Ex-presidente do Ipea gasta R$ 355 mil em viagens: “Não tô preocupado”
Maioria dos voos foi para SP, às sextas-feiras. Assim, Lozardo passava o fim de semana com a família, que vive na cidade, e ganhava diárias
atualizado
Compartilhar notícia
Amigo pessoal do ex-presidente Michel Temer (MDB), o economista Ernesto Lozardo ficou à frente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) por quase três anos. Nesse período, gastou R$ 355.675,10 para viajar pelo Brasil e pelo mundo. Do total, R$ 95.705,10 foram despendidos em diárias.
A maior parte das viagens foi entre Brasília e São Paulo, onde ele trabalhava e onde vivia a sua família, respectivamente. Apesar de ter o domicílio familiar em São Paulo, em vários desses deslocamentos, Lozardo garantiu o reembolso de diárias na capital paulista, bancada com dinheiro público.
O economista foi exonerado na última quinta-feira (28/2), um dia depois de o Metrópoles questionar o Ipea sobre os gastos com viagens do agora ex-presidente e os pedidos de justificativas para tantos voos com destino a São Paulo.
Ao longo do seu tempo à frente do instituto, Lozardo repetiu um padrão na maior parte dos deslocamentos. O executivo deixava Brasília com destino à capital paulista no fim das quintas ou sextas-feiras. O seu retorno, bancado pelo Ipea, era às segundas.
Lozardo foi nomeado em junho de 2016 para presidir o órgão, que tem como missão dar suporte técnico e levantar informações para que o governo formule políticas públicas e crie programas de desenvolvimento econômico.
Fins de semana em SP
De todas as viagens feitas pelo ex-presidente, 47% foram para ir de Brasília a São Paulo ou vice-versa. Nesse trajeto, saíram dos cofres públicos R$ 122.637,22 para pagar as passagens de avião. Com diárias para o trecho SP-DF, Ernesto Lozardo ganhou ainda R$ 14.463,23.
De acordo com o Portal da Transparência, só nos últimos 10 meses, o ex-presidente do órgão viajou ao menos 20 vezes a São Paulo, em pelo menos dois fins de semana por mês. Os deslocamentos ocorreram exclusivamente às sextas ou aos sábados, e o fim de semana foi emendado. A volta era às segundas ou terças-feiras. Apenas nesse período, o Ipea desembolsou R$ 36.384,92.
Na maioria das vezes, para justificar as idas a São Paulo, o ex-presidente informou ter reuniões na filial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na capital do estado. Os encontros aparecem agendados às sextas pela tarde e às segundas pela manhã (veja abaixo). Questionado sobre os compromissos que aparecem na agenda de Lozardo, o BNDES disse apenas que “cedeu espaço para realização de reuniões, sem prejuízo para as atividades do banco”.
“Não estou preocupado com isso”
O Metrópoles entrou em contato com o ex-presidente do Ipea. Em ligação feita na última quinta-feira (28) – data em que o economista foi exonerado –, Lozardo disse que não poderia conversar. “Mas não estou preocupado com isso”, disparou.
Os questionamentos também foram feitos ao Ipea. Em nota, o instituto afirmou que “por força da atividade da instituição e das atribuições próprias do cargo, é comum o presidente ter que se deslocar para atividades externas, nas quais faz jus a passagens e diárias na forma dos normativos que regem a matéria”.
“Todos os dados, inclusive os motivos de cada viagem a serviço, são públicos e registrados no Portal da Transparência”, completou a comunicação do órgão.
Sobre tantas idas do ex-presidente a São Paulo em fins de semana, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada garantiu que “a permanência do servidor no local de deslocamento durante o final de semana contíguo à atividade de trabalho, desde que custeada pelo próprio servidor, não encontra impedimento legal”.