Senado: sessão que elegeu Alcolumbre durou 8 horas só neste sábado
Processo começou após posse dos parlamentares, na sexta, e prosseguiu hoje, sendo feito em duas etapas. Renan Calheiros desistiu
atualizado
Compartilhar notícia
Após mais de oito horas de debates e reviravoltas só neste sábado, um estreante no Senado Federal assumirá o comando da Casa pelos próximos quatro anos. David Alcolumbre (DEM-AP) foi eleito presidente com 42 votos, em primeiro turno, mas numa segunda votação realizada neste sábado (2/2). O resultado foi obtido após seu principal oponente, Renan Calheiros (MDB-AL), abandonar a disputa revoltado com a declaração de votos durante a sessão secreta e ao perceber que fora traído: não teria todos os votos prometidos pelo PSDB, entre outros aliados.
Com Renan fora do páreo, Alcolumbre só precisou manter os votos que já lhe eram prometidos. Ele superou outros cinco políticos na disputa: Esperidião Amin (PP-SC), com 13 votos; Renan Calheiros, que mesmo fora ainda recebeu 5 votos; Angelo Coronel (PSB-BA), 8; José Antônio Reguffe (sem partido-DF), 6; e o ex-presidente Fernando Collor de Mello, que teve 3 votos.
Em seu primeiro discurso como presidente do Senado, o democrata afirmou: “Estamos aqui para servir o povo brasileiro e não para nos servir dele”, disse. E garantiu a Renan Calheiros: “Ele terá o mesmo tratamento que os demais partidos devem ter”.
Veja como foi a transmissão ao vivo do Metrópoles:
Veja imagens do momento da desistência de Renan Calheiros, que tentava eleger-se presidente do Senado pela quinta vez:
Mais de 24h de impasse
A sessão que levou Alcolumbre à vitória, contudo, começou um dia antes, na sexta-feira (1º), logo após a posse dos senadores dessa legislatura. Porém, não houve consenso sobre a condução dos trabalhos e se a votação seria fechada ou aberta.
Renan Calheiros e aliados, como a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), pressionaram bastante Alcolumbre por ser candidato e conduzir os trabalhos. A situação piorou após os senadores aprovarem, por 50 votos a 2, que a eleição seria por votação aberta, e não secreta – o que beneficiaria Renan. A sessão foi adiada para este sábado após muito bate-boca e um frágil acordo costurado: em vez do democrata, o decano da Casa, João Maranhão (MDB-PB), conduziria os trabalhos pela manhã, mas desde que houvesse consenso e a votação fosse aberta.
Neste sábado, logo cedo, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, “melou” o acerto, ao determinar votação secreta para a escolha da nova Mesa Diretora, o que levou Alcolumbre e mais 13 parlamentares a se reunirem, a partir das 7h e até depois das 11h, para decidir o que fazer. Sabiam que, com voto secreto, os políticos que não querem se associar aos enroscos judiciais de Renan Calheiros poderiam aderir à tentativa de o emedebista se eleger pela quinta vez presidente do Senado.
“Meu coração clama por rebeldia contra a decisão do Toffoli, mas não vou estacionar um jipe na porta do Supremo Tribunal Federal”, afirmou o senador Jorge Cajuru (PSB-GO). Até boa parte da sessão, os aliados de Alcolumbre tentavam evitar a eleição da Mesa Diretora neste sábado. A decisão, beneficiava diretamente Renan Calheiros.
Com esse contexto, a votação começou, de forma secreta e com votos em cédulas, pois João Maranhão acatou requerimento neste sentido. A tendência era o Senado só eleger um presidente em segundo turno, pois Alcolumbre contava 41 votos e Renan, 42. Contudo, o pleito foi cancelado: ao conferirem as cédulas preenchidas pelos senadores, os escriturários perceberam haver 82 votos, embora a Casa conte com 81 parlamentares (todos presentes).
Sob a suspeita de fraude e com o plenário exigindo ser ouvido para uma providência, Maranhão decidiu destruir as cédulas e chamar nova eleição. O senador Major Olímpio disse que a situação não ficará assim: promete pedir apuração, com requisição das imagens das câmeras de segurança da Casa, para que seja identificado quem colocou o fatídico voto extra na urna eleitoral, melando o pleito inicial deste sábado.
Retirada
A segunda votação mal começara quando Renan Calheiros surpreendeu a todos, anunciando sua retirada da disputa. “Ontem [sexta], a maioria teve de judicializar a decisão do Senado. É a primeira vez que isso acontece numa casa legislativa. Agora, estamos repetindo uma votação que foi anulada, porque um senador colocou uma cédula dentro de outra cédula”, disse. “Não sou mais candidato”, afirmou Calheiros.
Após falar isso, em tom exaltado, ele deixou o plenário. Embora aliados tenham tentado impedir a continuidade da eleição, o igualmente aliado do senador e presidente da sessão deste sábado, José Maranhão, deu continuidade ao pleito. Até o também candidato Espiridião Amin (PP-SC) ficou contrariado: “Resolvemos fazer uma nova eleição porque um voto estaria fraudado. Agora, a fraude é maior. Peço que se renove a votação”. A votação prosseguiu tumultuada.
Na nova contagem de votos, verificou-se que quatro senadores do MDB deixaram de votar. Além de Renan, os aliados Jader Barbalho, Maria do Carmo e Eduardo Braga, que apoiavam o candidato. Assim, o estreante Alcolumbre se elegeu em primeiro turno, com o apoio do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), e do partido do presidente Bolsonaro, o PSL.
Confira votos da votação deste sábado:
Veja imagens da posse e sessão do Senado para a escolha de seus dirigentes nesta legislatura: