“Joesley roubou de mim, do Cunha e do Geddel”, diz Funaro
O operador financeiro detalhou a relação com o ex-vice-presidente da Caixa Econômica Fábio Cleto e com o ex-deputado Eduardo Cunha
atualizado
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Durante depoimento na 10ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, o operador financeiro Lúcio Funaro chamou Joesley Batista de ladrão: “Ele roubou de mim, do (Eduardo) Cunha e do Geddel (Vieira Lima). Só de Alpargatas, R$ 81 milhões”.
Segundo o delator, o dono da JBS teria uma dívida com ele de R$ 41 milhões referente à compra formal da empresa de calçados em 2015. “Eu tenho a receber dele (Joesley) R$ 41 milhões, mais ou menos, de dinheiro lícito. Se for calcular ilícito junto, seriam quase R$ 120 milhões, somando o que ele roubou da Alpargatas.” Recentemente, a companhia foi vendida.
Funaro detalhou o pagamento de propina ao PMDB. “Eduardo Cunha ficou com R$ 1 milhão. Dois milhões foram destinados ao presidente Michel Temer, e um valor, acho que R$ 1 milhão, ao deputado Cândido Vaccarezza”, disse.
Os valores teriam sido uma contrapartida para o grupo Bertin receber investimentos do Fundo de Investimentos do FGTS (FI-FGTS), da Caixa Econômica Federal. Ele ainda afirmou que os repasses estão todos detalhados nas planilhas entregues aos procuradores da República quando do acordo de delação. “A doação destinada ao Temer foi feita de forma oficial ao PMDB nacional.”
Ameaça
Funaro admitiu que ameaçou o ex-vice-presidente da Caixa Fábio Cleto e a família dele. “Falei que ia pedir para o (ex-dono da Gol) Nenê Constantino pôr fogo na casa dele, com os filhos dentro”, assumiu. “Sou uma pessoa de pavio curto”, disse, antes de fazer a revelação.
O operador relatou ao juiz Vallisney de Souza Oliveira como organizavam o esquema de desvio de dinheiro do Fundo de Investimentos do FGTS do banco, além de responder perguntas do advogado do ex-deputado Eduardo Cunha, que tenta desmentir Funaro.
“Fábio Cleto é um sujeito sestroso”, iniciou Funaro, ao descrever a personalidade sagaz e esperta de Cleto, que chegou à Caixa por indicação de Eduardo Cunha. O operador financeiro disse ainda que o ex-vice da CEF colaborava com os esquemas corrupção.
O episódio havia sido narrado à Justiça por Adriana Balalai, ex-companheira de Fábio Cleto. A mulher contou que, durante conversa com o marido, leu uma mensagem no celular enviada por Funaro. Em resposta ao operador financeiro, Adriana disse que ia até a polícia, pois tinha certeza que estava falando com um “psicopata”.
Conchavo
Na primeira parte do depoimento, na sexta-feira (27/10), Funaro falou por pouco mais de duas horas e meia (entre 17h e 19h30, aproximadamente) sobre o conchavo que teria desfalcado o fundo de investimento FI-FGTS da Caixa e que foi revelado pela Operação Sépsis, da Polícia Federal, um desdobramento da Lava Jato.
Delator no caso, ele detalhou a participação dos demais réus na ação penal decorrente da Sépsis: Cunha; o ex-ministro Henrique Eduardo Alves; o ex-vice-presidente da Caixa, Fábio Cleto, e o empresário Alexandre Margotto.