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Diplomata aponta crítica a Eduardo Bolsonaro como causa da exoneração

Para embaixador Paulo Roberto de Almeida, fazer comentários sobre filho do presidente contribuiu para sua demissão pelo chanceler brasileiro

atualizado

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Roque de Sá/Agência Senado
Paulo R Almeida 1
1 de 1 Paulo R Almeida 1 - Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O embaixador Paulo Roberto de Almeida inclui uma postagem que fez sobre o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) entre as razões de sua exoneração do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI). Em mensagem publicada no seu blog Diplomatizzando, na madrugada dessa terça-feira (5/3), o diplomata expôs sua opinião sobre as razões da demissão.

“Encontro outro motivo, talvez mais relevante, que é minha condenação do sectarismo e do fundamentalismo de um dos três descendentes da estirpe presidencial, aquele que condenou a soltura do ex-presidente encarcerado para participar do velório e cremação do neto”, escreveu Almeida.

Confira:

Reprodução/Diplomatizzando

 

Na sequência, o embaixador reproduziu um tuíte de sua autoria publicado no sábado (2): “Fundamentalistas de esquerda e de direita não só se parecem como são exatamente iguais”. Essa postagem foi uma crítica à manifestação do deputado, na mesma rede social, em relação à saída da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o velório de seu neto Arthur, morto em decorrência de meningite.

 

Filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo publicou um texto no Twitter que questionava o direito de o líder petista participar do funeral, fato que provocou a crítica de Almeida. “Quando o parente de outro preso morrer ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado”, postou Eduardo na ocasião.

Desde que tomou conhecimento da perda do cargo, o embaixador usa as redes sociais para discutir a medida tomada pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Em vários posts no Diplomatizzando, com o título “Buscando razões da exoneração do IPRI”, Almeida aborda os motivos especulados para a saída.

Oficialmente, o Itamaraty atribui a exoneração ao rodízio nos cargos de chefia decorrente no início do novo governo:  “A troca da presidência do IPRI, no contexto da troca da grande maioria das chefias do Ministério das Relações Exteriores, já estava decidida e foi comunicada ao atual titular”, diz nota divulgada pelo órgão.

FHC e Ricupero
Logo que a decisão se tornou pública, a primeira razão apontada foi a publicação no Diplomatizzando de artigos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do diplomata e ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, ambos críticos à atuação de Araújo à frente do Itamaraty.

Esses textos foram compartilhados junto com outro artigo, escrito pelo ministro, sobre a crise na Venezuela. Tanto o texto de FHC quanto o de Ricupero abordam a situação caótica do país vizinho e, também, a política adotada no episódio pelo governo brasileiro.

A impressão de que a demissão tem ligação com o blog foi reforçada por uma suposta mensagem de Araújo publicada pelo escritor Olavo de Carvalho, espécie de guru do bolsonarismo. “Almeida já vinha falando e postando muita coisa contra a nova política externa (nunca a favor), e eu tolerava, mas desta vez ele passou os limites”, destacou o ministro, segundo o escritor.

O conjunto de postagens leva a crer que, de fato, a exoneração do embaixador tem a ver com suas opiniões expressas no Twitter e no blog. Pelo conteúdo da mensagem atribuída por Carvalho a Araújo, faz sentido que a espetada de Almeida em Eduardo Bolsonaro tenha contribuído com sua exoneração. Seria uma das coisas que ele estaria “falando” que contrariaram o chanceler.

Como o embaixador também andou postando textos críticos ao ministro, pode-se concluir que a demissão foi motivada pela publicação dos artigos no Diplomatizzando e pelo tuíte sobre Eduardo.

Crítico do PT
Essa conclusão, de certa forma, surpreende quem esperava que os maiores embates de Araújo seriam com os setores mais alinhados aos governos do PT. Almeida foi um crítico contumaz das administrações petistas, em particular, da política externa.

Mais próximo do pensamento liberal, o embaixador tem em seu currículo, por exemplo, a organização dos livros “O homem que pensou o Brasil” e “A Constituição contra o Brasil”, ambos sobre o economista Roberto Campos, guru dos liberais brasileiros e oponente das ideias estatizantes e socialistas encampadas pelo PT.

Quem acompanha o Diplomatizzando sabe que Almeida gosta de expor seus trabalhos e opiniões. Nas próprias palavras, ele é um “contrarianista libertário que insiste em debater ideias, mesmo quando elas desagradam autoridades”. Como se pode ver, o embaixador tem sido bem-sucedido na disposição de contrariar quem pensa diferente.

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