Júlio Delgado: “Campanha #Lula Livre atrapalha união das esquerdas”

Prestes a lançar sua candidatura à prefeitura de Belo Horizonte, o deputado federal Júlio Delgado (PSB-MG) avalia que não haverá união dos partidos de esquerda no Brasil com o PT sob a bandeira da campanha #Lula Livre. O deputado, que está de mudança de domicílio eleitoral, de Juiz de Fora para a capital mineira, mantém o tom crítico ao que classifica de equívocos cometidos pelo PT e considera que a luta pela liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba pela Operação Lava Jato, mais divide que une os partidos de esquerda.

“Belo Horizonte está no cenário”, disse em entrevista ao Metrópoles. “Vamos encarar porque a gente sempre teve a vontade de encarar grandes desafios.”

“Isso (#LulaLivre), para nós, é uma coisa considerada ultrapassada. Nós reconhecemos a liderança do Lula. Nós reconhecemos o papel que ele teve no pagamento da dívida social que tivemos por um período, mas também reconhecemos seus equívocos no final de seu governo. Os equívocos de ordem ética, moral no governo Lula e foram sequenciados no governo Dilma”, destacou o deputado.

“Essa bandeira do Lula Livre é uma bandeira do PT. A gente não pode querer participar de movimentos em que esta bandeira esteja preponderante”, observou.

Delgado não aposta na mobilização puxada pelo governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), que vem articulando com o PT uma frente ampla contra o governo de Jair Bolsonaro (PSL), seja capaz de capaz de apresentar uma candidatura forte em 2022.

“O governador Dino tem o interesse de puxar alguns partidos, mas a gente sabe que ele não consegue fazer essa projeção toda no PT, por exemplo, que tem esse nome único e vive dessa tese de Lula Livre. Acho que o PT não consegue se despregar dela pela própria liderança grande que o ex-presidente exerce dentro partido. Mas isso não prospera mais na discussão com a sociedade”, ponderou.

Outsider
Na conversa, Delgado apontou ainda a tendência do PSB de seguir mais na linha de um candidato outsider para 2022, em vez de apostar na polaridade entre esquerda e direita. “Nós podemos ter um outsider, que pode ainda ser construído”, disse. “Que ele tenha um sentimento mais social, mesmo que não seja de esquerda, mas que tenha um comprometimento com as causas sociais, que são as causas do PSB”, destacou.

O partido chegou a tentar usar a fórmula quando houve a intenção de bancar a candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que foi relator do processo do mensalão petista. Na época, o ex-ministro desistiu alegando problemas pessoais. Quanto ao ex-colega de partido e provável candidato do PDT ao Planalto, Ciro Gomes, Delgado foi enfático: “Passou!”. “É um grande quadro, pode dar grande contribuição, mas, como candidatura, acho que ele não empolga mais essa massa que está chegando.”

Mineração
Delgado foi relator da comissão externa da Câmara que visitou Brumadinho logo após o rompimento da barragem da mineradora Vale, acidente que vitimou mais de 300 pessoas, e também é presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que funciona na Casa e que está em fase de conclusão. O deputado defende mais rigor com os licenciamentos ambientais para a mineração, que, a seu ver, precisam passar pelo Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente). Ele ainda considera absurda a defesa por parte do presidente Bolsonaro da liberação de atividade mineradora em terras indígenas.

“Admitir mineração em áreas indígenas, você não só está tirando uma área de preservação, como está tirando patrimônio dos índios”, argumentou. “Essa exploração será feita por uma empresa privada que tem o único objetivo de obter lucro”, ponderou.

Confira a íntegra da entrevista: