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“Esquece o PSL”: Bolsonaro dá a senha para debandada do partido

Declaração do presidente agrava cenário da sigla, conflagrada em disputas internas depois do boom nas eleições de 2018

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Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Presidente Jair Bolsonaro
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro - Foto: Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Até 7 de março de 2018, quando o então deputado federal Jair Bolsonaro e pré-candidato à Presidência filiou-se ao partido, o Partido Social Liberal (PSL) era uma legenda quase inexpressiva. Havia elegido apenas um deputado federal em 2014 e não conseguira representação no Senado. A onda bolsonarista que levou o capitão da reserva ao Palácio do Planalto, porém, carregou também a sigla.

Em outubro do ano passado, quando as urnas foram abertas, o partido conquistara 52 cadeiras na Câmara. Com esse desempenho, formou a segunda maior bancada da Casa, atrás apenas do PT, com 56. No Senado, foram quatro os parlamentares que se elegeram pelo partido, incluindo o filho “01” do presidente, Flávio Bolsonaro (RJ). Um ano depois, passados nove meses do governo da maior estrela da sigla, contudo, a glória da legenda parece caminhar para um desfecho melancólico.

“Esquece o PSL, esquece o PSL, tá OK?”, cochichou Bolsonaro, na manhã dessa terça-feira (08/10/2019), ao ouvido de um homem que, na frente do Palácio da Alvorada, afirmara ser de Recife e pré-candidato do partido.

A declaração acabou servindo para escancarar a conflagração que toma o partido do presidente da República. Praticamente desde a posse de Bolsonaro no Planalto, o condomínio variado eleito pelo partido se debate em constantes, quase diários, atritos internos entre parlamentares eleitos, dirigentes e ex-dirigentes da sigla e aliados e antigos aliados de campanha, como no caso da rixa enfurecida entre o professor on-line de filosofia Olavo de Carvalho e integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL), especialmente o deputado federal eleito por São Paulo, Kim Kataguiri.

Some-se ao fogaréu de vaidades do partido nanico transformado em titã parlamentar quase de um dia para o outro o agravamento do escândalo do “laranjal” do PSL e está montado o cenário para a implosão da legenda.

O líder do Podemos na Câmara, José Nelto, afirmou ao Metrópoles que, ainda neste mês, sete parlamentares do PSL vão migrar para o partido. Na próxima semana, a deputada Alê Silva (PSL-MG) se desligará da (ainda) legenda de Bolsonaro. Ela disse ter sido ameaçada de morte pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, depois que denunciou desvio de verba do fundo eleitoral e deflagrou a crise do “laranjal”.

Mudança à vista
A declaração de Bolsonaro logo despertou uma corrida em busca do que analistas consideram ser agora quase uma inevitabilidade: a troca de partido de Bolsonaro e de boa parte de suas hostes no PSL.

Ainda na tarde dessa terça-feira (08/10/2019), o presidente da União Democrática Nacional (UDN), Marcus Alves, disse que a agremiação – até então sem confirmação legal de constituição como partido formal novamente – está de “braços abertos para a família Bolsonaro”.

O presidente do MDB, deputado Baleia Rossi, ao responder um jornalista sobre a possibilidade de receber o presidente em seu partido, disse: “Boa provocação”.

Instantes depois, o líder emedebista quebrou o silêncio com sinceridade: “Aí é o seguinte: qualquer resposta vai ser polêmica”, complementou, mas não acrescentou um “sim” ou um “não” à pergunta.

Segundo o Planalto, Bolsonaro não avalia “no momento” trocar de partido.

Veja a seguir uma pequena lista das confusões que cercam o PSL:

Ministro denunciado
As denúncias de irregularidades começaram logo no início da gestão. Em fevereiro, foram denunciados casos de candidaturas laranjas em Minas Gerais e em Pernambuco durante a campanha eleitoral de 2018.

Em Pernambuco, quem comanda o PSL é o deputado Luciano Bivar, atual presidente nacional do partido. No ano passado, durante a campanha, ele cedeu o posto ao advogado Gustavo Bebianno, representante de Bolsonaro na burocracia eleitoral da campanha – que, por sua vez, sairia queimado do governo depois de despertar a fúria de bolsonaristas de primeira linha, como o filho “02” do presidente, o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro.

Revelados pelo jornal Folha de S.Paulo, os repasses financeiros suspeitos para candidatas mulheres que tiveram baixa votação foram o motivo da demissão de Bebianno, no dia 18 de fevereiro, da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Além do ex-ministro e de Bivar, o escândalo em torno de laranjas também tem como alvo o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, eleito deputado federal com mais de 230 mil votos, recordista em Minas Gerais. Diferentemente de Bebianno, ele se mantém no cargo, mesmo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa.

Mudanças de partido
Em agosto, o deputado Alexandre Frota foi expulso do partido do presidente. O combustível para a crise veio das seguidas críticas do ex-ator a medidas do governo federal e posturas de Bolsonaro, mas o estopim da saída foi a votação da reforma da Previdência, quando a proposta ainda estava sendo analisada pela Câmara. Frota decidiu se abster na análise do texto em segundo turno, contrariando a orientação da legenda. Dias depois de expulso do PSL, filiou-se ao PSDB.

No mês seguinte, foi a vez de a senadora Juíza Selma cortar laços com o PSL e migrar para o Podemos. Ao se desligar do partido, alegou que o fez por divergências políticas – reclamou que a sigla não a defendeu com veemência no processo em que é acusada de abuso de poder econômico e caixa 2.

No Senado, o Podemos é o partido com a segunda maior bancada da Casa, com 11 parlamentares. O maior é o MDB, que tem 13. Na Câmara, a legenda soma dez deputados, mas, confirmada a chegada do “bonde” de integrantes do PSL descontentes, deve ultrapassar o Solidariedade, que hoje tem 14.

Zambelli x Hasselmann
Em São Paulo, duas deputadas pelo PSL vivem às turras. Uma das confusões mais visíveis envolveu uma possível “traição” da líder do Governo no Congresso, Joice Hasselmann. Em 25 de setembro, Carla Zambelli acusou Joice de planejar parceria com o governador de São Paulo, João Doria, no PSDB.

Não foi a primeira vez que farpas foram trocadas. Em maio, Zambelli cobrou publicamente explicações da correligionária sobre a falta de articulação para aprovar, à época, na Câmara, a Medida Provisória nº 870, que tratava da reorganização dos órgãos do governo.

A lembrança do PRN
Nos bastidores, partidos da oposição associam a imagem do chefe do Executivo à do hoje senador Fernando Collor, à época em que era presidente da República pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN), no início dos anos 1990. A sigla foi renomeada e hoje se chama Partido Trabalhista Cristão (PTC).

A comparação se deve ao fato de que, em 1989, o ex-governador de Alagoas elegeu-se presidente da República pela sigla, na época também de pouca expressão no cenário político do país. Chegou a 40 deputados e cinco senadores.

O crescimento e a decadência do PRN acompanharam a efêmera passagem de Collor pelo Palácio do Planalto. Com o impeachment do alagoano, em 1992, o partido também voltou à quase inexpressividade anterior, até ser renomeado.

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