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Deu match na Previdência: como a reforma aproximou Frota e Guedes

O ministro da Economia e o deputado vivem uma relação “extracongressual” e movimentam o WhatsApp com aulas sobre a proposta da reforma

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Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Rogério Marinho, Alexandre Frota, Paulo Guedes
1 de 1 Rogério Marinho, Alexandre Frota, Paulo Guedes - Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Vivendo as suas primeiras experiências na carreira pública, o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o deputado federal Alexandre Frota (PSL-SP), tiveram os caminhos cruzados na reforma da Previdência. De um lado, o homem forte do governo, escolhido para a missão de tirar o país da recessão. Do outro, um homem forte. Ex-ator e calouro na trajetória política, ele decidiu tornar-se parlamentar aos 55 anos, alimentado pelo sentimento antipetista que dividia com as ruas. A principal pauta do governo de Jair Bolsonaro (PSL) os uniu. Com isso, o congressista se transformou no “amigo Frota”, com quem Guedes conversa semanalmente, na maioria das vezes no nascer do dia, entre 5h e 7h.  “Não é que a gente não durma, a gente só acorda cedo”, explica o deputado.

Eleito com 155 mil votos, Frota tem desempenhado o papel de coordenador de bancada do partido na comissão especial da reforma da Previdência há dois meses. Em uma espécie de “briefing”, Guedes pauta o deputado para as sessões que analisam as mudanças na aposentadoria, que geralmente ocorrem nas terças, quartas e quintas na Câmara dos Deputados. Quando o ministro não pode, integrantes da equipe econômica explicam ao parlamentar pontos da proposta de emenda à Constituição, a PEC nº 6/2019. O teor depende do foco que será tratado pelo colegiado.

Quando não é pessoalmente, o deputado e Guedes se falam pelo telefone. Desde o início de abril, Frota mantém essa relação próxima com os integrantes da Economia. Fala com eles mais do que fala com alguns amigos, brinca. Quando não é em uma conversa virtual privada com Guedes, é no grupo, formado pelo economista, com toda a sua equipe, membros titulares da comissão especial e suplentes: “Eu não gosto de grupos, mas ali também vem muitas opiniões. Na comissão, quando eu preciso tirar uma dúvida em cima da hora, eu mando por lá”.

Veja alguns prints das conversas:

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Os pontos prioritários para serem desmistificados são aqueles que causam mais polêmica dentro do colegiado. O benefício de prestação continuada (BPC), a aposentadoria rural e a capitalização foram alguns dos temas abordados durante os encontros. Frota conta que foi ele quem nomeou a nova proposta de regime previdenciário de Guedes: de capitalização passou para “poupança garantida”. “Eu tento verbalizar mais em texto que em números, porque a população entende melhor”, explica.

Além do quadro técnico da Economia, também participam das reuniões especialistas do Planalto e do próprio PSL. Apesar de ter sido convidado pelo próprio presidente para concorrer à eleição na mesma sigla que a dele, Frota não esconde as diferenças que têm com o atual governo. Mesmo com a amizade fluindo com Guedes, ele se diz “independente” no partido. “Às vezes eu também discordo e bato no governo, ainda que eu seja coordenador”, pondera.

Esse foi o caso da idade mínima de aposentadoria das mulheres. Na proposta enviada pela equipe econômica, elas só poderiam se aposentar aos 60 anos. Mas, à comissão especial, o deputado defendeu que fossem 58 anos. Firme, de personalidade forte, Frota é seguro em suas colocações: “Acho que se depositou muita coisa em cima apenas da Previdência. Temos outros assuntos que são importantes também, como a reforma tributária e a política”.

O escolhido
Frota foi escolhido para a posição de coordenador pelo presidente do PSL, Luciano Bivar (PE), pelo líder, delegado Waldir (GO), e abençoado por Guedes. Como justificativa, o deputado afirma que é “disciplinado”. Todos os dias ele se levanta por volta das 4h30. Aproveita para fazer uma caminhada no Parque da Cidade e segue para a Câmara. Lá, vai à liderança do PSL e acompanha as principais notícias do dia da sua sala – além do líder do partido, delegado Waldir (GO), ele é o único parlamentar que tem um escritório no local. É lá que recebe o grupo da Economia. Só quando o encontro é com o ministro que ele vai ao prédio da Economia.

Depois, pesquisa assuntos ligados ao tema que podem se transformar em “um ataque da esquerda” para, assim, conseguir “rebater o discurso”. Desde que se tornou coordenador, o deputado elabora as estratégias que serão usadas na comissão. Divide todas elas com Waldir. “Eu não faço nada sem que ele saiba”, diz, num tom de lealdade. Acredita ter sido escolhido também porque tem um estilo diferente de alguns parlamentares que, segundo ele, se dividem entre reuniões com prefeitos, ministros e vereadores. “Eu fico aqui. Se fui cinco vezes no meu gabinete desde o início do ano foi muito”, explica.

O agora político chega a Brasília às segundas-feiras e volta para São Paulo às sextas, no primeiro horário disponível de voos. Mora em Cotia, a 35 km da capital paulista, em uma casa. Nos fins de semana, fica com a  mulher, Fabiana, e os dois filhos. A caçula nasceu neste ano e tem quatro meses. “Mesmo com pouco tempo destinado à família, gostaria de trabalhar os cinco dias na semana”, afirma. Frota estabeleceu para si a meta de fazer o contrafluxo daquilo que chama de “rotina parlamentar”: chega ainda de manhã ao Congresso, almoça às 11h30 e volta quando os colegas estão indo almoçar. “Por isso estou sempre entre os três primeiros a falar”, vangloria-se o calouro.

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Encontro sobre a reforma com integrantes do governo e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni
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Presidente do PSL, Luciano Bívar, ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e Alexandre Frota (PSL-SP), durante uma reunião sobre a Previdência

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Encontro sobre a reforma com integrantes do governo e o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni

Arquivo Pessoal

Apaziguador
Além da relação com Guedes, Frota age como um intermediador entre os Poderes. Devido aos constantes bate-bocas entre o ministro, o presidente Bolsonaro e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o deputado funciona como um apaziguador. Nesta segunda-feira (24/06/2019), por exemplo, ele irá almoçar com o titular da Economia e o deputado fluminense, para, nas suas palavras, “apagar o incêndio e tirar a gasolina da fogueira”. Isso porque Guedes, nas últimas semanas, criticou o trabalho do relator da proposta, Samuel Moreira (PSDB-SP), principalmente por ter deixado de fora do texto a capitalização.

“Ela foi retirada sem muita discussão. Ele [Guedes] sentiu muito”, conta Frota. Mas acrescenta: “Também não adianta colocar o assunto em destaque se não tiver voto”. Até que a reforma chegue ao plenário da Câmara, Frota conta que o PSL vai elaborar três destaques para serem analisados. O teor deles, contudo, ainda não está definido. Ficará a cargo da equipe econômica. Já a capitalização deve ser feita por meio de uma nova PEC, na sequência da aprovação da Previdência.

“As críticas não me abalam. Passei a vida toda sendo criticado”. Conhecido por ter sido estrela de filmes pornôs, Frota já foi diretor, comediante, jogador de futebol americano, apresentador, empresário e modelo. É bem resolvido com o passado e reage bem aos comentários sobre a carreira que tinha antes de se tornar parlamentar. Vaidoso, mostrou à reportagem áudios de Guedes, Maia, Bivar e colegas deputados elogiando o seu trabalho.

“O Alexandre Frota tem sido muito construtivo no apoio às reformas econômicas que estamos encaminhando à Câmara dos Deputados. Tem dado apoio operacional indo a todas as sessões evitando, inclusive, as convocações desnecessários que visam criar atrito e apoio quanto ao conteúdo das propostas. Chegamos a mudar toda a parte de comunicação que se referia a um regime de capitalização da nova Previdência”, detalhou Guedes a respeito da atuação no Congresso do ex-ator.

Mesmo mantendo uma boa relação com figuras importantes do governo, Frota conta que não segue o vereador Carlos Bolsonaro, filho do meio do presidente, nas redes sociais, porque “não se interessa por nada que venha dele”. Critica, inclusive, as postagens que geram polêmica e atrito entre os governistas. “Nessas horas, vivo um caso de amor e ódio com a internet”, afirma. Mas, apesar disso, garante que defenderá as pautas econômicas do governo 

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