De jogador a deputado: Washington quer ter “coração valente” na Câmara
Ex-atacante, que teve problemas cardíacos, foi empossado no cargo como suplente de Onyx Lorenzoni, ministro extraordinário da transição
atualizado
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Tornar-se deputado federal de uma hora para a outra é mais uma emoção para o coração de Whashington Stecanela Cerqueira, 43 anos, lidar. Conhecido como “Coração Valente”, o ex-jogador de futebol foi surpreendido com a notícia de que assumiria o cargo na Câmara na última semana. Mas, apesar da novidade ainda não ter sido digerida, ele tem esperança que o músculo, que tanto falhou durante suas quase duas décadas de gramado, aguentará a pressão.
“Espero que o coração seja forte e valente na Câmara também”, brincou o agora deputado do PDT, em entrevista ao Metrópoles. Washington foi empossado no cargo depois que Onyx Lorenzoni (DEM-RS) passou a ser ministro extraordinário. O democrata é o coordenador da equipe de transição, por parte do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e precisou se afastar da Casa Legislativa. Como era suplente na chapa de Lorenzoni, a vaga ficou com “Coração Valente”.
“Me ligaram dois dias antes dizendo que eu teria de assumir e eu achei que era brincadeira”, conta o ex-jogador. Agora, ele terá de dividir o tempo entre três estados brasileiros. Isso porque, atualmente Washington mora em Aracaju (SE), onde a mulher e os três filhos continuarão ao menos até o fim do ano, já que as crianças estão em período escolar.
No entanto, o mandato é pelo Rio Grande do Sul, onde o deputado precisará estar com frequência para ouvir as demandas dos eleitores. Além disso, de terça a quinta, “Coração Valente” baterá ponto na Câmara dos Deputados, em Brasília. “Me mudei de Caxias para o Sergipe tem um ano, até porque eu não esperava que fosse acontecer essa virada, né?”, explica.
Apenas três meses de mandato
Washington concorreu ao cargo de deputado federal pelo Rio Grande do Sul ainda em 2014. Assim, ele irá assumir a vaga na Câmara por apenas três meses, já que o mandato desta legislação acaba em janeiro de 2019. De trabalho mesmo serão apenas dois – o primeiro mês do ano é sempre de recesso parlamentar. Por esse curto período de serviço receberá exatos R$ 101.289,00.
Perguntado sobre isso ele preferiu não entrar em polêmica, disse apenas acreditar que dará tempo sim de desenvolver algum trabalho significativo. “Eu vou tentar aproveitar ao máximo cada dia, tentar implementar algumas idéias e projetos. Claro que eu preciso também me habituar ao sistema, mas estou com boa vontade e empolgado para ajudar”, completou.
Esse não será o primeiro contato de “Coração Valente” com a política. Em 2012, o ex-jogador foi eleito vereador de Caxias do Sul, também pelo PDT e, logo depois, assumiu a secretaria de esportes da cidade gaúcha. No entanto, apesar de ser do partido do candidato derrotado à Presidência da República Ciro Gomes, que faz oposição ferrenha ao futuro presidente, Washington diz ter uma visão parecida com a de Bolsonaro.
Claro que a gente tem que ter respeito pelo partido, mas eu tenho a minha linha de pensamento. E minha conduta é alinhada com o presidente [Bolsonaro] sim
Washington "Coração Valente"
Início em Brasília
“Muita gente esquece, mas eu sou brasiliense e nasci no Hospital de Taguatinga. Fui criado na Quadra 411 Norte, morei lá até meus 15 anos. Comecei na categoria de base do Brasília até que fui contratado pelo Caxias do Rio Grande do Sul”, lembra Washington.
Do Sul, o atacante passou a ganhar o mundo, teve passagens pelo Internacional, Atlético Paranaense, São Paulo, Fenerbahçe, da Turquia, até que enfrentou o principal drama de sua carreira. Em 2002, começou a sentir dores no peito. No time do Paraná, foi reprovado nos exames cardiovasculares e precisou passar por uma cirurgia de cateterismo de emergência.
À época, muitos deram sua carreira como acabada, mas Mário Celso Petraglia, que presidia o Furacão, apostou na recuperação do jogador. Um ano depois, Washington foi artilheiro com 34 gols do Campeonato Brasileiro e ganhou o apelido de “Coração Valente”.
A carreira do atacante seguiu: ficou três temporadas no futebol japonês, voltou ao Brasil onde vestiu a camisa do Fluminense. Teve ainda passagens na Seleção Brasileira, atuou em partidas das Eliminatórias para a Copa do Mundo, além da Copa das Confederações. Encerrou a carreira apenas em 2011. De lá para cá, tenta a carreira política, como também, a de técnico e dirigente de futebol.