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Em debate morno no Santuário de Aparecida, Haddad e Ciro se poupam

Aguardado embate entre os dois candidatos que disputam o espólio eleitoral do ex-presidente Lula e uma vaga no segundo turno não aconteceu

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TV Aparecida/Reproduçãp
Debate CNBB presidenciáveis
1 de 1 Debate CNBB presidenciáveis - Foto: TV Aparecida/Reproduçãp

O debate entre os candidatos à Presidência da República promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e transmitido, ao vivo, pela TV Aparecida, na noite desta quinta-feira (20/9), não trouxe o que muitos esperavam: um embate mais duro entre os candidatos do PT, Fernando Haddad, e do PDT, Ciro Gomes. Ambos brigam pelo espólio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por uma vaga no segundo turno, quando, provavelmente, um deles enfrentará o candidato do PSL, Jair Bolsonaro.

O que se viu foi um debate morno, entre dois adversários que se tratam como “amigos”. O momento que trouxe alguma tensão entre eles foi quando Ciro perguntou a Haddad o que ele faria para solucionar a “maior distorção de todas as gravíssimas distorções do país: o sistema tributário”.

Haddad disse que suas propostas consistem em garantir a estados e municípios que suas receitas de impostos não vão cair ao longo da transição do sistema tributário e fixar um imposto de valor agregado que congregue todos os outros tributos sobre consumo para simplificar e diminuir a carga tributária beneficiando os mais pobres.

Ciro Gomes replicou: “O amigo me perdoe, mas eu vou dar uma pinicadinha”. E perguntou sobre o porquê de o PT não ter posto em prática essas propostas em 16 anos de governo. O pedetista lembrou que as propostas apresentadas pelo petista são defendidas por ele desde 1996, quando escreveu um livro.

Mediado pela jornalista Joyce Ribeiro, o debate reuniu os candidatos Alvaro Dias (Podemos), Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos (PSol), Henrique Meirelles (MDB), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB). O evento ocorreu no Santuário de Aparecida, em Aparecida do Norte (SP), e esta foi a segunda vez que a emissora católica organizou e transmitiu um embate entre presidenciáveis: a primeira foi no pleito de 2014.

Questões genéricas
Afora isso, o debate abordou temas como saúde, emprego, reforma política, violência contra a mulher, trabalho infantil, desigualdades, ética e combate à corrupção, entre outros. Os candidatos seguiram à risca o que já foi divulgado por meio de seus programas de governo.

No momento que foi talvez o mais tenso do debate,  Alvaro Dias tomou a iniciativa de atacar Haddad. O petista o questionou sobre propostas para o fortalecimento da família. Para o candidato do Podemos, Haddad é o “porta-voz da tragédia e do caos”.

“Você vem para essa campanha como porta-voz da tragédia, representante do caos. O PT se transformou na filosofia do fracasso, na crença da ignorância, no arauto da intolerância. Se especializou em distribuir a pobreza para todos e a riqueza para alguns de seus líderes”, disparou Dias. Em réplica, Haddad citou projetos promovidos pelo PT, como Bolsa Família e o Programa Universidade para Todos (Prouni).

No bloco anterior, os presidenciáveis haviam respondido questionamentos de jornalistas ligados a emissoras católicas. Perguntado sobre trabalho infantil, Boulos avaliou que é fundamental dar oportunidades para as crianças. “Elas têm que estar na escola, e não trabalhando”. Ele prometeu federalizar a proposta da lista negra do trabalho infantil. “Empresa pega com trabalho infantil tem que ser fechada. Se for no campo, tem que ter desapropriação. Com trabalho infantil não se brinca”, disse.

No tema reforma política, Alckmin foi questionado se ela se faz necessária diante do cenário de crise. O tucano respondeu: “Reforma política é essencial. Proponho o voto distrital misto, onde o eleitor acompanha e participa do mandato. E voto facultativo. Voto é direito”. Alckmin voltou a falar sobre as quatro reformas que quer implementar: “a política; a tributária, onde cinco impostos vão virar um; a reforma da Previdência para acabar com privilégios; e a reforma do Estado, que é apertar o cinto do governo para não apertar o da população”, detalhou.

Clima ameno
No segundo bloco, quando houve a primeira rodada de perguntas entre os postulantes a presidente, as questões foram amenas. Direcionando-se a Alvaro Dias sobre o tema igualdade de gênero, Boulos prometeu implantar uma “lista suja do machismo”, cadastro semelhante ao de empregadores flagrados com trabalho escravo. “É preciso enfrentar a falta de participação de mulheres na política. Metade dos nossos ministérios será chefiado por elas”, disse o representante do PSol.

Geraldo Alckmin perguntou a Henrique Meirelles sobre propostas para segurança pública. O ex-ministro da Fazenda prometeu a implantação de um sistema de inteligência em monitoramento, com investimentos em equipamentos tecnológicos: “A violência se debate com inteligência. É necessário que os estados equipem seus agentes de segurança”.

Haddad questionou Alckmin sobre reforma trabalhista, terceirização e limitação de investimentos em áreas essenciais promovidas pela PEC do Teto dos Gastos. O petista associou Alckmin ao presidente Michel Temer (MDB). O tucano confirmou ser favorável às medidas, mas disse que o emedebista foi escolhido vice de Dilma Rousseff pelo próprio PT.

“Quem escolheu o Temer foi o PT. Ele era vice da Dilma. Aliás, escolheram o Temer duas vezes. Em vez de fazer uma autocrítica, o PT lança candidatura em porta de penitenciária”, acusou o tucano. “Nós vamos revogar a reforma trabalhista, que fragiliza o trabalhador diante do empregador”, retrucou Haddad.

Marina e Ciro debateram problemas da área de saúde pública. A candidata da Rede à Presidência da República prometeu quebrar patentes de remédios de alto custo no Sistema Único de Saúde (SUS): “Nós vamos quebrar as patentes para o povo ter acesso a remédios”. Como resposta, o pedetista propôs um sistema mais dinâmico para a distribuição de remédios no país e defendeu um maior investimento na fabricação nacional de remédios. “O país precisa investir na indústria nacional da saúde e ter autonomia na produção de remédios. Nós vamos fazer”, prometeu.

Ética e corrupção
Antes, no primeiro bloco, os candidatos responderam a uma pergunta do cardeal Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo: se é possível acreditar na retomada do caminho da ética e combate à corrupção. Boulos destacou que é necessário “refundar a democracia brasileira e acabar com o toma-lá-dá-cá”; Haddad falou em “fortalecer todas as instituições de combate à corrupção no Estado”. Alvaro Dias defendeu a Lava Jato e disse que ela tem que ser “política de Estado”.

Ciro destacou que é preciso apresentar ao eleitor ideias, “para que o eleitor vote em ideias, e não em caudilhos”. Meilrelles ressaltou que os cargos públicos devem ser ocupados por “pessoas competentes e honestas”. Marina cobrou mais medidas para “fortalecer Ministério Público e Polícia Federal”. Já Alckmin disse: “Quem enriquece na política é ladrão”.

No quinto e último bloco, a palavra voltou para representantes da Igreja Católica: bispos da CNBB questionaram os candidatos sobre questões como direito à vida, defesa da família e valores éticos.

Ausentes
Jair Bolsonaro (PSL), que sofreu um atentado, segue internado, mas seus apoiadores fizeram uma carreata na porta dos estúdios da TV Aparecida. Em meio a buzinaço que durou mais de 20 minutos, os apoiadores gritaram palavras de ordem favoráveis ao candidato e à Polícia Federal. Também soltaram fogos.

Ligado à Assembleia de Deus, Cabo Daciolo faltou a debate da CNBB. Ele alegou incompatibilidade de agenda.

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