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Aécio recebeu R$ 100 milhões do frigorífico JBS, dizem delatores

Segundo delações, R$ 40 milhões foram destinados para compra de apoio político e o restante destinado à campanha do senador afastado

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Eleição dos membros da Comissão Especial que analisará processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.  Brasília – DF 25/04/2016
1 de 1 Eleição dos membros da Comissão Especial que analisará processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Brasília – DF 25/04/2016 - Foto: aniel Ferreira/Metrópoles

Os delatores da JBS confessaram ter aberto um caixa de R$ 40 milhões para a compra de apoio político à campanha do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) à presidência da República, em 2014, a pedido do tucano. Os valores teriam sido pagos por meio de doações oficiais — classificadas, mesmo assim, como “propinas”, pelos executivos do grupo — e de notas fiscais frias de empresas indicadas pelos dirigentes partidários, segundo a delação. Outros R$ 60 milhões teriam sido destinados somente à campanha individual do senador afastado.

Repasses a todos os partidos da coligação do tucano — PTB, Solidariedade, DEM, PTN, PSL, PTC, PSDC , PMN, PT do B, PEN — são citados nas delações da JBS. O dono do grupo, Joesley Batista, teria autorizado os pagamentos — em acerto com o tucano —, que teriam sido operacionalizados pelo diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud.

Somente para Aécio teriam sido destinados R$ 11 milhões (nas primeiras tratativas). Posteriormente, os valores chegaram a R$ 60 milhões, de acordo com os delatores.

A maior quantia do “caixa de propinas” supostamente acertado entre a empresa do setor agropecuário e o então candidato foi para o PTB. Segundo o delator Ricardo Saud, foram R$ 20 milhões pagos por meio de caixa dois, em espécie, e doações oficiais aos diretórios da legenda. “Isso tudo antes da eleição. Porque eles [dirigentes do PTB] falaram que só dariam apoio ao Aécio se pagassem antes da eleição”.

“Foram R$ 2 milhões entregues em espécie na casa do senhor Luiz Rondon, tesoureiro nacional do PTB. Além disso, alguns depósitos feitos, por indicação do Luiz Rondon, em algumas contas. Estão anotadas as três contas específicas”, alegou.

O acordo de delação da JBS ainda menciona R$ 5 milhões ao diretório estadual do PTB da Bahia, R$ 4 milhões ao do Rio de Janeiro, R$ 3 milhões ao de Santa Catarina, R$ 1,5 milhão para o do Rio Grande do Sul, R$ 3,4 milhões ao Mato Grosso.

Outro partido que teria ficado com a maior parte das propinas acertadas entre Aécio e a JBS, de acordo com os delatores, foi o Solidariedade. Dos R$ 15 milhões direcionados à sigla, R$ 11 milhões foram doados oficialmente ao diretório nacional, segundo os executivos. Ricardo Saud, da J&F, ponderou que o Solidariedade, naturalmente, seria uma das legendas que apoiariam Aécio, mas, mesmo assim, foi acertada a “ajuda”.

Os outros R$ 4 milhões foram viabilizados por meio de notas fiscais frias a empresas indicadas por Paulinho da Força, presidente da legenda, contaram os delatores. Os documentos foram entregues ao MPF.

O delator narrou, inclusive, um conflito entre Aécio e o senador Agripino Maia em torno da campanha do DEM, em 2014. Inicialmente, segundo o executivo, estavam acertados R$ 10 milhões ao partido, mas, após um suposto desentendimento entre o presidenciável e o democrata, o financiamento teria sido interrompido.

“E o Agripino me ligava dia sim, dia não: ‘cara, cadê o dinheiro, já foi autorizado, eu fui o coordenador da campanha’. Aquela coisa toda. Aí eu peguei e falei: ‘Você vai me desculpar, mas não tem nada para o senhor, mandaram cancelar’”.

De acordo com a delação, após uma conversa entre Aécio e Agripino, o caixa do DEM voltou a ser liberado. “Ele conversou, e voltou com 2 milhões. Foi feita a doação e pediu para depositar na conta do DEM”, alegou Saud.

A JBS ainda dá conta de doações oficiais de R$ 150 mil ao PSL, R$ 650 mil ao PTC, R$ 50 mil ao PSDC, R$ 400 mil ao PTN, R$ 500 mil ao PEN, R$ 1 milhão ao PT do B, e R$ 1,3 milhão ao PMN – todas integrantes da coligação Muda Brasil, que lançava Aécio à Presidência.

Os executivos relataram que a única legenda a lançar candidatura independente, em 2014, e que entrou no pacotão apontado pelos delatores é o PSC, que indicou Pastor Everaldo ao Planalto. O diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud, alegou ter tratado do pagamento de R$ 100 mil, por meio de doação oficial, a pedido de Aécio Neves (PSDB-MG), junto a um interposto do partido.

“Como é que o pastor Everaldo era candidato e tá dando R$ 100 mil para o partido? Parece que era pra ter um debate e tal”, relatou. O Pastor Everaldo também é citado pela Odebrecht em uma suposta propina para ajudar Aécio Neves em debate eleitoral televisivo, na corrida presidencial de 2014.

Até mesmo o PMDB, que apoiou Dilma Rousseff, entrou para o pacotão de repasses da JBS para a “compra de apoio político” da candidatura de Aécio Neves, segundo a versão dos delatores. Os executivos dizem ter doado R$ 1,5 milhão para a campanha de Ivo Sartori (PMDB-RS) ao governo estadual do Rio Grande do Sul.

“O Aécio pegou e pediu pra dar R$ 1,5 milhão para o PMDB do Rio Grande do Sul. Lá, o Ivo Sartori era dissidente, porque o PT tinha candidato. Aí, o Aécio deu 1,5 milhão desse dinheiro de propina para o Sartori. E aí fizemos doações oficiais dissimuladas”, relatou.

Defesa
A assessoria de Aécio afirmou que “são falsas as declarações dadas por Joesley Batista e Ricardo Saud”. O tucano se defende dizendo que a dupla atuou em seus depoimentos “como verdadeiros atores na tentativa de construir uma narrativa que sustente a história criminosa que fabricaram para ganhar os benefícios da delação”. Ele também reforça que “jamais recebeu propinas ou defendeu interesses da JBS”.

Já o diretório nacional do PTB afirma que recebeu doações de campanha da JBS nas eleições de 2014. E ressalta que todas elas ocorreram por indicação de Aécio, candidato a presidente da República apoiado pelo partido àquela época. “Reiteramos que as doações recebidas foram realizadas rigorosamente dentro das normas legais e devidamente declaradas à Justiça Eleitoral.”

O PTB afirma também que “jamais teve qualquer relação com a JBS nem com qualquer membro da empresa – seja pessoa física, seja pessoa jurídica”. A sigla acrescenta ainda que não tem compromisso em ajudar a empresa.

Já o senador José Agripino Maia, presidente do DEM, afirmou que nunca houve “qualquer entrevero com Aécio Neves” e que apenas ligou para o delator Ricardo Saud porque havia um atraso nas doações oficiais da JBS ao partido.

“A minha ligação foi por conta de a doação ter sido feita no dia 2 de outubro, perto de quando se encerrava o período em que as doações poderiam ser utilizadas e distribuídas aos candidatos. Foi feita pelo retardamento da doação prometida e que não acontecia. Não teve entrevero entre eu e Aécio”, afirmou.

O Solidariedade, por meio de nota, disse que todas as contas eleitorais da sigla foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. “A JBS fez uma doação legal de R$ 11 milhões, que foram distribuídos oficialmente entre diversos candidatos do partido pelo Brasil, portanto, não há irregularidade.”

O PSC, por sua vez, afirmou que “o Grupo JBS não fez nenhuma doação para o Diretório Nacional nem para a campanha presidencial” do partido. Acrescentou que “as campanhas do partido sempre foram modestas e feitas com recursos legais, informados à Justiça Eleitoral por meio das prestações de contas entregues ao TSE”.

Já o presidente do PMN, Antônio Carlos Bosco Massarolo, confirmou, na sexta-feira (26), que o partido recebeu R$ 1,3 milhão, registrado em doações oficiais, da JBS, no entanto, disse desconhecer as tratativas do senador afastado para angariar os recursos. Ele também afirmou que, como encabeçou a chapa eleitoral, o tucano ficou responsável pela arrecadação de campanha.

O PSDC também se manifestou: “Em depoimento prestado pelo executivo da JBS, Valdir Aparecido Boni, à Procuradoria Geral da República em 4 de maio de 2017, o executivo afirma que todas as tratativas pertinentes às irregularidades fiscais que teriam beneficiado a JBS, em Rondônia, foram mantidas exclusivamente com o contador Clodoaldo Andrade, na sede da sua empresa, Rio Madeira Contabilidade Empresarial”.

“Considerando que o senhor Clodoaldo Andrade integra a direção do PSDC do Estado de Rondônia (…) e que no depoimento prestado pelo executivo Valdir Aparecido Boni ele teria conhecido o referido contabilista na sede do PSDC (…) a Comissão Executiva do Diretório Nacional do PSDC, fundamentada em seu compromisso com a transparência e a legalidade, convocou o Presidente Estadual do PSDC em Rondônia, o Eng. Edgard Nilo Tonial e o Contador Clodoaldo Andrade, também integrante da Direção Estadual do PSDC naquele Estado, para comparecerem na sede operacional do partido em São Paulo – SP, e apresentarem a versão dos fatos.

Após a audiência, a Direção Nacional do PSDC deliberará sobre as providências que se mostrarem necessárias, no âmbito partidário”.

A reportagem entrou em contato com o PT do B, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria. O espaço está aberto para manifestação.

Da mesma forma, entrou em contato com o PEN e o PTC, mas não obteve respostas. O espaço está aberto para os duas legendas.

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