Aliados de Bolsonaro embarcam na onda e aderem ao Twitter
Além do presidente eleito, microblog caiu nas graças da próxima cúpula da União. Do vice ao futuro chanceler, veja quem anda usando a rede
atualizado
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Integrantes do governo de transição de Jair Bolsonaro escolheram o Twitter como canal de comunicação prioritário. O modelo de fazer anúncios e medidas gerenciais é adotado há um bom tempo pelo presidente norte-americano Donald Trump e, no Brasil, ganhou novos adeptos entre os indicados pelo militar da reserva. A lista vai desde o vice-presidente, o general Hamilton Mourão, até o novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A popularidade desses integrantes está em alta no microblog norte-americano criado há 12 anos.
O presidente eleito participa da rede social desde 2010 e lidera, com folga, o número de seguidores entre os integrantes do futuro governo federal. São 2,49 milhões de perfis recebendo as mensagens de Bolsonaro. E ele faz uso frequente da rede social.
Foi por meio do Twitter que o peesselista anunciou os nomes para ocupar os ministérios da Educação, Saúde, Relações Exteriores, Defesa, Ciência e Tecnologia, Agricultura, Justiça e Segurança Pública, e também a Controladoria-Geral da União e a Advocacia-Geral da União.
Em seguida, no quesito popularidade, vêm o ministro extraordinário da transição, Onyx Lorenzoni, e o vice-presidente, general Mourão, ambos na casa dos 100 mil seguidores. Mourão, que criou o perfil em novembro e publicou 66 mensagens até a sexta-feira (23/11) segue uma única conta: a de Bolsonaro.
No Twitter, o general dá detalhes de sua agenda, procurando reforçar, impor e cravar posição no governo. Onyx, por sua vez, não tem uma atividade intensa na plataforma, se concentrando em mensagens de “bom dia” e “boa semana” aos seguidores.
O presidente Michel Temer e seus comandados também participam do Twitter. Mas o atual chefe do Planalto tem 998 mil seguidores, menos da metade de Bolsonaro. Outros membros do governo Temer têm perfis menos populares que os futuros ocupantes da Esplanada.
O ministro das Cidades, Alexandre Baldy, é acompanhado por 4.619 usuários. Titular da Saúde, Ricardo Barros é seguido por 5.757 perfis. Já as mensagens do ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, alcançam 7.877 pessoas. Para efeito de comparação, o ministro das Relações Exteriores de Bolsonaro, Ernesto Araújo, entrou para a rede social em novembro e tem mais de 79 mil seguidores.
Perfis falsos e sátiras
Na contramão da informação ágil e direta, há também contas falsas que se passam por membros do futuro governo ou simplesmente criadas para satirizar ou tratar com humor determinado aliado de Bolsonaro. O economista Paulo Guedes, por exemplo, aparece em diferentes perfis: @Spock_98 – o mais popular, com 12,5 mil seguidores –, @PauloGu13114679 , @Direitalivrebr @GuedesDemitido são alguns deles. Este último, inclusive, não tem a intenção de dizer que é original, e sim uma “conta paródia monitorando quanto tempo dura esse casamento [entre Bolsonaro e Guedes]”.
Braço direito do presidente eleito e indicado ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno disse ao Metrópoles que não possui conta. “Não confirmo esse perfil. Faz anos que não uso o Twitter”. O perfil @GeneralAugustoH, acompanhado por 23,1 mil seguidores, tem publicado informações como se fosse a conta do general, mas ele nega.
O vice, general Hamilton Mourão, também tem perfis falsos e humorísticos, além da conta verificada.
A tropa do capitão
Caneladas e atritos
Ativo nas redes sociais, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) controlou as atividades do pai no Twitter durante toda a campanha presidencial. Na semana passada, ele anunciou que retomará os trabalhos na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e que, desde 21 de novembro, deixou de publicar informações no perfil de Bolsonaro.
Grande parte da imprensa não passa de um monte lixo manipulador!
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) November 22, 2018
Pela mesma rede social, Carlos afirmou que não assumirá nenhum ministério ou secretaria. “Sigo meu trabalho sem problema algum no Rio. O resto das especulações é desconhecimento ou mau-caratismo mesmo”, escreveu. O nome dele foi cotado para assumir a Secretaria Especial de Comunicação do Governo Federal.
Durante a campanha presidencial, Bolsonaro trocou farpas e ofensas com o candidato petista Fernando Haddad via Twitter. A plataforma serviu para mensagens questionando ações e informações um do outro. Passada as eleições, os ânimos acalmaram entre adversários. Até quando, não se sabe.
Avanço necessário
Mestre em administração pela Universidade de Brasília (UnB), especialista em política e diretor da Strattegia Consultoria, Alexandre Bandeira acredita ser positiva a forma de comunicação dos membros do novo governo, mas considera necessário avançar no diálogo com os seguidores.
“O que o povo vai querer ver é feedback [retorno], até para retroalimentar esses eleitores militantes. São pessoas que, independentemente dos erros e acertos, vão estar sempre com o governo. Essa interação eles também vão precisar fazer quando começarem a discutir projetos que possam desagradar parte dos eleitores por atingir diretamente interesses pessoais ou de um setor”, afirma.
É um canal de informação que tem a cara desse governo e promove um contato imediato. Mas talvez eles precisem mudar a performance em relação a ter um número maior de informações. Colocam a notícia, mas não debatem a informação. Talvez essa instrumentação venha com o novo governo e a contratação de empresas e profissionais para cuidar disso
Alexandre Bandeira, especialista em política
Diretor da AP/Exata com pós-doutorado em comunicação, Sergio Denicoli explica que o Twitter é uma ferramenta onde tendências são ditadas por reunir formadores de opinião. De lá, os comentários são replicados em outras redes, como o Facebook.
“É uma rede importante para emitir dados para a imprensa sem que haja questionamentos. O Bolsonaro opta pelas transmissões no Facebook quando quer se comunicar diretamente com a população, mas, quando deseja difundir informação para a imprensa, usa o Twitter”, observa Denicoli.
Segundo o especialista, o presidente eleito opta pelo Twitter pelo fato de a ferramenta permitir espalhar informação sem muitos detalhes e sem a necessidade de responder perguntas, muitas vezes inconvenientes.
“O risco maior é que essas mensagens sejam interpretadas de forma equivocada. Isso não me parece problema para a equipe dele ou a de Trump, que depois acabam culpando a imprensa caso algo saia da linha prevista”, acrescenta.