Governo tenta evitar que declarações de Bolsonaro afastem aliados
A ideia é impedir que pauta econômica seja afetada. Teste sobre relação com Planalto ocorrerá no Senado, com sabatina de filho do presidente
atualizado
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Com o retorno efetivo dos trabalhos do Congresso, nesta semana, o governo federal, que nunca contou com uma base coesa desde a posse de Jair Bolsonaro, abre o segundo semestre tentando conter possíveis baixas em sua tropa, a fim de aprovar matérias importantes, tanto na Câmara quanto no Senado.
Líderes de partidos aliado – e de outros apenas interessados em fazer andar a agenda econômica – se movimentam para tentar impedir que as polêmicas em série geradas por declarações de Bolsonaro, intensificadas durante o recesso, contaminem a condução da pauta econômica do governo.
Na Câmara, a reforma da Previdência ainda domina as discussões por conta de sua votação em segundo turno da proposta, ainda pendente. Essa, no entanto, é uma pauta que “anda sozinha”, na avaliação da própria equipe econômica, que já firmou um pacto com os presidentes do Senado e da Câmara, Davi Alcolumbre (DEM-AP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ), respectivamente, para que as votações e o trâmite não sejam emperrados.
A incógnita maior está no Senado, que deve dar o termômetro do prestígio de Bolsonaro com os parlamentares. Uma dos primeiros assuntos a serem abordados pela casa será a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a vaga de embaixador do Brasil nos Estados Unidos.
Mesmo dependendo do aval do Senado, Bolsonaro não deixou de desdenhar do poder dos senadores para barrar sua indicação. Disse que, caso isso ocorra, ele poderia então colocar o filho no Ministério de Relações Exteriores (MRE), no lugar do atual ministro, Ernesto Araújo. A declaração foi encarada por vários parlamentares, mesmo aliados, como menosprezo às funções do Senado – e pode complicar a vida do governo na sabatina e em outras questões.
Senadores mais articulados ainda não arriscam palpites sobre o clima em relação ao governo. Embora haja a convicção de que dificilmente a pauta econômica seja inviabilizada, somente as conversas nos primeiros dias serão capazes de dar indício sobre a disposição de manter uma atuação mais alinhada, como a do presidente da Casa, Davi Alcolumbre, ou de cobrar uma postura de maior respeito do presidente da República.
Em contenção
Da mesma forma que o presidente abusou de entrevistas durante o recesso informal do Congresso, dominando a pauta com declarações polêmicas, houve também quem se viu desobrigado a colar sua imagem à de Bolsonaro, mesmo integrando seu partido, o PSL. Alexandre Frota (PSL-SP) ensaiou um voo independente, se disse decepcionado com Bolsonaro e provocou movimentos de colegas seus de legenda para expulsá-lo do partido.
Entre governadores, Doria também percebeu os arroubos de Bolsonaro e evitou reforçar o alinhamento que teve com ele durante a campanha.
Frota, no entanto, após conversar com o presidente da legenda, Luciano Bivar, adotou um tom mais moderado em relação ao governo. “Minha situação no partido é ótima. Para mim, eu vou ficar. Só devo satisfação ao senhor Bivar. Minha garantia eu adquiri quando fui eleito”, disse Frota.
“Eu votei até hoje pelo governo do Bolsonaro. Sempre votei com o governo. Se tem alguém desfalcando a base, esse alguém não sou eu. Ainda que eu tenha divergências com o Bolsonaro, da minha parte, não há baixa”, disse Frota, ao Metrópoles.
Oposição
Já a oposição ainda não traçou o caminho para reverberar os arroubos do presidente e tenta, por enquanto, em ações desarticuladas, “conter os danos” da reforma, certos de que a aprovação é inevitável.
De acordo com a líder da Minoria na Câmara, deputada Jandira Feghali, os deputados do campo oposto ao governo tentarão suprimir do texto pontos que impedem o pagamento de pensão por morte, de um salário mínimo, para viúvas que tiveram renda formal.
“Vamos entrar neste segundo turno [da votação da reforma da Previdência] esperando que neste recesso, os parlamentares tenham sido sensibilizados em suas bases para alguns temas que em minha opinião são muito cruéis”, destacou a deputada.
“A estratégia é fazer uma redução de danos do que já conseguimos ganhar no primeiro turno e tentaremos ganhar neste segundo turno da votação”, disse a deputada.