Líder do PSL sobre Bolsonaro: “É vagabundo” e “compra” deputados
Delegado Waldir afirma que presidente o traiu e usa cargos e fundo partidário para alçar filho Eduardo ao posto de líder da bancada
atualizado
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Gravado em uma reunião em que chama Jair Bolsonaro de “vagabundo”, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), recuou horas depois e afirmou, nessa quinta-feira (17/10/2019), que não tinha “nada contra o presidente” e que falara em um momento de “emoção”. Nesta sexta-feira (18/10/2019), entretanto, em entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, voltou à carga. “Ele me traiu”, afirmou, antes de concluir: “Então, é vagabundo”. O deputado federal não se limitou ao xingamento e denunciou: o presidente está “comprando” deputados com “cargos e fundo partidário” para alçar o filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) ao posto de líder da bancada.
Segundo ele, o governo está parado, “não existe”, pois está focado na crise da legenda. “A única finalidade do governo hoje é me derrubar da liderança do PSL.” Na entrevista, o deputado repete o xingamento que fez em reunião fechada. “Eu não menti. Ele me traiu. Então, é vagabundo”, disse.
Afinal de contas, o que o senhor tem para implodir o presidente? O que é essa gravação que o senhor fala no áudio vazado?
Delegado Waldir: A gravação que tem é a que já foi divulgada. É na qual ele pede votos, negociando com parlamentares e comprando a vaga do filho dele na liderança do PSL, oferecendo cargos e fundo partidário.
Acha que vai conseguir se manter como líder da bancada do PSL?
Waldir: É uma vitória fenomenal eu ainda estar na liderança, considerando que líder do governo, o presidente e ministros estão atuando contra. O governo parou. O governo não existe hoje. A única finalidade do governo hoje é me derrubar da liderança do PSL. A traição vem de onde você menos espera.
A bancada do PSL ainda votará com o governo?
Waldir: Não haverá consenso em todas as pautas com o presidente Bolsonaro, o partido terá seu posicionamento. Qualquer conduta do presidente de tentar inibir os órgãos de combate à corrupção não terá nosso apoio, como já foi feito com o [Conselho de Controle de Atividades Financeira] Coaf, com enfraquecimento da Polícia Federal, do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, a ação do governo em relação à CPMI das Fake News.
Eu fui duramente atacado nos últimos dias por grupos de direita, tive de excluir do meu Instagram mais de 1.500 seguidores que a gente sabe que são robôs. É uma armação orquestrada. Estaremos contra o governo porque ele é contrário à instalação da CPI Lava Toga. Mas, nas pautas econômicas, estaremos juntos.
Houve uma oferta para a ala dos “bolsonaristas” saírem do PSL sem perder o mandato. O senhor concorda com isso?
Waldir: É uma decisão do presidente (do PSL) Luciano Bivar, não posso falar porque não compete a mim essa decisão.
O Planalto acena com uma saída intermediária, em que o senhor sairia da liderança e eles recuariam de indicar Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Alguém o procurou? Aceitaria isso?
Waldir: Eu não saio da liderança. Meu mandato é até janeiro. Só saio se o presidente do PSL, Luciano Bivar, o vice, Antonio Rueda, e todos os parlamentares pedirem. Caso contrário, só em janeiro. Ninguém me procurou para falar sobre isso, e eu não topo. E eu não posso falar nada por mim, faço parte de um grupo. Não posso ter atitudes individualistas. Só quando tiver uma decisão desse grupo é que podemos dialogar. Mas como você acha que esse grupo poderia querer isso se, nesse momento, eles [governo] estão ligando para parlamentares?
O governo continua ligando?
Waldir: Continua. O líder do governo na Câmara, deputado Vitor Hugo (GO), acabou de ligar para um deputado durante a reunião do partido, o Abou Anni (PSL-SP). Ele ligou, e o Abou me mostrou que estava ligando, para pedir o nome na lista deles. Eles não querem trégua. Estão fingindo, querendo ganhar tempo para fazer o líder.
O que Bolsonaro tem de fazer para recompor sua base no Congresso?
Waldir: Ele nunca teve base no Congresso. Tinha 53 deputados que votaram com 98% de fidelidade.
Ele vai ter ainda esses 53?
Waldir: Em algumas pautas sim, em outras não.
Depois de chamar o presidente de vagabundo, há chances para retomar a relação?
Waldir: Eu não menti. Ele me traiu. Se precisar, eu repito 10 vezes. Eu fui um dos quatro votos para ele [na disputa pela presidência da Câmara, em 2016], contrariando meu partido na época, o PR. Votei no Bolsonaro. Recusei R$ 2,5 milhões de emendas parlamentares na época e vim para o PSL. Andei 246 municípios no sol. Fui chamado de louco ao defender Bolsonaro. Ele nunca me recebeu e agora me traiu ao pedir ao Bivar, por proposta do Major Vitor Hugo e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, o diretório do Estado. Então, é vagabundo.
Tem alguma chance de retomar a relação com o Bolsonaro?
Waldir: Ele é quem tem que pensar o que tem que fazer. Eu não guardo ódio de ninguém, não, mas a conduta dele em relação a mim… Eu nunca fiz nada para ele, sempre fui fiel. É só olhar minhas redes sociais, veja se há um ataque sequer a ele.
O que pretende fazer caso Eduardo assuma a liderança, já que o governo está se articulando de novo?
Waldir: Eu não vou fazer nada, quem vai fazer é o partido. O partido, inclusive, já fez agora, suspendendo cinco parlamentares que não têm mais direito a voto. Isso já foi notificado para Câmara.
Em relação ao deputado Daniel Silveira (RJ), que gravou o senhor, o que pretende fazer?
Waldir: Ele não atacou o partido, atacou o Parlamento, ao gravar vários deputados. Isso é Conselho de Ética e apuração criminal. Vamos pedir, assim como foi feito com Eduardo Cunha [ex-presidente da Câmara, atualmente preso], que é a cassação. O PSL vai fazer esse pedido.
O senhor disse em entrevistas que Bolsonaro tinha problemas no “quintal dele”. A que estava se referindo?
Waldir: Ué, é o filho dele. Qual é que tem problema e está sendo investigado?
O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)?
Waldir: Sim.
Bolsonaro pode sofrer impeachment por causa dos filhos?
Waldir: Isso temos de aguardar. Quem decide isso é o Parlamento. Se algum partido fizer uma proposta, cabe ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se leva para plenário ou não. Não é decisão minha. Eles precisam analisar se compra de parlamentares para votar a favor do filho é motivo de cassação do presidente. Isso depende de outros fatores.
A crise afeta votações no Congresso? Isso não terá impacto na economia?
Waldir: Não vamos prejudicar em nenhum momento o povo brasileiro. Acima dos interesses partidários, existem os interesses do país. Vamos votar todas as pautas econômicas. São teses que sempre defendemos, reforma tributária, administrativa e tudo mais que for pauta de interesse do Brasil.
O senhor põe a mão no fogo por Bolsonaro?
Waldir: Eu só coloco a mão no fogo pela minha mãe.