Parlamentares pretas ou pardas são apenas 2,36% do Congresso
No total, mulheres representam 15% do parlamento brasileiro. O número é menor que Níger, país com o menor IDH do mundo
atualizado
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O Congresso Nacional brasileiro possui hoje 2,36% de suas parlamentares mulheres autodeclaradas pretas ou pardas – 14, das 594 vagas somadas entre Câmara e Senado. Dos 513 parlamentares da Câmara dos Deputados, por exemplo, 2,5% são mulheres pretas ou pardas, totalizando 13 deputadas. No Senado, a porcentagem é ainda menor: 1,2%, com apenas uma senadora, Eliziane Gama (Cidadania-MA), autodeclarada parda.
De acordo com dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 55,8% dos brasileiros se declaram pretos (9,3%) ou pardos (46,5%).
Além disso, segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), divulgado nessa segunda-feira (09/12/2019), o Brasil tem menos mulheres no Parlamento que Níger, país com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do mundo. Lá, as mulheres ocupam 17% das cadeiras. Aqui, a representatividade cai para apenas 15%.
O estudo aponta que esse baixo percentual é um dos fatores que contribuem para o Brasil ter uma das mais elevadas desigualdades de gênero do mundo.
De acordo com o documento, o Brasil está na 89ª posição em um ranking que inclui 162 países para os quais foi calculado o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG). O indicador utiliza dados como taxa de mortalidade materna, gravidez na adolescência e participação no parlamento e no mercado de trabalho.
Para a deputada Talíria Petrone (PSol-RJ), o fato de a Câmara ter apenas 2,5% de mulheres negras como parlamentares é um “absurdo”. “Esse número mostra o quanto a política – que é um espaço de poder e um espaço público – é negada para nós, mulheres no geral, mas em especial para negras ao longo da história”, declarou Talíria (foto em destaque) ao Metrópoles.
A parlamentar, que foi eleita com mais de 100 mil votos em 2018, contou que ao chegar em Brasília para tomar posse como deputada, em 1º de fevereiro de 2019, foi barrada na entrada da Câmara. Na ocasião, ela estava com um vestido colorido e com um corte black de cabelo. “É um visual diferente do que é comum aqui na Câmara. Simplesmente aconteceu”, contou a deputada.
“Uma policial me barrou e pediu meu convite, sendo que eu estava explicitamente identificada com o broche especial da posse. Eu dizia: ‘Não, eu sou deputada’. E ela: ‘Mas de qual deputado você é assessora?'”, relatou. “Não foi por maldade, mas o que expressa é que ela não estava acostumada a ver uma mulher com essas características na Câmara dos Deputados”, acrescentou.
Talíria também afirmou que é preciso ampliar o número de mulheres negras na política para também aplicar a visibilidade das “dores e estatísticas da classe negra”.
Dados de junho deste ano do Atlas da Violência, estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que 75,5% das vítimas de homicídio no país são negras, maior proporção da última década.
A deputada ainda comentou o episódio mais recente de racismo no Congresso, no qual o parlamentar Coronel Tadeu (PSL-SP) quebrou uma obra de uma exposição sobre a Consciência Negra. A imagem mostrava uma pessoa negra morta, algemada, enrolada em uma bandeira do Brasil, com um policial em pé ao lado com uma arma ainda fumegante. No dia seguinte, partidos da oposição repudiaram a atitude do deputado.
“Eu acho que o racismo no Brasil e no Congresso Nacional é invisibilizado. É o mito da democracia racial, como se o Brasil fosse uma grande democracia racial e mutas vezes se invisibiliza a racionalização das estatísticas dolorosas. O que aconteceu, por um lado, é muito triste, mas ao mesmo tempo explicita aquilo que muitas vezes está invisibilizado, e ao ser explicitado, visibiliza, se amplia a convicção de que há racismo nesse espaço e de que é preciso combatê-lo”, concluiu.