metropoles.com

Em jornal britânico, diplomatas atacam “desmonte” do Itamaraty

The Guardian ouviu atuais e ex-servidores do Ministério das Relações Exteriores para traçar duro retrato da nova política externa brasileira

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
ernesto araújo
1 de 1 ernesto araújo - Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Um corpo diplomático “arguto, confiável e altamente treinado”, próximo de completar 200 anos de atuação, está sendo desmontado pela “revolução bolsonarista” conduzida pelo chanceler Ernesto Araújo. A dura avaliação foi o retrato apresentado pelo jornal britânico The Guardian da situação atual do Itamaraty sob a nova ordem, em reportagem publicada nesta terça-feira (25/06/2019), após consulta a “dezenas de diplomatas veteranos”.

Os personagens ouvidos pela publicação dão nome e sobrenome  – e eles pertencem a figuras extremamente respeitadas dentro do Ministério das Relações Exteriores. Vários, inclusive, são de servidores com pouca – ou nenhuma – ligação com os governos petistas dos últimos anos, algo constantemente utilizado para desmerecer críticas nos primeiros meses da nova administração.

Um dos nomes mais reluzentes é o do embaixador aposentado Rubens Ricupero, ex-ministro do Meio Ambiente e da Fazenda no governo de Itamar Franco (1993 e 1994), ex-embaixador na Itália e nos Estados Unidos e ex-secretário-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU).

“Me sinto enojado”, desabafou, sem filtros, o diplomata. “O que eu ouço dos meus colegas que ainda estão ativos é que, no corpo diplomático, há quase uma completa rejeição ao ministro e às diretrizes atuais … Ele não é levado a sério – nem dentro nem fora do ministério.”

As principais queixas referem-se ao alinhamento quase automático aos Estados Unidos; à defesa de controversos líderes de direita ou extrema-direita nacionalistas pelo mundo, como o premiê da Hungria, Viktor Orbán, e ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu; à reversão de décadas de esforços por mecanismos de maior controle ambiental; e às alfinetadas à China, maior parceira comercial do país hoje.

Tradição “pulverizada”

Desde que o” líder da extrema-direita” Jair Bolsonaro assumiu as rédeas do país, assinala o The Guardian, o novo comando do Itamaraty “se pôs a pulverizar décadas de tradição diplomática”, que ajudaram a transformar o Brasil em um líder global das questões do clima e um “peso-pesado do soft power” (poder suave, em tradução livre; influência não determinada por força das armas ou poderio econômico).

Tudo sob um ministro “pregador da Bíblia pró-Trump” que alega que aquecimento global é “uma conspiração marxista” e nazismo foi “um movimento de esquerda”, prossegue o jornal, um dos mais influentes no cenário europeu.

“Nossa atual política externa leva o Brasil de volta a um período histórico no qual o país nem existia: a Idade Média”, sentenciou, furibundo, um dos mais celebrados diplomatas da sua geração, Roberto Abdenur.

Ele foi embaixador, entre outros postos de destaque, na Alemanha, na China e nos Estados Unidos – último posto antes de se aposentar, após bater de frente com o governo Lula, do qual se revelou  crítico ao deixar Washington.

03, Olavo, Bannon…

Outras críticas dos diplomatas expostas na reportagem foram dirigidas a três figuras específicas: ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho “03” do presidente, e apontado como uma espécie de “chanceler de fato”; ao astrólogo/polemista/autodefinido filósofo Olavo de Carvalho, morador da Virgínia, nos Estados Unidos, tido e havido como o “guru” de Ernesto Araújo e de alguns outros integrantes do primeiro escalão bolsonarista; e ao ex-chefe de campanha de Donald Trump, líder de um grupo de extrema-direita que se espalha pelo mundo, Steve Bannon.

Roberto Abdenur, por exemplo, fez questão de assinalar o incômodo com o papel que Bannon parece ter na definição da política externa brasileira da nova era. O norte-americano chegou a apontar “03” como o líder de seu The Movement – como ele intitulou o grupo de extrema-direita que capitaneia  na América do Sul. Com coisas como essa, recebeu um lugar à mesa bolsonarista. Diz Abdenur:

“Estamos na situação absurda, perversa, de termos um cidadão estrangeiro influenciando a política externa brasileira!”, protestou o experiente diplomata.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?