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Presença da CUT esvazia movimento de caminhoneiros

Lideranças criticam aproximação de grupo com entidade sindical ligada à esquerda e insistem em negociação com governo federal

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Valter Campanato/Agência Brasil
BR-060, que liga Brasília a Goiânia
1 de 1 BR-060, que liga Brasília a Goiânia - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

O apoio da Central Única dos Trabalhadores (CUT) à paralisação anunciada para a próxima segunda-feira (16/12/2019) por um grupo de caminhoneiros divide a categoria e deve impedir que a ameaça de um novo movimento grevista se confirme. Representantes dos motoristas ouvidos pelo Metrópoles dizem que, em redes sociais e grupos de WhatsApp, a aproximação com a entidade, de esquerda, gera críticas e resistência entre lideranças e motoristas.

“Não tem adesão. Tem movimento político por trás querendo usar a categoria como massa de manobra”, criticou Wallace Landim, conhecido como Chorão. Na esteira do anúncio da paralisação, feito por um dos representantes da categoria, Marconi França, Chorão já tinha pregado “responsabilidade e seriedade” e apontado que “muita gente no movimento [defendido por França] é envolvido com política, envolvido com esquerda“.

Ele próprio gravou um vídeo com representantes de cooperativas, associações e sindicatos da categoria em Santos (SP). Membro do Fórum Permanente para o Transporte Rodoviário de Carga (Fórum TRC) e da Associação Brasileira dos Concessionários (Acav), Marcelo dos Santos diz que o grupo “não faz politicagem”.

Apesar da resistência em alguns grupos, a categoria está dividida e a paralisação não está totalmente desamparada: em vídeo, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logísticas (CNTTL), Paulo Estausia, classificou a pauta do movimento como “legítima” e refutou a tese de orientação política.

“Não é de esquerda nem de direita, não interessa o governo que está lá: se é contra os interesses da categoria, o movimento tem que ir para cima”, defendeu ele. Para Estausia, uma série de conquistas obtidas na greve de maio de 2018, ainda na gestão de Michel Temer (MDB), estão retrocedendo.

Entre as reivindicações, ele cita a implantação geral do Código Identificador da Operação de Transportes (Ciot), o cálculo piso mínimo do frete – “Foi uma traição do ministro” – e o preço do diesel. “Ninguém aguenta trabalhar com esse valor de combustível.”

O presidente da CNTLL também aposta que o movimento deve ganhar força gradativamente. “Tenho certeza de que a greve começa pequena, mas depois vai ganhando corpo. São lideranças que eu conheço, que têm capacidade de mobilização, e vamos estar contribuindo com o que for possível para que o governo chame eles imediatamente para evitar greve e retome o diálogo. Os caminhoneiros não são intransigentes”, previu.

O vídeo de Paulo, entretanto, causou reação: “O governo não fechou as portas para os representantes, e essa CNTTL não representa a classe”, disse outra liderança, Wanderlei Alves, o Dedeco, do Paraná.

“Ele pegaram meia dúzia de motoristas que se dizem lideranças e estão usando esses caras para criar o caos no Brasil, pra de repente colocar o lado político deles, a ideologia no governo de novo, é uma greve política. O governo não fechou a porta para nenhuma liderança”, disparou.

Bolsonarista, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) também entrou na onda, postando uma foto de Marconi em frente ao símbolo da entidade questionando: “‘Greve de caminhoneiros’ encabeçada pela CUT? Depois de tudo o que o governo Jair Bolsonaro fez pela categoria? Hm, tem dedo vermelho nisso aí””.

Governo
Na segunda-feira (09/12/2019), o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou avaliar como “pequena” a possibilidade de que a categoria volte a entrar em greve. Ele disse que o governo, especialmente o Ministério da Infraestrutura, está “aberto ao diálogo“, destacando que “o presidente reafirma seu apreço por essa classe”.

A superintendente de Serviços de Transporte Rodoviário e Multimodal de Cargas do ministério, Rosimeire de Freitas, reforçou o discurso do porta-voz. Segundo ela, a pasta está em “diálogo permanente”, que sequer depende das reuniões oficiais do Fórum TRC – criado para garantir as negociações entre governo e caminhoneiros. “A todo momento a gente atende, eles têm o telefone celular do ministro, do secretário-executivo, e vivem em contato.”

“O ministro tem pontuado que eles têm uma divergência muito grande entre eles, mas todas as representações formais que são recebidas ou aquelas demandas que são identificadas por nós como importantes são consideradas e implementadas”, declarou ela.

Pontuando que os caminhoneiros apoiaram Bolsonaro na sua eleição, a superintendente também disse que, nos grupos que acompanha, grande parte deles rejeita uma associação com a CUT. “A maioria dos autônomos não aceita. Eles apoiaram o governo e sabem que a gente está fazendo o possível para atender.”

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