Em live, Bolsonaro se descola de AI-5: “Não falo pelo Eduardo”
Em transmissão ao vivo pelo Facebook, o presidente voltou a atacar a Globo por reportagem do caso Marielle e driblou a polêmica do dia
atualizado
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Depois que o filho Eduardo levantou a possibilidade de um “novo AI-5” contra eventual “radicalização da esquerda”, o presidente Jair Bolsonaro se distanciou do problema durante a transmissão ao vivo pelo Facebook desta quinta-feira (31/10/2019), dando pouco ao assunto. O mandatário do país voltou a atacar a TV Globo, elogiando o trabalho do apresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes.
“Um jornalismo canalha, sem escrúpulos. Desafio vocês a me convidar para falar por 10 minutos sobre esse episódio. Desafio vocês. Vocês não falam tanto em direito de defesa, em jornalismo limpo, honesto? Eu desafio vocês. Hoje, eu falei com o Datena. O assunto não foi esse, foi outro, mas o Datena sempre me dá um espaço quando eu tenho algo complicado. Como hoje, a questão do Eduardo Bolsonaro. Queria que eu falasse, eu falei. Se bem que quem fala pelo Eduardo é ele, não sou eu”, afirmou.
Deputado federal, o filho mais novo do presidente afirmou, em entrevista à jornalista Leda Nagle, que poderia dar uma resposta contra a esquerda no Brasil com um “novo AI-5”. À tarde, ao deixar o Palácio da Alvorada, Bolsonaro desautorizou o filho. “Quem quer que seja que fale em AI-5 está sonhando. Está sonhando. Está sonhando”, declarou.
As críticas à emissora estão relacionadas à reportagem sobre o depoimento do porteiro que citou o nome de Bolsonaro nas investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O material foi exibido na noite de terça-feira (29/10/2019). Pouco depois, por volta das 4h na Arábia Saudita, ele fez uma live enfurecido atacando o trabalho jornalístico.
O Jornal Nacional revelou que o condomínio onde Bolsonaro tem um imóvel no Rio de Janeiro foi visitado pelo ex-policial militar Élcio Queiroz – preso acusado de ser um dos matadores da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes–, em 14 de março de 2018, dia da execução, quando o hoje presidente era deputado federal.
Segundo a reportagem, Élcio teria conseguido a liberação para entrar no local ao pedir que o porteiro interfonasse para a casa 58, de propriedade do então deputado federal e hoje presidente da República. O destino, no entanto, foi o imóvel de número 65, onde morava o PM reformado Ronnie Lessa, outro preso acusado pelo crime.
O porteiro disse à polícia que, pelo interfone, falou com uma pessoa que ele reconheceu como sendo “seu Jair”, mas Bolsonaro estava na Câmara dos Deputados no dia, conforme registros biométricos.
Na quarta-feira (30/10/2019), o filho Carlos, vereador no Rio de Janeiro, divulgou áudios que teriam sido resgatados na portaria do condomínio contestando a versão do depoimento. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) também sustentou que o porteiro mentiu no depoimento, e que quem liberou a entrada de Queiroz foi Ronnie Lessa.
Concessão
Bolsonaro voltou a falar sobre seu poder de decisão quanto ao processo de concessão da emissora. Primeiro, sugeriu que a própria empresa abrisse mão da autorização. “É lamentável uma televisão que nasceu em (19)65… Vocês falam tanto em ditadura, mas nasceram em 65. Vocês deveriam abrir mão da concessão. Foi na ditadura, pô. Tudo do regime militar não presta, né?”, disse.
Em seguida, alertou a TV sobre o rigor para a liberação, mas negou que possa agir contra a lei durante sua análise.
“Em 2022, Globo, temos um encontro: a renovação da concessão. Não é perseguição, não. Pague tudo o que deve. Certidão negativa, tudo, para não ter problema. Não vou passar a mão na cabeça de ninguém. Da Globo nem de ninguém. Vocês têm que estar em dia para renovar a concessão. Estou avisando antes, para não dizer que estou perseguindo vocês. Só uma maneira eu posso realmente não interferir ao lado da lei nesse processo: se eu morrer até lá”, concluiu.