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Jucá: “O governo precisa de humildade e rapidez para corrigir erros”

Presidente do MDB, o político avalia que a reforma da Previdência será aprovada fora do prazo desejado pelo governo e menor que o esperado

atualizado

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JP Rodrigues/Metrópoles
Jucá
1 de 1 Jucá - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Personagem conhecido nas articulações do Palácio do Planalto – ele foi líder dos governos de FHC, Lula, Dilma e Temer –, o ex-senador Romero Jucá, atual presidente nacional do MDB, está à frente do processo de oxigenação e transição de lideranças do seu partido. Sem os famosos bigode e óculos, o primeiro por estilo e o segundo graças a uma cirurgia oftalmológica, o cacique emedebista parece ter aliado o novo visual às propostas de renovação que tenta encabeçar. Por mais que tenha sido sempre associado à política tradicional, hoje ele prega mudanças na sigla ao mesmo tempo que tece duras críticas ao governo atual.

Em entrevista exclusiva ao Metrópoles, realizada na sede nacional do MDB, o ex-congressista disparou contra a relação do governo de Jair Bolsonaro (PSL) com o Congresso Nacional, mas ponderou que ainda é cedo para o presidente ser “julgado” pela população.

A administração, infelizmente, está queimando capital político muito rápido, mas a gente espera que possa corrigir o rumo. Bolsonaro não pode ser julgado pelos primeiros três ou quatro meses. O governo precisa ter duas posições muito claras: a primeira é humildade para reconhecer os erros; depois, rapidez para corrigir os erros – coisa que, infelizmente, não está fazendo ainda

Romero Jucá (RR), presidente nacional do MDB

Presidente do partido com uma das maiores bancadas dentro das duas Casas legislativas federais, Jucá afirmou que o compromisso da sigla é com a pauta econômica do atual presidente, embora deixe claro que o MDB está distante de integrar a base aliada de Bolsonaro. “O MDB é a favor da reforma da Previdência. Nós temos um compromisso com a economia. Foi o governo de Michel Temer que começou a recuperar o país após o desastre da Dilma”, afirmou.

Jucá avalia que a administração anterior foi “incompreendido” quando pautou questões econômicas. Ainda assim, ele acredita que o fato de Michel Temer ter dado início a essa discussão lá atrás garante uma maior aceitação popular à necessidade de realizar alterações profundas nas aposentadorias. Ele  discorda dos prazos iniciais estipulados pelo governo, que preveem a aprovação das medidas até o meio do ano.

“A questão é qual reforma, quais ajustes e quando será aprovada. O governo iniciou dizendo que aprovaria nas duas Casas até o meio do ano e isso não ocorrerá. Na minha avaliação, até o meio do ano, não estará nem aprovada na Câmara dos Deputados”, disse.

Veja a íntegra da entrevista:

 

Ainda sobre a reforma, Jucá acredita que o governo não conseguirá bater a meta de economizar R$ 1,2 trilhão em 10 anos, estipulada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

“Acho que o centro da meta da economia será de R$ 700 bilhões, R$ 50 bilhões a mais ou a menos, o que é razoável para a leitura dos agentes econômicos. Se tudo for arrumado, vamos discutir e interagir para tentar ajudar na aprovação – o governo terá de reformular sua articulação política na forma de fazer. Se isso ocorrer, a reforma da Previdência estará aprovada lá para o final de setembro. Se não ocorrer, lá para o final do ano”, sentencia.

Caminho político
Experiente na construção de acordos, o presidente emedebista lembrou que a atual administração terá de recorrer à valorização da política, “tão renegada nas eleições de 2018”, para conseguir aprovar não apenas a Previdência mas também as outras pautas do próprio governo.

“Tudo no final vai depender da política. Não tem outra opção. Não é a postura ditatorial, unilateral, que vai aprovar matérias importantes para o Brasil. Atirar pedra na política durante a campanha dá um bom resultado. Atirar pedra na política governando é um péssimo resultado e o governo não será vencedor com essa estratégia.”

Em 2018, Jucá perdeu a sua primeira eleição desde quando foi eleito a primeira vez, em 1994. A diferença foi de pouco mais de 400 votos para Mecias de Jesus (PRB). A ausência de Romero Jucá no Senado coincidiu com o desembarque do seu partido da base de governo, posição que assumiu praticamente em todas as gestões do Executivo federal desde a redemocratização. Na avaliação do cacique, porém, esse desembarque tem um lado positivo.

“O MDB ficou livre do peso de ser responsável pela governabilidade. Eu mesmo fui líder de quatro governos e tirei um peso grande das minhas costas. Não é fácil ser responsável pela governabilidade. O partido tem um ônus com tudo disso”, disse. “O MDB agora é independente, vai ter agenda, posição firme sobre tudo. Exatamente porque agora é um outro momento. Nós não somos situação. Quem tem que ser responsável pela governabilidade é o Bolsonaro e o PSL, enfim, os aliados históricos do presidente”, acrescentou.

JP Rpdrigues/Metrópoles

 

Mesmo sem conhecer – e garantindo não ter a mínima intenção de fazê-lo – o escritor Olavo de Carvalho, Romero Jucá disparou críticas ao chamado “guru” da família Bolsonaro pela postura de atacar integrantes da ala militar da atual gestão.

“Ele presta um desserviço. Das estruturas de governo, a mais estabilizada, a mais preparada, a que tem mais condições de contribuir é exatamente a área militar. Os militares estão engajados no processo de reconstrução do Brasil”, destacou Jucá. “Fazer sistematicamente esses ataques e o presidente ficar sem se posicionar claramente ao lado dos militares, isso é ruim para o governo e isso é ruim para o país”, avaliou.

Sobre as polêmicas nas quais os filhos de Jair Bolsonaro se envolvem com frequência nas redes sociais, o cacique atribuiu ao pai – não aos políticos – um freio de arrumação.

“Os filhos do presidente são um problema do presidente. Partido político não tem que ficar analisando as atitudes deles. As consequências pela atuação dos filhos do presidente estão ai para todo mundo ver. É um componente político, mas que o Congresso não tem controle. Cabe ao presidente fazer a avaliação necessária e tomar as decisões que precisa tomar”, disse.

O comandante emedebista também defendeu o próprio partido ao negar que o desempenho nos últimos momentos políticos – como as eleições de 2018 e a escolha do novo presidente do Senado Federal – tenha “apequenado” a legenda.

“Quem foi derrotado nessa eleição não foi o MDB. Quem perdeu a eleição foi a política. O derrotado nesse processo foi a política convencional e todos os partidos que representavam esse modelo. O MDB ainda é a maior bancada no Senado. O PSDB era a segunda e não é mais. Na Câmara, todos os partidos perderam número de deputados – o que perdeu menos foi o PT e o PSL, que foi esse fenômeno por conta do Bolsonaro”, listou. “Esse é um momento de reflexão. Nós somos ainda o maior partido do Brasil, em número de prefeitos, de vereadores… O momento é de correção de rumo e de adaptação ao novo tempo”, afirmou o emedebista.

Reformulação do MDB
Romero Jucá nega que tentará se manter no comando do partido após o fim do seu mandato (termina no segundo semestre deste ano). Contudo, afirma ser um elemento para fazer a transição necessária para que a sigla seja liderada por algum nome de destaque no cenário político nacional. Numa lista rapidamente pensada, o emedebista calcula pelo menos 10 nomes como factíveis para assumir a presidência nacional emedebista, entre eles os governadores do DF, Ibaneis Rocha; de Alagoas, Renan Filho; e do Pará, Hélder Barbalho.

Contudo, para conseguir a renovação no comando nacional, Jucá já se prepara para mexer no texto do estatuto partidário. “Nós estamos trabalhando em ajustar o estatuto. Não cabe proibir o governador ou o prefeito de fazer parte da executiva do partido. Não tem porque retirar essa participação importante”, observou. “Estamos trabalhando numa minuta de estatuto, que será encaminhada aos estados para colher informações e contribuições justamente para se oxigenar”, acrescentou.

Conhecido por antecipar cenários políticos, Jucá descarta a retomada da esquerda no comando do Brasil. “Acredito muito mais na tendência de vir alguém de centro do que você ver a retomada do PT. Isso foi uma fase que o Brasil já passou”, cravou.

Situação doméstica
Jucá também comentou a escolha do nome do presidente da Câmara Legislativa (CLDF), Rafael Prudente, para comandar o MDB-DF – a eleição foi feita na segunda-feira (06/05/2019). Segundo o cacique, a mudança foi arquitetada por ele próprio, pelo governador Ibaneis Rocha e também pelo ex-vice-governador e então presidente do MDB-DF, Tadeu Filippelli.

Para Jucá, a troca de comando não exclui Filippelli das decisões partidárias, pois ele passa a responder como presidente de honra.

É uma evolução do partido. Não é que se acabou com a presença de Filippelli dentro do MDB, mesmo porque ele continua sendo importante para a legenda. Nós temos agora na presidência do MDB dois jovens: o Rafael Prudente [presidente da CLDF] e a Ericka [Filippelli, nora do ex-vice-governador], que é ligada ao Filippelli

Romero Jucá

O ex-senador também elogiou a postura do atual chefe do Executivo local na condução do processo para a oxigenação regional do partido. “O governador Ibaneis teve um papel importante nisso também. Ele é um novo valor do MDB: é alguém que tem toda a condição de ajudar, pelo preparo que tem, pela condição de governador do DF, com uma visibilidade muito grande. São os novos tempos. Estamos construindo, de acordo com o ritmo necessário, essa nova face e posição do MDB”, enfatizou.

Mudanças no estatuto
Sobre a possibilidade de Ibaneis assumir o comando nacional da sigla, Romero Jucá foi evasivo. Adiantou apenas que tem trabalhado para que qualquer nome com condições de desempenhar o papel tenha a possibilidade de ser o comandante emedebista. Hoje, o estatuto da sigla impede que chefes de Executivo ocupem cadeira na nacional partidária.

“Os três governadores podem ser presidente do partido. Todos têm habilitação para isso. O Ibaneis é um excelente nome; o Renan Filho faz um excelente trabalho em Alagoas. O Helder Barbalho [PA] é um político jovem, mas muito experiente, que já foi ministro duas vezes e é governador”, avaliou Jucá. “Eu, pessoalmente, estou engajado em ajustar o estatuto, porque não cabe proibir governador e prefeito de fazer parte da executiva do partido. Não tem por que retirar essa participação, essa contribuição importante”, reiterou.

Construção de candidatura
O ex-senador também falou sobre a pretensão de Ibaneis em disputar a Presidência da República em 2022. Segundo Jucá, o governador do DF ainda precisará costurar internamente no partido a estratégia, pois “é prematuro se falar em candidatura presidencial”.

“Estamos ainda no primeiro ano do governo Bolsonaro e não sabemos como a política vai acontecer. É claro que existem pré-candidatos. O próprio Ibaneis é um bom nome. Mas acho que a gente tem que ir construindo isso no dia a dia”, disse. “Só chegaremos no futuro com condições de indicar presidente ou vice se fizermos o dever de casa agora, no início da reestruturação do partido, e formos crescendo com o MDB”, concluiu o presidente nacional da sigla.

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