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Paraquedista na corda bamba: a instabilidade dos militares no governo

Em oito meses de gestão, foram necessários 12 rearranjos para tentar superar desentendimentos de Bolsonaro com a ala verde-oliva

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Presidente Jair Bolsonaro no palacio da Alvorada
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro no palacio da Alvorada - Foto: Andre Borges/Especial para o Metrópoles

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O governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sofreu perdas e afrouxamento de laços desde o início do seu mandato, em janeiro deste ano. Apesar das desavenças com as bancadas que inicialmente prestaram apoio à sua ascensão como chefe do Executivo nacional, conseguiu encontrar equilíbrio e manter as relações estáveis. A exceção foi com a ala militar, que passou por uma intensa troca de farpas com o governo, sendo necessário mudar comandos e exonerar ministros.

Bolsonaro foi eleito como o ex-capitão do exército e ex-paraquedista que levaria os ideais militares para as políticas públicas. Em paralelo, o mandatário da República aprofundou a ligação com uma ala ultraconservadora, guiada pelo professor de filosofia on-line e ex-astrólogo Olavo de Carvalho, mentor de grande parte de suas ações. Em determinados momentos, os dois grupos – militares e olavistas – entraram em conflito e o titular do Palácio do Planalto se viu na corda bamba, sendo obrigado a tomar decisões para amenizar as intrigas e trazer estabilidade ao seu governo.

No início do mandato, oito indicados ao primeiro e segundo escalões eram militares. Em oito meses de gestão, o número se manteve, mas foram necessários 12 remanejamentos nos cargos para equilibrar a briga entre as alas. Do total de rearranjos, seis tiveram relação direta com falas desferidas por Olavo. Destes, dois eram ministros, como o ex-secretário de Governo Santos Cruz (general) e o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez (professor e olavista). As intrigas se alastraram até a exoneração de ambos.

As alfinetadas entre militares e olavistas tiveram seu auge em abril, quando o escritor postou um vídeo nas redes sociais criticando ferozmente o núcleo militar. O próprio Bolsonaro e seus três filhos chegaram a compartilhar o depoimento, mas o excluíram horas depois, devido à polêmica gerada. No mesmo dia, o porta-voz da presidência, Otávio Rêgo Barros – um general que acaba de passar para a reserva –, disse que as afirmações do filósofo “não contribuem” para o bom andamento do governo.

As desavenças também atingiram o vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB), que defende a ala militar. Em março, o guru bolsonarista afirmou que o chefe substituto do Executivo era “um cara idiota”. Como resposta, o número dois do Planalto respondeu que Olavo deveria se “limitar” à sua função de “astrólogo”. Com a sucessão de xingamentos, o vereador Carlos Bolsonaro (PRTB-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ) compraram a briga e defenderam Olavo, complicando a relação entre os companheiros de chapa em 2018.

Primeiro escalão
Os únicos cargos ocupados por militares que não afetados do primeiro escalão foram o do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com o ministro e general Augusto Heleno; o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, chefiado pelo tenente-coronel Marcos Pontes; o Ministério da Defesa, liderado pelo general Fernando Azevedo e Silva; e o Ministério de Minas e Energia, comandado pelo almirante de esquadra Bento Albuquerque. Além desses, o ex-capitão do exército Wagner Rosário se manteve estável à frente da Controladoria-Geral da União (CGU).

No alto escalão, a primeira desavença com os militares foi a demissão do ex-secretário-geral da Presidência Gustavo Bebianno. O ex-presidente do PSL foi exonerado devido a acusações de uso de candidatas “laranjas” durante período eleitoral, em 2018. A ala militar tentou segurar o ministro no cargo. O general Heleno e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, realizaram reunião emergencial de portas fechadas com Bolsonaro quando seu filho Carlos expôs Bebianno nas redes sociais. Porém, o nome do ex-dirigente do partido do chefe do Executivo já estava fritado. Portanto, as influências do exército não foram suficientes.

Para equilibrar a situação, o general do exército Floriano Peixoto entrou no lugar de Bebianno. Com novos rearranjos no governo, Peixoto foi substituído quatro meses depois pelo major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Oliveira, mantendo o agrado do núcleo.

No âmbito do Ministério da Educação, funcionários da pasta próximos de Olavo foram exonerados, o que complicou a permanência do então ministro Ricardo Vélez. Ele foi protegido pela ala militar até soltar comentários contra o período ditatorial, perdendo total apoio interno, sendo exonerado do cargo.

Os militares pressionaram Bolsonaro para nomear o tenente brigadeiro Ricardo Machado Vieira, mas o presidente optou pelo também professor Abraham Weitraub. Já o secretário-executivo da pasta, Luiz Antonio Tozi, foi demitido por enfrentar a ala olavista. No lugar, foi colocado o tenente-brigadeiro Ricardo Vieira, posto pela ala militar em pressão contra Vélez.

Aumentando as tensões entre as partes, o general da reserva Santos Cruz, ex-secretário de Governo, brigou com a ala olavista, atingindo os filhos de Bolsonaro. Devido às intrigas, Santos Cruz foi afastado do cargo, sendo substituído pelo então chefe do Comando Militar do Sudeste do Exército Luiz Eduardo Ramos, em contraponto à demissão do general da reserva.

Segundo escalão

No segundo escalão do governo, estão presidentes e diretores de órgãos e autarquias que foram remanejados dos cargos. No início do mandato, assumiu os Correios o general da reserva Juarez Aparecido, que foi trocado por Floriano Peixoto após acusações de ser “sindicalista”.

Como consequência da briga entre militares e olavistas, a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) teve três trocas de presidentes em seis meses de governo. Depois de Alex Carreiro, Mario Vilalva, que era ligado à ala militar, teve seus poderes esvaziados pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, gerando desentendimentos do governo com o núcleo. Tentando equilibrar a situação, Bolsonaro indicou o contra-almirante Sergio Segovia, que eliminou os olavistas da agência e demitiu Letícia Catelani.

Na Fundação Nacional do Índio (Funai), assumiu inicialmente o general Franklimberg de Freitas, que trocou farpas com a bancada ruralista – apoiadora de Bolsonaro. Para não perder influência no Congresso, o presidente exonerou o militar.

Entre as recentes trocas, está a indicação do general Luiz Pereira Gomes para o comando da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). No mesmo período, o oficial da Força Aérea Brasileira Darcton Policarpo Damião assumiu cadeira no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em uma tentativa de reaproximação com os militares. Igualmente ocorreu com o coronel Homero Cerqueira, que tomou posse no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), após Adalberto Eberhard ser demitido pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

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