metropoles.com

Votação do pacote anticrime vai testar “bancada do Moro” no Congresso

Projeto do ministro da Justiça vem sendo desidratado na Câmara, mas pode voltar a ganhar força a depender da articulação de seus aliados

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Andre Borges/Especial para o Metrópoles
Sergio Moro
1 de 1 Sergio Moro - Foto: Andre Borges/Especial para o Metrópoles

Quando o pacote anticrime foi enviado ao Congresso, em fevereiro, ninguém questionava o status de superministro do titular da pasta da Justiça, Sergio Moro. Meio ano depois, período no qual o ex-juiz federal viu sua iniciativa ser colocada em segundo plano em troca da Reforma da Previdência e foi fustigado pelas revelações da Vaza Jato, sua força política finalmente deverá ser testada: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), definiu que o plenário da Casa comece a debater o texto nesta semana, para votar na seguinte.

A articulação até aqui não foi positiva para Moro. O ministro até tentou convencer os parlamentares a priorizar seu pacote, mas levou uma bronca pública de Maia, que o chamou de “funcionário de Bolsonaro”, e em seguida viu o Grupo de Trabalho formado na Câmara para analisar o texto desidratar seus pontos principais semana após semana. Ao todo, o projeto perdeu 10 dispositivos, incluindo o chamado excludente de ilicitude para agentes públicos em situação de conflito e a previsão de prisão após condenação em 2ª instância.

A aposta do ministro e de parlamentares ligados a ele é de que o que foi perdido – ou pelo menos a maior parte – pode ser retomado nos plenários da Câmara e do Senado. Será o momento de descobrir o tamanho da “bancada do Moro”.

Para o deputado federal Capitão Augusto (PSL-SP), que passou as últimas semanas defendendo o pacote no Grupo de Trabalho, apesar das derrotas nas votações, há pelo menos 300 deputados (de um total de 513) dispostos a apoiar o projeto do ministro da Justiça. “A Frente Parlamentar da Segurança Pública, que eu presido, tem 305 membros. É uma bancada multipartidária e completamente alinhada com as ideias do Moro”, garante. “Não tenho dúvidas de que vamos reverter as derrotas que tivemos no Grupo de Trabalho.”

Para o opositor ao governo e líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta, porém, a bancada do ex-juiz federal é bem menor: “De 80 a 100 deputados. O pessoal que acha que é bem maior do que isso faz uma aposta, que pode ser sincera, mas é fruto da inexperiência deles na política”, avalia.

O meio do caminho
O número está em algum lugar entre as estimativas dos deputados do PSL e do PT, avalia o cientista político Sérgio Praça, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo. “E diria que está mais perto do que aposta a oposição. O número de 300 deputados é muito alto na situação de um governo que não tem base consolidada no Congresso”, afirma. “Em uma situação normal, os governos brasileiros, tirando o segundo mandato da Dilma [Rousseff, do PT, que começou em 2015 e foi interrompido pelo impeachment em 2016] têm uma base entre 200 e 350 parlamentares e pelo menos uns 70% a 80% deles votam coesos em todos os casos. Com o presidente Jair Bolsonaro, cada votação exige uma articulação, é custoso”, completa.

Praça lembra ainda que não há uma convergência natural entre as vontades do presidente e do ministro da Justiça. “Na verdade, há uma disputa velada entre eles. O Bolsonaro deixou de apoiar o pacote anticrime em detrimento da agenda econômica, então não sabemos o quanto ele vai fazer agora para ajudar o Moro. Além disso, há uma bancada que pode não ser a bancada anti-Moro, mas que se opõe a ele de alguma forma por focar no tema dos direitos humanos. E os recentes assassinatos de crianças no Rio de Janeiro, além de outros casos de violência policial, tiram a força dos argumentos moristas”, analisa o especialista.

Divergências em relação ao papel da polícia começam no próprio presidente da Câmara, que disse e reafirmou que o excludente de ilicitude – ponto do pacote que é mais caro ao presidente Bolsonaro – não é bem visto pela maioria dos deputados.

De acordo com um cacique do PSL ouvido pela reportagem, porém, a segunda maior bancada da Câmara (o partido do presidente tem 54 deputados, um a menos que o PT) está mais fechada com Sergio Moro do que com Bolsonaro. “É 70% com Moro e 30% com Bolsonaro”, diz.

Dependendo do que acontecer nas próximas semanas, portanto, a base do governo corre o risco de ficar ainda mais instável.

O caminho do meio
E caso as divergências cheguem ao ponto de impossibilitar e manutenção da atual bancada do partido do presidente, não vão faltar legendas buscando os descontentes, a exemplo do que ocorreu com Alexandre Frota (deputado federal por São Paulo), que foi cortejado por vários partidos após ser expulso do PSL e acabou fechando com o PSDB.

A sigla que está buscando novos parlamentares mais abertamente é o Podemos. O líder do partido na Câmara, José Nelto (GO), disse ao jornal O Globo que espera ver a bancada dobrar na próxima janela partidária, chegando a 20 parlamentares.

O partido do senador e ex-candidato à presidência Álvaro Dias (PR) tenta crescer em cima da ideia de que o grupo mais próximo ao presidente Bolsonaro está se afastando da bandeira da luta contra a corrupção, da Lava Jato e, por consequência, de Moro.

No Senado, o Podemos iniciou a legislatura com cinco representantes e, com movimentos agressivos, chegou a 11, a segunda maior bancada da Casa. A última “aquisição” veio justamente do PSL, a juíza Selma Arruda (MT), que saiu do partido de Bolsonaro justamente reclamando da mudança de postura dos ex-colegas.

De acordo com um dos senadores do Podemos, o plano do partido é disputar a hegemonia com o MDB, historicamente a maior bancada da Casa. Hoje, o “placar” está em 13 senadores contra 11.

Se consolidar o fortalecimento da bancadas no Congresso, o Podemos sonha em atrair o próprio Sergio Moro – que hoje não é filiado a nenhuma sigla – para suas fileiras.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?