“Favorito” da Braskem, Gim Argello ganhou mais que outros políticos
Delator diz que repasse em 2014 para o ex-senador foi de R$ 250 mil, mais do que foi remetido a Alckmin
atualizado
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Além de ter sido citado pelo ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho, o nome do ex-senador do Distrito Federal Gim Argello aparece na delação do ex-diretor-presidente da Braskem, Carlos José Fadigas de Souza Filho. Em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF), ele confirmou que a empresa repassou R$ 250 mil a Gim nas eleições de 2014.
A Braskem é o braço petroquímico da Odebrecht. Um detalhe chamou a atenção dos procuradores na tabela de repasse de dinheiro aos políticos: o ex-senador Gim recebeu mais que os R$ 200 mil remetidos pela empresa a Geraldo Alckmin (PSDB) e Paulo Skaf (PMDB), então postulantes ao cargo de governador de São Paulo, o estado mais rico da Federação. Já o atual ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB), que disputava uma vaga como deputado federal, recebeu R$ 30 mil, ainda de acordo com o ex-executivo.
Quando questionado sobre essa discrepância, Fadigas disse que as doações dependiam da “relevância dos parlamentares sobre os temas da indústria”. “No estado de São Paulo, a Braskem se perde no meio daquelas indústrias todas, não é uma empresa relevante. Especificamente no caso do Distrito Federal, é possível que o Gim estivesse defendendo algum tema de alinhamento com a empresa”, explicou.
Em função disso, os procuradores questionaram Fadigas sobre a maneira como a Braskem determinava a quantia que seria repassada a cada parlamentar, seja por meio de doação legal ou de caixa 2. “Do jeito que as doações foram construídas, elas eram baseadas exatamente nessa afinidade de interesse. Naturalmente, a empresa não doa para pessoas com pautas contrárias a ela”, afirmou.Em sua delação, Fadigas confirmou que entre “R$ 450 milhões e R$ 480 milhões” foram usados para o pagamento de propina a políticos que se comprometiam a defender os interesses da petroquímica. Aina de acordo com ele, o dinheiro teria sido repassado em um período de oito anos.
Nos registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Braskem não aparece como doadora oficial da campanha de Gim, que tentava a reeleição ao Senado em 2014.
Preso e já condenado a 19 anos de prisão no âmbito da Lava Jato, o ex-senador também foi citado na delação de Cláudio Melo Filho. O ex-executivo da Odebrecht afirmou aos procuradores que Gim recebeu ao menos R$ 2,8 milhões entre 2010 e 2014. Também relatou o pedido de propina que o ex-senador teria feito em troca de não atacar ou convocar as empreiteiras na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da Petrobras no Congresso Nacional.
Na delação de Cláudio Melo, feita em 13 de dezembro do ano passado, o ex-executivo afirmou ter recebido o pedido de “apoio financeiro” feito por Gim durante as campanhas eleitorais de 2010 e de 2014. O delator disse que o ex-senador recebeu o dinheiro, mas não sabe se a quantia foi usada na disputa eleitoral.
Delatores da Lava Jato afirmaram que, ao longo de 2014, o ex-senador pediu R$ 5 milhões para cada empreiteira suspeita de envolvimento com os desvios na estatal. A informação foi confirmada pelo empresário Márcio Faria, também da Odebrecht, em delação.
“O Júlio Camargo (executivo da Toyo-Setal) disse ter sido procurado por Gim, que prometeu interferir favoravelmente às companhias nas investigações (da CPMI)”, afirmou.
Acredita-se que quando o ex-diretor da Braskem fala em “alinhamento com a empresa” por parte de Gim Argello, esteja também se referindo à CPMI no Congresso Nacional. Em 2014, Gim era vice-presidente da comissão.
O advogado de defesa de Gim Argello, Marcelo Bessa, disse que não vai se pronunciar sobre as delações dos ex-executivos da Odebrecht e da Braskem. Isso porque, segundo ele, as denúncias ainda não são investigadas por meio de inquérito na Justiça.