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“Não vejo o PSDB integrado ao governo”, afirma Tasso Jereissati

Em entrevista, o senador declarou que a única afinidade entre tucanos e bolsonaristas é em prol da reforma da Previdência

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Marcelo Camargo/Estadão
Eleição dos membros da Comissão Especial que analisará processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.  Brasília – DF 25/04/2016
1 de 1 Eleição dos membros da Comissão Especial que analisará processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Brasília – DF 25/04/2016 - Foto: Marcelo Camargo/Estadão

No ano passado, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) liderou um movimento para que o seu partido desembarcasse da gestão de Michel Temer. Agora, em meio à aproximação entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), e o presidente Jair Bolsonaro (PSL)53, o tucano volta a defender que o partido deva se afastar “de visões de extrema-direita” presentes no Palácio do Planalto.

Para Jereissati, a única afinidade entre tucanos e bolsonaristas é na política econômica, em prol da reforma da Previdência. “Eu não enxergo o PSDB totalmente integrado ao governo, até pelas diferenças que nós temos. A grande afinidade que nós temos é em relação à política econômica”, afirmou Jereissati em entrevista ao Estadão/Broadcast.

Neste ponto, o senador disse que “nunca houve um momento tão propício” no Senado para a aprovação da reforma e que entre os senadores tucanos existe “a convicção” sobre uma reforma “imediata” e “de certa profundidade”.

O que o sr. achou da eleição para a Mesa do Senado? Houve desgaste de imagem da Casa?
Foi o ápice do desgaste, mas o ponto mais alto da crise do Senado foi necessária para a ruptura com o passado. Com certeza, foi um espetáculo degradante, que desnudou alguns personagens para o Brasil, mas foi um momento em que foi rompido o predomínio de um grupo depois de quase 30 anos. Acho que consolidou o fim do monopólio desse grupo no Senado durante esses anos.

Preocupa o fato de o novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, ter o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, como padrinho?
Ele, com certeza, teve o apoio do ministro Onyx, mas a teia de compromissos que ele firmou aqui dentro do Senado vai dar a independência que ele necessita e, com certeza, quer.

O governo tem condições de aprovar uma reforma da Previdência no Senado?
O governo sozinho não tem essa maioria no Senado. O governo, inclusive, é muito heterogêneo, tem alas diferentes e visões diferentes. É difícil você quantificar. Agora, nunca houve um momento tão propício dentro do Senado para fazer essas reformas. Não podemos desperdiçar essa oportunidade.

Na gestão Temer, o PSDB ficou dividido sobre proposta de reforma da Previdência. E agora?
É uma boa vontade unânime aqui dentro do PSDB do Senado. Evidentemente que tem pontos aqui e ali, ninguém é unânime em todos os pontos. Mas a convicção de que tem de haver uma reforma da Previdência, de certa profundidade e imediata, isso é unânime dentro do partido aqui no Senado.

Qual será a posição do PSDB em relação ao governo? No ano passado, o sr. defendeu desembarcar da gestão Temer e, este ano, Doria tem se movimentado em direção ao governo…
Não enxergo o PSDB integrado totalmente no governo, até pelas diferenças que nós temos, que eu já fiz referência. A grande afinidade que nós temos é em relação à política econômica. Mas, com certeza, estamos bastante afastados de visões de extrema-direita que estão sendo externadas aí por alguns grupos

Como o sr. avalia o primeiro mês de gestão do governo Bolsonaro?
É muito cedo, temos um pouco mais de um mês com um presidente afastado por uma cirurgia, internado num hospital. Evidentemente, há uma falta de organização no governo ainda. Não dá para identificar para onde o governo vai, porque tem muito bate-cabeça entre as próprias lideranças que dão apoio ao governo. Há grupos diferentes dentro do governo: um grupo ligado a fulano, um grupo ligado a sicrano. Há impressão de que esses grupos não se entendem. Mas acho que naturalmente, com o tempo e a consolidação do governo, essas coisas vão tendo maior organicidade. Eu não digo (que o governo precisa) acelerar, mas ter uma coordenação, ter uma organicidade desses diferentes grupos.

Na Câmara, por exemplo, o líder do governo está sendo muito questionado. Aqui no Senado, ainda não definiram isso…
Faz parte dessa aparente desorganização do governo hoje.

Como o sr. avalia a política externa do governo nesse período?
Algumas declarações do ministro (Ernesto Araújo) não só me preocupam, me cheiram a delírio, altamente fora do mundo terrestre. Evidente que estamos (o PSDB) completamente afastados da linha que ele diz, do que ele pensa. O problema não é só a imagem externa arranhada. O País está sendo levado ao ridículo. É uma visão inclusive diferente da visão do (ministro da Economia) Paulo Guedes, que é totalmente globalista. O ministro das Relações Exteriores é oposto de tudo isso. Vejo com o mesmo rigor e espanto as declarações da ministra (da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves). Algumas, eu não quero nem comentar.

Qual será a posição do sr. na eleição do PSDB?
Eu defendo renovação. Tem de vir um nome ajustado a essa renovação. E que tenha liberdade, independência para liderar essa visão de futuro que o partido vai ter. Volto a defender uma autocrítica. O partido tem de rever, assumir os erros do passado e assumir o compromisso com a sociedade de não aceitar conviver com esses erros.

O Doria é essa nova cara?
O governador João Doria é uma das caras do partido. Tivemos também a eleição do Anastasia (como vice-presidente do Senado), que é um nome relativamente novo, vem de uma outra geração, já é muito respeitado no Senado e no Brasil. E outros também: o Eduardo Leite, no Rio Grande do Sul, é uma esperança que a gente tem, uma cara nova, ideias novas.

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