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Sem conclusão, investigações policiais confundem a política brasileira

Casos de grande repercussão são explorados por governistas e oposicionistas e, por falta de elucidação, dividem e desorientam a população

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1 de 1 mariele - Foto: Arte/Metropoles

Nos últimos anos, a política do país passou por um turbilhão de mudanças que abalaram governos e assombraram a população. Parte dessas turbulências está relacionada a crimes que tiveram implicação eleitoral e criminal, como os fatos tratados pela Operação Lava Jato. Alguns casos de grande repercussão, no entanto, permanecem sem solução e confundem os brasileiros.

Por falta de conclusão das investigações, esses episódios permitem a propagação de versões produzidas segundo as preferências políticas dos autores. As especulações embaralham fragmentos da realidade e desorientam a população.

Encontram-se nessa situação, por exemplo, o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, as atividades do ex-policial Fabrício Queiroz e, mais recentemente, os diálogos sobre a Lava Jato publicados pelo site The Intercept. Sem esclarecimentos oficiais, esses casos seguem envoltos em mistérios que intrigam a sociedade.

Outro subproduto da falta de conclusão das investigações é a impunidade de infratores. A situação levou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello a sugerir, na sessão plenária de quarta-feira (26/06/2019), uma interferência da Justiça na elucidação do crime.

Nesse ponto, o magistrado se mostra apreensivo com as apurações sobre a prisão na Espanha do sargento Manoel Silva Rodrigues, da Força Aérea Brasileira (FAB), com 39 quilos de cocaína. “A minha preocupação é que se construam santuários de proteção de criminosos comuns com relação a certos espaços institucionais reservados a determinadas autoridades com prerrogativa de foro”, disse Mello.

A intervenção do ministro se deve ao fato de que, mesmo sendo um crime comum, por se tratar de um integrante da FAB, a investigação no Brasil é feita pela instituição. O inquérito tem duração de 40 dias, prorrogáveis por mais 20 e, depois de concluído, é encaminhado ao Ministério Público Militar. Pelo histórico dos casos anteriores que tiveram grande repercussão política, deve-se aguardar com ceticismo o desenrolar das investigações.

Confira abaixo cinco casos ainda sem elucidação que acirram as discussões e atrapalham a compreensão política dos brasileiros.

 

O assassinato de Marielle Franco

Renan Olaz/CMRJ
Marielle Franco, vereadora carioca, assassinada em março de 2018

A execução a tiros, no dia 14 de março de 2018, da vereadora carioca Marielle Franco (PSol) chocou o país e teve grande repercussão no exterior. Negra e lésbica, ela simbolizava minorias e enfrentava o poder das milícias na cidade. O assassinato ocorreu dentro do carro em movimento e, com ela, morreu o motorista Anderson Gomes.

Desde o primeiro dia, o caso foi distorcido por fake news. Por ser representante de um partido de esquerda, Marielle teve a memória atacada por segmentos do campo da direita. A vereadora foi acusada de ser casada com um traficante e de ter o apoio eleitoral da organização criminosa Comando Vermelho. Tudo mentira.

O crime foi cometido durante a intervenção militar no estado e, embora as investigações tenham apontado suspeitos, permanece sem conclusão. Apontados como autores em delação premiada, um vereador e um miliciano preso negam a participação.

Na campanha eleitoral do ano passado, esse episódio virou mote para a polarização entre os seguidores do então candidato Jair Bolsonaro (PSL) e representantes da esquerda, defensores da vereadora.

No último movimento, a Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro prenderam o PM reformado Ronnie Lessa como responsável pelos disparos, mas não indicaram os nomes de possíveis mandantes. O fato de o acusado morar no mesmo condomínio que Bolsonaro deu mais argumentos para a politização.

Quinze meses depois do crime, Marielle se transformou em um símbolo das reivindicações das minorias e recebe homenagens dentro e fora do país. Pelo grau de irritação que seu nome ainda provoca nos adversários, pode-se concluir que a repercussão do assassinato incomoda segmentos da direita.

Ainda hoje, diariamente, internautas postam questões como “quem matou Marielle?” e “quem mandou matar Marielle?”. As perguntas continuam valendo.

 

Os rolos de Fabrício Queiroz

 

Reprodução/TV SBT
Fabrício Queiroz é ex-assessor de Flávio Bolsonaro e amigo íntimo da família

 

As denúncias contra o ex-policial militar Fabrício Queiroz se tornaram públicas no fim de 2018, quando foi divulgado um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com movimentações atípicas em suas contas correntes.

Ex-funcionário do gabinete do então deputado estadual, hoje senador, Flávio Bolsonaro (PSL), Queiroz é amigo da família do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). As investigações revelaram um submundo de operações suspeitas, com circulação de dinheiro dos outros funcionários da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj).

Entre as transações descobertas pelo Coaf, estão depósitos feitos por Queiroz, no valor total de R$ 24 mil, na conta da atual primeira-dama do país, Michelle Bolsonaro. O presidente disse que o dinheiro se refere a parte do pagamento de um empréstimo de R$ 40 mil feito por ele ao ex-assessor.

A Polícia Civil e o Ministério Público ainda descobriram que parentes de milicianos também trabalhavam no gabinete de Flávio, aparentemente apadrinhados por Queiroz. Foram descobertas, ainda, contratações de servidores fantasmas. As investigações avançaram também par ao crescimento patrimonial do senador. Ele nega qualquer irregularidade.

Desde o início das investigações, Queiroz apareceu poucas vezes em público. Em janeiro deste ano, segundo informou, fez uma cirurgia no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Depois, sumiu sem dar explicações para as suspeitas que recaem sobre ele.

Por causa do sumiço, os adversários políticos da família Bolsonaro, diariamente, postam uma pergunta nas redes sociais: “Onde está Queiroz?”

 

Os disparos de WhatsApp

Reprodução
Serviço de mensagens mudou sistema de envio

Uma das denúncias mais rumorosas feitas durante a campanha eleitoral do ano passado foi a publicação, pela Folha de S. Paulo, de uma reportagem sobre o uso do aplicativo WhatsApp para disparos em massa de mensagens favoráveis ao então candidato Jair Bolsonaro (PSL).

Uma semana depois, o jornal publicou outra reportagem com a informação de que o então candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, também utilizara serviços semelhantes. O petista recebeu uma multa por causa dessa prática.

Segundo o jornal divulgou no dia 18 de outubro de 2018, essas ações eram pagas por empresários apoiadores do presidenciável, o que é proibido pela legislação eleitoral. Bolsonaro nega a ação irregular.

Outra reportagem da Folha de S. Paulo, publicada no dia 18 de junho deste ano, afirma que empresários espanhóis foram contratados para a prática de disseminação de mensagens para a candidatura de Bolsonaro. Mais uma vez, os responsáveis pela campanha do presidente negaram a contratação dos disparos de Twitter.

 

As conversas da Lava Jato

José Cruz/Agência Brasil
Sergio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, personagem de conversas divulgadas pelo The Intercept

Há três semanas, no dia 9 de junho, o site The Intercept divulgou diálogos registrados no aplicativo Telegram atribuídos ao então juiz Sergio Moro (hoje ministro da Justiça e Segurança Pública) e a procuradores integrantes da Operação Lava Jato. As conversas mostram trocas de informações entre eles e dão margem à interpretação de que Moro aconselhou o Ministério Público nas acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O site divulgou outras mensagens de conteúdo parecido nas três semanas seguintes. O ministro nega ter adotado comportamento parcial nas investigações. Embora não desminta os diálogos, afirma que o material publicado pelo The Intercept pode ter sido distorcido ou manipulado.

Diz, também, que o material foi obtido criminosamente por hackers. Até sexta-feira (28/06/2019), as investigações não haviam confirmado a ação de invasores nos telefones dos autores dos diálogos.

Em mensagens divulgadas pelo Twitter e em depoimento na Câmara, o fundador do site, Glenn Greenwald, afirmou que tem material inédito que ainda está sendo processado antes da divulgação. As publicações do site levaram o STF a discutir a possibilidade de libertar Lula, preso em Curitiba desde abril de 2018. O caso será tratado de novo no segundo semestre.

Até lá, os brasileiros ficarão sem saber se a conduta de Moro se enquadra nas prerrogativas da magistratura.

As laranjas do ministro do Turismo

Valter Campanato/Agência Brasil
O ministro Marcelo Álvaro Antônio está sendo investigado por envolvimento com candidaturas laranjas do PSL, partido do presidente

A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (27/06/2019) um assessor e dois ex-assessores do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. Eles são acusados de envolvimento com candidaturas laranjas do PSL nas eleições do ano passado.

Por causa das prisões, o presidente Jair Bolsonaro deu a entender nesta sexta-feira que pode demitir o auxiliar ao dizer, em Tokyo – onde participava da reunião do G20 – que Antônio está garantido no cargo até essa segunda-feira (01/06/2019).

A permanência do ministro na Esplanada está ameaçada desde fevereiro, quando a Folha de S. Paulo começou a publicar denúncias sobre o uso de laranjas pelo PSL. Ex-candidatas do partido deram depoimentos com acusações diretas contra o ministro.

Pela gravidade das denúncias, causa estranheza que Antônio ainda seja ministro. Mais ainda por se tratar de um governo que tem como uma das bandeiras o combate à corrupção. Pelo que disse Bolsonaro, talvez essa situação se resolva assim que ele voltar ao Brasil.

 

A facada em Bolsonaro

Reprodução

O fato mais grave da eleição de 2018 foi o atentado a faca praticado pelo servente de pedreiro Adélio Bispo de Oliveira, em Juiz de Fora (MG), contra o então candidato Jair Bolsonaro. O autor do crime foi preso na mesma hora.

Bolsonaro passou por cirurgias no abdômen, explorou o ataque de Adélio na campanha e venceu a eleição. As investigações apontaram que o autor tem problemas mentais e, por isso, deve cumprir pena em um hospital psiquiátrico.

Diferentemente dos episódios anteriores, as investigações da Polícia Federal sobre o atentado contra Bolsonaro foram concluídas e indicaram o ex-servente de pedreiro como único envolvido no crime. O resultado das apurações, no entanto, não é aceito pelo presidente, que insiste em dizer que suspeita da existência de mandantes.

Com esse discurso, o chefe do Executivo tenta dar cores ideológicas ao que aconteceu em Juiz de Fora. Como Adélio foi filiado ao PSol, Bolsonaro procura mais dividendos políticos do fato. Essa atitude afronta o trabalho da PF e, do ponto de vista técnico, tem o mesmo valor que as suspeitas lançadas por adversários de Bolsonaro de que a facada foi forjada.

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