Lula critica atos pró-Bolsonaro: “Se houver golpe, será uma atitude burra”
O ex-presidente falou sobre pandemia, governo Bolsonaro, Sergio Moro, e as recentes discussões sobre um golpe militar
atualizado
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O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) desafiou, em entrevista exclusiva ao Metrópoles, o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro para um debate ao vivo. Segundo o ex-presidente, nessa oportunidade ele iria “desmascarar” o ex-juiz da Lava Jato.
“Eu toparia fazer um debate com o Moro ao vivo. Eu, sozinho, sem nenhum diploma universitário, contra o Moro e o [Deltan] Dallagnol. Se eu pudesse ter um tête-à-tête com eles, ao vivo… É como eu posso me defender”, disse o petista.
Além disso, o ex-presidente disse que não acredita na possibilidade de haver um golpe militar, sob comando do atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido). Para ele, seria uma “burrice” pela falta de clima na sociedade.
“Eu não vejo, a não ser os rompantes do Bolsonaro, clima para você imaginar que as Forças Armadas entrariam em uma aventura e dariam um golpe. A coisa mais fácil seria dar o golpe, mas a coisa mais difícil seria administrar o golpe”, disse.
Nesse sentido, ele avaliou como algo positivo a aliança que o governo vem tentando fazer com parlamentares do Centrão, grupo fisiológico que apoiou os governos petistas, de Michel Temer (MDB) e, atualmente, ensaia aliança com o bolsonarismo.
Veja ao vivo:
“Ou ele [Bolsonaro] cria algum mecanismo dos deputados terem medo dele ou ele vai fazer o que todo mundo tem que fazer: conversar. Qualquer presidente pode conversar com um partido e oferecer cargo. É assim na democracia de todo o planeta terra”, disse.
“O Bolsonaro está sendo vítima da língua despolitizada dele. Ele que falava que ia governar sozinho e está percebendo que ‘rapadura é doce, mas é dura’. Ele pode fazer acordo com os partidos. Necessariamente, não tem que ter corrupção. Ele é mais vítima porque ele falou muita merda. E ele continua falando”, prosseguiu.
Primeiro turno
Na entrevista, Lula afirmou que, caso tivesse concorrido nas eleições de 2018, teria ganhado no primeiro turno.
“Se eu tivesse sido candidato. Se o [ministro do STF Luís Roberto] Barroso não tivesse feito a patacoada de me colocar na Lei da Ficha Limpa, eu obviamente teria ganhado as eleições no primeiro turno”, disse.
Nas últimas eleições, Lula indicou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) como candidato. No segundo turno, Bolsonaro foi eleito com a 57 milhões de votos.
Quem governa
Lula disparou contra Jair Bolsonaro (sem partido) avaliando que não é ele quem realmente governa o país. Na sua avaliação, o atual gestor do Brasil é o ministro da Economia, Paulo Guedes.
“As pessoas precisam entender que o Bolsonaro, nesse governo, é um bobo da corte. O Guedes é que corta salários, corta direitos”, disse Lula.
“Se tem um cara que foi eleito com todo mundo sabendo o que ele era, é o Bolsonaro. Todo mundo sabia que ele era um ogro. O que ele fez e não fez como deputado. Todo mundo sabia que ele não gostava de negro, de LGBT, de sindicato. Dizia que não gostava da política”, prosseguiu.
Anulação do PT
Lula afirmou que não foi procurado para assinar os manifestos contra Jair Bolsonaro e favor da democracia, que contaram com uma série de apoios entre políticos de esquerda e de centro. Segundo ele, o PT é “excluído” desse tipo de iniciativa.
“O que a gente não pode aceitar é a perspectiva de anulação do PT. As pessoas precisam aprender a conviver. O PT continua sendo o maior partido de esquerda da América latina. É o PT, partidos menores e a direita”, afirmou.
Falta de preparação
Lula disse, ainda, que Jair Bolsonaro (sem partido) não se preparou para presidir o país. Para ele, o atual mandatário da República tem dificuldade em montar uma equipe que seja capaz de enfrentar os problemas do Brasil.
“O grande desafio que estamos vivendo é que Bolsonaro não se preparou para governar o Brasil. Ele faz questão de colocar nos lugares errados, pessoas erradas”, avaliou
“Você não coloca na educação alguém que quer desmontar e educação. Os filhos deles se intrometem demais nas decisões. Não tem ministério de indústria e comércio. O que é mais grave é que ele não dá nenhuma importãncia à gravidade do surgimento do vírus [novo coronavírus]”, prosseguiu.
Lula criticou ainda o fato de Bolsonaro não procurar fazer alianças com os governadores, que são os que lidam com os doentes na ponta. “É [importante] se cercar de gente que saiba e que possa orientá-lo. Ele já deveria ter um comitê de governadores”, disse.
Entrevista
O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concede entrevista ao Metrópoles. Em meio à crise do coronavírus, ele aborda temas relacionados à Covid-19, como o impacto na saúde e na economia. Além disso, alude sobre o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), a saída do ex-ministro Sergio Moro e os recentes protestos do movimento negro e a formação de frentes democráticas de oposição também entram na conversa.
Histórico
Apesar da rivalidade com Bolsonaro, quando o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro decidiu abandonar o Executivo e declarar que o presidente tinha a intenção de interferir na Polícia Federal, Lula não fez condenações. Segundo ele, o militar da reserva, como chefe de Estado, tem autonomia.
Em 20 de maio, durante entrevista, Lula voltou aos holofotes quando afirmou que “ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus”. A frase foi alvo de críticas. Na sequência, o petista pediu desculpas pela declaração.
Lula é entrevistado pela repórter Luciana Lima, das seções Brasil e Política, do Metrópoles.