 

Por que foi tão difícil conseguir alianças?
Estamos buscando composições que sejam coerentes com um princípio de uma composição democrática e programática. Mas a composição do governo não será apenas com lideranças partidárias Existem muitas pessoas boas na iniciativa privada, nos movimentos sociais, dentro da academia, em muitos setores. No entanto, o foco fica nos partidos. Vamos trabalhar a partir do programa com uma composição diversificada, além dos partidos.

A sra. acha que essa dificuldade de fechar aliança neste momento eleitoral possa comprometer a governabilidade depois?
Fui ministra e consegui dialogar com pessoas dentro do Congresso de diferentes partidos e graças a essa capacidade de diálogo aprovamos todas as leis importantes e necessárias para as grandes questões da agenda ambiental do período que fui ministra Dialogando com pessoas de todos os partidos.

Governar sem uma base consolidada e com apenas dois parlamentares é utópico?
Acho mais utópico achar que esses que já formaram aliança vão resolver os problemas do Brasil. Porque foram exatamente essas alianças que tanto apostam como a solução da lavoura que levaram o Brasil parra o fundo do poço. O que está sendo dito, na verdade, é que ou cada candidato tem um Centrão para chamar de seu ou esse País não tem solução. É preciso que se crie uma descontinuidade produtiva na política brasileira. Quem é que dá tanto poder a alguns atravessadores dos sonhos e dos interesses do Brasil? Está sendo dito que, como nem todo mundo fechou aliança como Alckmin, então esquece, você não tem condição de ser candidato, governar. Estão subtraindo a população brasileira, que está dizendo exatamente o contrário, que não quer mais isso. Será que ninguém está percebendo que quase metade (da população) não quer votar? Será que não quer pelos erros que foram cometidos, alianças que foram feitas? Em 2014, um bloco semelhante foi constituído, ganhou as eleições com todos esses requintes de governabilidade, e levou o País para o fundo do poço.

A sra. concorda com a avaliação do ministro Luiz Fux (TSE) de que Lula é inelegível? Como vê a estratégia do PT de insistir no nome do ex-presidente?
A Lei da Ficha Limpa diz que não pode (a candidatura do ex-presidente) e é isso que eu digo o tempo todo. Não se pode ter dois pesos e duas medidas. A lei já foi aplicada para outras circunstâncias, e não é em função da popularidade, tem de ser em função da legalidade. A gente fala de estabilidade jurídica para tanta coisa. É preciso que essa estabilidade também se coloque no processo eleitoral. Num País com a crise que estamos vivendo é fundamental que o processo político não fique sendo o tempo todo interditado porque esquecemos que a lei deve obedecer o princípio da legalidade e não ficar sujeita à personalidade que está sendo julgada.

A lei hoje está sendo aplicada com dois pesos e duas medidas?
Os que não têm foro privilegiado estão pagando por seus erros. Os que têm foro estão impunes, escondidos dentro dos cargos públicos. Não tem um peso e uma medida. Por isso que a prisão em segunda instância deve ser combinada ao fim do foro privilegiado

A sua visão do agronegócio mudou desde que era militante ambientalista até hoje?
Não mudou, sempre defendi que a economia e a ecologia não são antagônicas. Sempre defendi que o agronegócio brasileiro é importante, estratégico para a geração de novos empregos. Sempre defendi que nossa balança comercial pode ser próspera, ter grande produtividade sem precisar destruir floresta, nascentes, acabar com as bases do seu próprio desenvolvimento.

Sobre a reforma da Previdência, quais termos a sra. Defende?
Temos de ter, sim, uma reforma da Previdência, mas queremos fazer o debate, ouvir a sociedade e especialistas.

No período eleitoral já não devia ser apresentada uma proposta mais concreta?
Será que você vai mesmo resolver durante a eleição uma proposta de começo, meio, fim? Você coloca com transparência quais são as diretrizes e a partir delas o povo vai saber que caminho vai tomar na hora da efetivação.

O economista Eduardo Giannetti disse que “temos uma aberração na Previdência, que o corporativismo está asfixiando o Brasil”. Qual sua avaliação?
Existem muitas distorções no setor público e privado. Quando você pensa no setor privado e vai para o público, há distorções enormes e obviamente que elas precisam ser corrigidas. Mas é bom que o Giannetti falou isso no contexto da Previdência, mas combate os privilégios em todos os níveis. Fala também dos privilégios das isenções fiscais, do Refis, que acabam criando problemas igualmente graves para os cofres públicos. Quando você isola apenas um setor, aparece que os demais podem continuar imunes e impunes a qualquer tipo de correção e crítica. O nosso olhar é para que se tenha uma ação criteriosa no combate aos privilégios, não somente usando alguns como bode expiatório. É preciso, sim, combater privilégios dentro da reforma da Previdência, debatendo de forma transparente.

Como fundadora da CUT no Acre, o que acha do fim do imposto sindical?
O que eu acho é que se fez uma mudança em um ponto no sistema sindical, retirando a obrigatoriedade, mas não se cuidou para ver como daqui para frente os sindicatos não serão completamente fragilizados. Modernizou, mas deixou no vácuo como pode ser efetivo daqui para frente.

A sra. pretende fazer uma reforma administrativa?
Estamos apostando muito na avaliação de desempenho. E falo isso com muita tranquilidade porque, quando fui ministra, iniciamos a avaliação de desempenho de determinados projetos que muitas vezes são gerenciados por pessoas normais. Tem de ter, sim, um olhar para a gestão pública, no quesito não permitir que a máquina seja tão inchada no fisiologismo. Mas não é uma brincadeira de mamãe mandou dizer que eu corte aqui, você tem que ter um olhar sobre o conjunto.

A sra. pretende cortar ministérios?
Pretendo fazer redução necessária para o tamanho necessário do Estado com eficiência.

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