Deltan teria idealizado monumento à Lava Jato, mas Moro previu crítica
O então juiz federal afirmou que o gasto deveria vir de terceiros, pois, caso contrário, soaria como soberba
atualizado
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O procurador da República Deltan Dallagnol teria idealizado um monumento à força-tarefa da Operação Lava Jato para, com isso, incentivar reformas dos sistemas político e judicial em Curitiba. O projeto de marketing, no entanto, nunca foi concretizado, mas rendeu discussões entre procuradores e até com o então juiz Sergio Moro, que não teria demostrado entusiasmo com a ideia.
A constatação faz parte do acervo da Vaza Jato obtido pelo site The Intercept Brasil e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quarta-feira (21/08/2019). O plano de Deltan era realizar um concurso de uma escultura que simbolizasse a operação e mudanças defendidas pelos procuradores, como o projeto das 10 medidas contra a corrupção, e a reforma política.
“A minha primeira ideia é esta: algo como dois pilares derrubados e um de pé, que deveriam sustentar uma base do país que está inclinada, derrubada. O pilar de pé simbolizando as instituições da justiça. Os dois derrubados simbolizando sistema político e sistema de justiça…”, teria idealizado Deltan Dallagnol.
O plano foi levado pelo procurador a Sergio Moro. Deltan esperava obter apoio do magistrado para colocar a peça na praça em frente à sede da Justiça Federal. O concurso de escultura simbolizaria “o fato de que a Lava Jato é um avanço”, mas que era preciso avançar com reformas, como dos sistemas políticos e de justiça.
“Isso virará marco na cidade, ponto turístico, pano de fundo de reportagens e ajudará todos a lembrar que é preciso ir além… Posso contar com seu apoio?”, teria perguntado Dallagnol a Moro. O juiz, no entanto, teria demonstrado contrariedade: “Não é melhor esperar acabar?”
Deltan negou que o propósito fosse “endeusar” a operação e teria insistido: “Eu apostaria que tão somente a existência do concurso já será matéria de jornal, estimulará o debate sobre reformas, e frisaremos na proposta do concurso das esculturas a necessidade de reformas e que elas simbolizem as reformas necessárias”.
Depois de pedir um prazo para pensar, Moro teria dado opinião contrária: “Melhor deixar para depois. Em tempos de crise, o gasto seria questionado e poderia a iniciativa toda soar como soberba”. Para o então juiz, homenagens deveriam vir de terceiros.
Procurado pela reportagem, o Ministério Público Federal no Paraná disse que, em uma força-tarefa, “diversas vezes iniciativas são cogitadas por seus integrantes ou por terceiros, sendo que muitas não se concretizam após reflexão e ponderações, pelas mais variadas razões”. O MP afirmou ainda que os integrantes da equipe têm defendido que haja reformas nas leis para reduzir a corrupção.