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Advogado preso na Lava Jato arrenda as quatro rádios de Paulo Octávio

Willer Tomaz teve trajetória meteórica: de dono de loja de informática em Taguatinga, abriu escritório no Lago e negociava TV no Maranhão

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Valter Zica/OAB-DF
Willer Tomaz Souza advogado brasiliense preso após delação da JBS
1 de 1 Willer Tomaz Souza advogado brasiliense preso após delação da JBS - Foto: Valter Zica/OAB-DF

Personagem brasiliense preso na operação deflagrada pela Polícia Federal nesta última quinta-feira (18/5), o advogado Willer Tomaz de Souza é de origem humilde e alcançou ascensão meteórica em nove anos de advocacia. Para defender os interesses do grupo empresarial JBS, ele teria vendido influência e cobrado R$ 8 milhões em honorários de Joesley e Wesley Batista. Nos depoimentos que serviram de base para a prisão preventiva de Willer, Joesley expõe que o advogado pediu mesada de R$ 50 mil para comprar informações privilegiadas de um procurador integrante da Lava Jato.

Em menos de uma década de atuação nos mais variados ramos do direito, Willer acumulou uma notável carteira de clientes, a maioria deles políticos. Lançou-se também no mundo dos negócios e, recentemente, como empresário de mídia. Ele arrendou quatro rádios que pertencem ao ex-vice-governador do DF Paulo Octávio, de quem se aproximou no último ano.

Além da investida em Brasília, Willer vinha se dedicando também a um projeto para expandir sua atuação no ramo das comunicações no Maranhão. Participava das negociações do Sistema Difusora no Maranhão, que reúne TV e rádio na capital São Luís, além de emissoras pelo interior.

A proeminente carreira do advogado nascido e criado em Taguatinga (DF), no entanto, sofreu um revés na última quinta-feira (18/5), quando ele foi preso em um hotel na orla da capital maranhense. No Inquérito nº 4.489, que reúne a delação dos irmãos Batista, há um anexo robusto detalhando a atuação de Willer no esquema de corrupção revelado por Joesley aos procuradores da Lava Jato.

O relato do dono da JBS ajuda a explicar a anabolizada carreira de Willer no mundo jurídico e empresarial. A partir da delação que abalou a República nas últimas 48 horas, ficou demonstrado que Willer conquistava seus clientes vendendo tráfico de influência.

Começo em Taguatinga
Antes de transitar com desenvoltura nos corredores do poder, Willer tocava um modesto empreendimento em Taguatinga, a Willer Informática, aberta em 1999, na comercial do Setor D Sul da cidade. Mas o negócio acabou quebrando e ele partiu para uma segunda opção. Decidiu estudar direito para se formar advogado.

Enquanto frequentava a faculdade, passou a ter participação em mais duas empresas: a WT Administração de Imóveis, aberta em 2002 na QSF 15 de Taguatinga, e a Canal de Ideias Comunicação, Serviços e Participações Ltda, criada em 2007 no setor Octogonal. Todas as firmas seguem ativas na Receita Federal. Mas a maior aposta de Willer foi o escritório de advocacia que ele montou, a Willer Tomaz Advogados Associados, inaugurado após dois anos de exercício profissional.

Aberto em 2010, o escritório de advocacia nasceu em berço de ouro. A sede funciona em luxuosa casa no Conjunto 4 da QI 1 do Lago Sul. É o mesmo imóvel que abrigou a “República de Ribeirão” – em referência ao ministro da Fazenda do primeiro governo Lula, Antônio Palocci, ex-prefeito do município paulista, hoje preso no âmbito da Lava Jato. Segundo as denúncias do Mensalão, seria ali que integrantes do governo negociavam e confraternizavam com lobistas em festas animadas por garotas de programa.

 

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Fachada do escritório de Willer: mesmo imóvel da República de Ribeirão, no primeiro governo de Lula
Casa na QI 1 do Lago Sul: sede do escritório de Willer em Brasília
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Willer (centro) e outros dois agraciados com medalha de mérito do TJDFT em 2016

Valter Zica/OAB-DF
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Fachada do escritório de Willer: mesmo imóvel da República de Ribeirão, no primeiro governo de Lula

Divulgação
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Casa na QI 1 do Lago Sul: sede do escritório de Willer em Brasília

Giovanna Bembom

 

Além de Brasília, a Willer Tomaz Advogados Associados também mantém outro escritório de alto padrão, na Enseada do Suá, em Vitória (ES). E o seu dono, registro da OAB nas seções DF e Ceará. Colegas do advogado dizem que seu rol de clientes lhe proporciona uma vida de luxo: hoje ele mora com a família em uma confortável casa do Lago Sul e mantém um rancho no Lago Oeste. Willer é rotineiramente visto por Brasília dirigindo carros caríssimos.

Treze profissionais e um estagiário trabalham na Willer Tomaz Advogados Associados. Há dois meses, a advogada Gabriela Benfica foi contratada por Willer para atuar em um processo de improbidade administrativa movido contra o ex-deputado estadual Sérgio Borges (PMDB-ES), atualmente conselheiro do Tribunal de Contas do Espírito Santo. Ela foi apresentada a Willer por Paulo Octávio, a quem Gabriela defende nos processos da Caixa de Pandora, operação na qual o ex-vice-governador responde a 10 ações criminais.

A relação entre Willer e o empresário brasiliense consolidou-se em torno da operação de arrendamento das rádios pertencentes ao ex-vice-governador. Para tocar o negócio, o advogado uniu-se a Anderson Carlos Silva, ex-dirigente da Rádio Clube FM considerado um experiente executivo do meio. Os sócios administram a JK FM, a versão local da rádio paulista Mix FM e duas emissoras AM, sendo uma retransmissora da Rádio Globo e a outra, da própria JK.

Além dos negócios de mídia na capital federal, o advogado estaria participando das transações de venda do Sistema Difusora de Comunicação. Willer seria o intermediador de recursos financeiros para a compra do conglomerado. O acerto envolveria o empresário Edson Lobão Filho, suplente e filho do senador e ex-ministro das Minas e Energias (2008 a 2010) Edson Lobão (PMDB-MA), e o deputado federal Weverton Rocha (PDT-MA). Lobão Filho era o dono do grupo e Weverton, que já foi representado na Justiça Eleitoral por Willer, pretendia assumir as empresas. O negócio não foi concluído por pendências judiciais.

Há rumores de que o governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) também estaria envolvido na aquisição da emissora e que Willer seria seu representante legal em Brasília. O governador nega qualquer relação com o advogado. Outros pontos, porém, aproximam os nomes de Willer e Dino. A mesma operação que prendeu o advogado colocou atrás das grades o procurador da República Ângelo Villela, assessor direto do subprocurador-geral da República Nicolau Dino, irmão de Flávio Dino. Na delação, Joesley Batista diz que Willer pediu “ajuda de custo” de R$ 50 mil mensais para repassar a Ângelo Goulart, em troca de informações privilegiadas de interesse da JBS.

No mesmo depoimento aos procuradores da Lava Jato, o dono da JBS também contou que Willer se cacifava como advogado alegando proximidade com o juiz substituto da 10ª Vara Federal Criminal de Brasília Ricardo Soares Leite, onde tramitam ações referentes à Operação Greenfield. O relato de Joesley e de um de seus assessores mais próximos, o advogado Francisco de Assis e Silva, ainda atinge um outro expoente da advocacia brasiliense, o presidente da OAB-DF, Juliano Costa Couto. Segundo Francisco de Assis, Juliano teria intermediado a indicação de Willer para Joesley em troca de um terço dos honorários acertados por Willer. Costa Couto admite a indicação do colega, mas nega que tenha cometido qualquer irregularidade no episódio.

Em abril de 2016, Willer estava entre os 90 profissionais que receberam a maior distinção concedida pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), a Ordem do Mérito Judiciário. Com oito anos de advocacia na época, o jovem advogado presidia a Comissão de Assuntos Constitucionais da seção DF da Ordem dos Advogados do Brasil. Durante a solenidade, posou sorridente para os fotógrafos com o distintivo do TJDFT no peito estufado, uma honraria pelos serviços prestados à Justiça do DF. Agora investiga-se se, nos bastidores, Willer vendia a seus clientes o prestígio de desfrutar do convívio com empresários, juízes e procuradores.

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