Militantes de Bolsonaro “bombam” candidato com 45 apps de celular
Apoiadores criam jogos não oficiais com ataques contra Lula, Dilma, Jean Wyllys e Maria do Rosário, alvos de brigas do capitão reformado
atualizado
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O Brasil conta hoje com 116 milhões de usuários de internet. Destes, 49% acessam a rede apenas por meio de celulares. Os 147 milhões de eleitores cadastrados na Justiça Eleitoral devem, portanto, buscar informações sobre as Eleições 2018 com a palma das mãos. Todas as siglas e pré-candidatos à presidência da República estão conectadas nas redes sociais, promovendo um contato direto com os usuários. Mas quando o assunto são aplicativos pensados no eleitor, porém, a conexão – quase sempre – é perdida. Apenas o tucano Geraldo Alckmin tem um dispositivo oficial da sua campanha.
Líder nas pesquisas de intenção de votos sem a presença do ex-presidente Lula, Jair Bolsonaro (PSL) tem o maior número de aplicativos com seu nome. São 45 na busca do Google Play Store. A maioria são jogos dedicados ao militar reformado do Exército Brasileiro. Há também criações tecnológicas que exploram frases, memes e divulgação de notícias.
Logo atrás vem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 13 menções. O petista tem softwares com frases, áudios e também jogos contrários a ele na loja de apps. Ciro Gomes (PDT) tem duas aparições. Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) entram com uma resposta cada um na busca virtual.
Manoela D’ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSol), João Amoêdo (Novo), Vera Lúcia (PSTU), Álvaro Dias (Podemos), Guilherme Afif Domingos (PSD), Levy Fidelix (PRTB) e Eymael (DC) não possuem aplicativos vinculados a eles.
Muitos dos jogos dedicados ao militar reformado fazem uso da violência, inclusive para atacar outros políticos, entre eles os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff (PT) e os deputados federais Jean Wyllys (PSol) e Maria do Rosário. Todos envolvidos em discussões e polêmicas com o pré-candidato do PSL.
Conheça um pouco dos apps sobre políticos
Volume de downloads
Dos softwares avaliados pela reportagem sobre os temas “política e eleições” e consultados no site da Play Store, o de maior número de instalações é o e-Título, criado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele permite a obtenção da via digital do documento de eleitor e foi baixado por mais de 5 milhões de usuários.
O TSE também lançou um sistema oficial para acompanhar o resultado das eleições de outubro. Até o momento, mais de um milhão de pessoas se interessaram e instalaram o programa. E não pára por aí. O Tribunal é familiarizado com a tecnologia e a prova disso são as outras opções para download, como o Pardal – Denúncias Eleitorais; JE Processos; Eleições 2016; Onde vou votar ou justificar e Boletim na mão.
Fora do âmbito governamental e dos políticos, o Detector de Ficha de Político, que um dia foi chamado de Detector de Corrupção, contém informações sobre processos dos candidatos. Até o momento, foi baixado por mais de 500 mil usuários cadastrados.
A ferramenta nasceu a partir do Instituto Reclame Aqui, braço do site brasileiro de reclamações contra empresas sobre atendimento, compra, venda, produtos e serviços. O serviço gratuito serve tanto para os consumidores postarem suas reclamações como para as empresas responderem a elas.
O aplicativo também amplia a base de dados do Vigie Aqui, consolidando informações oficiais e públicas sobre o histórico judicial de políticos que estão pulverizadas em diversas instâncias, tribunais superiores, federais e estaduais.
Desinteresse coletivo
Mestre em administração pela UnB, especialista em política e diretor da Strattegia Consultoria, Alexandre Bandeira enumera uma lista de fatores que levam o usuário a pensar duas vezes antes de consumir o seu pacote de dados com temas relacionados a partidos, eleições, política e pré-candidatos.
O desinteresse vai desde a falta de robustez dos aparelhos até a capacidade de acesso à internet no país, passando pela usabilidade e navegabilidade dos aplicativos, além da temática em baixa no país. “Quando é uma plataforma de controle social sobre políticos com problemas na justiça até gera uma mobilização, uma utilização cidadã. Mas quando partimos para algo sobre os candidatos, no fundo, eles são objeto de propaganda política e quase sempre têm uma construção e usabilidade ruins”, destaca.
Os aplicativos se tornaram pesados e as campanhas estão sem dinheiro. Além disso, o acesso à internet no Brasil é segregacionista e a população está descrente dos políticos. Não vai ficar gastando pacote de dados com isso. Nessa campanha, os apps vão ficar em segundo plano e não serão relevantes
Alexandre Bandeira, mestre em administração pela UnB, especialista em política e diretor da Strattegia Consultoria
Diretor da Petrim Tecnologia – empresa especializada em desenvolvimento de software e aplicativos móveis –, Bruno Rocha indica que o tema, por si só, não gera interesse suficiente dos usuários. “Sem uma utilidade aparente ou sendo apenas mais um mecanismo de notícias, só que direcionado, talvez não tenha um apelo. Para Bruno, um app interessante incluiria “funcionalidades que seguram usuários antigos e e atrai novos”.
Segundo o especialista, com baixo investimento fica impossível criar apps visando “especificamente os diferentes tipos de usuários e as limitações que seus aparelhos possuem”. Ainda na visão de Bruno Rocha, nesse sentido, o pré-candidato Jair Bolsonaro, com reduzido tempo de TV e apoiado por uma forte militância, recorre e é beneficiado por uma “quantidade maior de mecanismos alternativos de disseminação de notícias.”
Apps genéricos, com usabilidade ruins são a consequência da falta de interesse das legendas e não a causa do baixo número de downloads
Bruno Rocha, diretor da Petrim Tecnologia
O outro lado
A reportagem procurou a assessoria de comunicação de todos os presidenciáveis que possuem aplicativos sobre eles ou dos partidos para comentar o assunto. Até fechamento desta edição, apenas Ciro Gomes respondeu aos questionamentos da reportagem.
A equipe do presidenciável do PDT justificou a opção de não criar um software: “A ideia foi focar na criação de um site totalmente pensado no mobile, no uso do celular, onde é possível encontrar as informações sobre o candidato de forma prática, rápida e leve, sem precisar fazer download de um app”. Sobre os programas relacionados ao pré-candidato criados por terceiros, o PDT acredita que o partido tem uma “militância apaixonada”.
O TSE disse que o saldo do aplicativo e-Título é positivo e que o mesmo tem facilitado a vida dos eleitores no atendimento, evitando filas nos cartórios. Elaborado pelos próprios servidores, o app levou três meses para ser feito e não teve custos operacionais além do tempo de trabalho dos funcionários envolvidos.
Sobre dispositivos que eventualmente façam discurso de violência e ódio, o Tribunal necessita ser provocado para investigar quando alguém se sente ofendido, fazendo valer a Resolução 23551/2017.
O Metrópoles procurou desenvolvedores dos jogos criados por apoiadores de Bolsonaro, mas não obteve resposta.