7 de Setembro: em tom mais moderado, Bolsonaro aplica estratégia de 2018
Especialistas avaliam que presidente priorizou, nos discursos deste 7 de setembro, pauta de costumes em busca de potenciais eleitores
atualizado
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Atrás nas pesquisas de intenção de voto, o presidente Jair Bolsonaro (PL) optou por um tom mais moderado durante às comemorações dos 200 anos da Independência do Brasil. O chefe do Executivo realizou discursos em Brasília (DF) e Rio de Janeiro (RJ) e, nas duas oportunidades, focou na agenda de costumes, deixando de lado os ataques a representantes de outros Poderes — como fez em 2021. De acordo especialistas consultados pelo Metrópoles, a estratégia tem como objetivo buscar potenciais votos nas eleições deste ano.
Na capital federal, Bolsonaro disse que a eleição é uma luta do bem contra o mal. “Caso reeleito, trataremos para dentro das quatro linhas [da Constituição] todos aqueles que ousam ficar fora delas”, afirmou. Em uma das falas mais incisivas do presidente no dia, ele insinuou que as histórias ocorridas nos anos de 1922, 1964, 2016 e 2018 podem se repetir em 2022.
Já no Rio, o mandatário da República atacou o ex-presidente Lula – primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto – ao dizer que o “quadrilheiro deve ser extirpado da vida pública. Ele ainda pincelou questões econômicas, ao alegar que os “números” do país invejam o mundo todo, e priorizou a pauta conservadora.
“Bolsonaro repetiu os slogans eleitorais usados em 2018”, afirma João Feres, professor de ciência política do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). “A campanha de Bolsonaro acredita que ele tem que apelar para os eleitores que estão indo para o centro, por isso precisou moderar o discurso”, complementa.
Feres, entretanto, avalia o tom de campanha nos discursos, como crime eleitoral.
“Me chamou atenção a tentativa de Bolsonaro de trazer o debate para a agenda de costumes. Então, veio o pacote completo: ideologia de gênero, legalização das drogas, do aborto. Pautas muito relevantes em 2018 e que foram positivas para ele”, afirma a cientista política Graziella Testa, professora da FGV, em conversa com o Metrópoles.
“Ele sequer falou das urnas, nem citou os nomes dos ministros do STF. Isso pode ser interpretado como uma tentativa de não perder o eleitorado, mas pode haver também um medo de punição. Ele precisa obedecer uma série de regras para não ser punido pelo TSE. Ano passado, o discurso do Bolsonaro foi mais agressivo”, acrescenta a especialista.
No 7 de Setembro de 2021, durante discurso em São Paulo, Bolsonaro xingou o ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes e afirmou que não mais cumpriria decisões do magistrado.
Dois dias depois, o presidente, aconselhado por Michel Temer (MDB), recuou e divulgou carta em que diz não ter tido “intenção de agredir” os poderes.
Graziella avalia que, apesar do discurso mais moderado, Bolsonaro deveria dar destaque a questões econômicas para expandir o eleitorado. Já o professor Eduardo Grin, do Centro de Estudos em Administração Pública e Governo (CEAPG) da FGV, afirma, por sua vez, que o mandatário saiu como uma imagem melhor.
“Bolsonaro caminha sobre uma linha tênue e, por isso, precisa apresentar um discurso mais leve. O presidente não pode atender somente a uma base mais radicalizada, caso contrário, poderia perder o voto do eleitor mais moderado, com tendência a votar no Ciro e na Tebet. Ele não pode, entretanto, ser tão comportado a ponto de parecer que virou um candidato do sistema. Então, ele mantém a perspectiva do discurso golpista, um enfretamento ao Supremo Tribunal Federal, mas sem citar nomes. Ele foi muito habilidoso, deu uma demonstração de força, com as pessoas que ele mobilizou”, diz Grin.
“Bolsonaro não teve nenhuma liturgia em diferenciar o presidente da República com o candidato. Um discurso de quem está se lixando para as instituições, de quem efetivamente está acima da lei pois é presidente. Isso é muito perigoso, pois reforça a visão de uma pessoa que está conduzindo o país e não tem que respeitar lei nenhuma”, acrescenta.