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Crise no PSL: nove dias que abalaram o partido de Bolsonaro

Está difícil acompanhar o ritmo da fogueira na legenda do presidente da República? O Metrópoles te ajuda com um resumo em 8 capítulos

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JP Rodrigues/Metrópoles
Bolsonaro no Alvorada, 26/08
1 de 1 Bolsonaro no Alvorada, 26/08 - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Epígrafe

“Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder.”

Dilma Rousseff

Prólogo
De partido nanico, que fez apenas um deputado federal na eleição de 2014, o PSL iniciou a atual legislatura como um gigante, dividindo com o PT o posto de maior bancada da Câmara, com 54 deputados, além de ter eleito três senadores. No início do ano, os planos eram ambiciosos: agregar mais 10 parlamentares para tomar de vez a hegemonia petista e liderar a base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.

Menos de um ano depois, a legenda se desfaz em uma disputa que transformou em “água e óleo” duas alas que nem sequer conseguem sentar para conversar e já atrapalham a agenda do governo no Congresso.

A crise que vinha crescendo de maneira lenta e constante explodiu há 10 dias, por iniciativa do próprio Bolsonaro, e desde então se desenrola em velocidade difícil de acompanhar. Para ajudar, o Metrópoles retoma os acontecimentos dos nove dias que implodiram o PSL.

Capítulo 1 – “Esquece o PSL, tá ok? Esquece!”
Bolsonaro deu a senha para o estouro da atual crise em um dos momentos de descontração e tietagem na portaria de sua residência oficial, o Palácio da Alvorada. Ao ser filmado por um pré-candidato a prefeito de Recife (PE) que buscava o seu apoio, o presidente ficou impaciente e disse: “Esquece o PSL, tá ok? Esquece”.

Diante da insistência do apoiador, que seguiu filmando e citou o presidente da sigla, o deputado federal Luciano Bivar (PSL-PE), Bolsonaro foi mais incisivo:

“Não divulga isso não. O cara [Bivar] está queimado para caramba lá. Vai queimar o meu filme. Esquece esse cara, esquece o partido!”, disse, sem se preocupar por estar sendo filmado por outras pessoas.

Apesar de a fala ter parecido um descuido do presidente num primeiro momento, o movimento de rompimento já estava em curso nos bastidores, com Bolsonaro se reunindo com os advogados Karina Kufa e Admar Gonzaga, que é ex-ministro do TSE, para buscar opções jurídicas para um desembarque que não deixasse nas mãos de Bivar todo o fundo partidário e o tempo de TV conquistado na eleição.

Capítulo 2 – “Briga de marido e mulher”
A reação inflamada de parlamentares da sigla e da militância bolsonarista nas redes sociais levou o presidente a tentar colocar panos quentes na crise no dia seguinte, a quarta, 9 de outubro.

Surpreendendo jornalistas, o presidente fez algo incomum desde a posse: foi procurá-los no térreo do Palácio do Planalto para dizer “não tem crise!”. Usando sua metáfora favorita, Bolsonaro comparou a situação a uma “briga de marido e mulher, que de vez em quando acontece. Não tem crise, não tem o que alimentar, não tem confusão nenhuma”, garantiu.

No Congresso, a oposição começou a surfar na crise governista. A deputada Sâmia Bomfim (PSol-SP), por exemplo, disse no dia 9 de outubro que “o PSL é, e sempre foi, uma legenda de aluguel usada por aventureiros para surfar na onda bolsonarista em 2018. Cabe saber como se comportarão os deputados que embarcaram nessa. Mais um capítulo da crise política que parece longe de acabar. O governo fica ainda mais frágil”, provocou.

Quem também reagiu foi o ex-aliado jogado à posição de antagonista, o presidente e fundador do partido, Luciano Bivar: “Quando ele [Bolsonaro] diz a um estranho para esquecer o PSL, mostra que ele mesmo já esqueceu. Mostra que ele não tem mais nenhuma relação com o PSL”.

Capítulo 3 – “Dê os nomes ou então fica quieto”
A crise do PSL parecia esfriar ao longo da quinta, dia 10 de outubro, mas logo ficou claro que o assunto estava apenas dividindo atenção com a polêmica do momento: o recuo dos Estados Unidos no apoio para o Brasil ingressar na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nos bastidores, a temperatura continuava esquentando e os parlamentares do partido começaram a se agredir abertamente. Respondendo ao deputado federal Júnior Bozzella (PSL-SP), que havia ameaçado com punições pesselistas “infiéis”, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, partiu para a ignorância:

“Vai tentar punir quem é Bolsonaro e depois espalhar outdoorzinho com a sua cara ao lado da do presidente? Se for para falar esse tipo de merda p/ imprensa pelo menos dê os nomes ou então fica quieto!”, postou o filho do presidente, no Twitter.

A essa altura, o partido já estava dividido em duas alas e Eduardo articulava para tomar a liderança – mas isso é assunto para os próximos capítulos.

Capítulo 4 – “Vísceras expostas”
Ainda no dia 10 de outubro, Bolsonaro escancarou o método que estava sendo formulado para justificar um desembarque do partido para ele e para seus aliados: “Vamos pedir uma auditoria nas contas do partido dos últimos cinco anos”, disse ele, que havia se filiado ao PSL em março de 2018. Pressionado por seguidas denúncias em relação ao laranjal do partido nas últimas eleições, Bolsonaro buscava uma maneira de descolar sua imagem das suspeitas de corrupção.

O presidente continuou batendo nessa tecla e, ao visitar São Paulo dois dias depois, acusou o partido de ter uma “caixa-preta” e admitiu a possibilidade de deixá-lo: “Lógico que existe [possibilidade]. Não vou negar para você. Nós queremos ver se há uma maneira de compor, que é muito difícil, porque a executiva, no meu entender, tem que abrir, tem que ser democrática”, disse.

A resposta do grupo ligado a Bivar foi dizer que seria feita sim uma auditoria, mas começando pelas contas da campanha presidencial. Nesse momento já havia integrantes da sigla fazendo uma previsão acertada: o processo deixaria “as vísceras do partido expostas”.

Capítulo 5 – “Que se dane”
No início desta semana, os envolvidos não seguravam mais a língua para evitar polêmicas. De um lado, o senador Major Olímpio (PSL-SP) apelava ao presidente para que internasse o filho Carlos em uma clínica psiquiátrica:

“São molecagens irresponsáveis que já derrubaram ministros, arrebentaram com fiéis aliados de Bolsonaro. Um péssimo exemplo para o país. Mas comigo o papo vai ser outro. Não vou me intimidar por se tratar de filho do presidente. Que se dane”, disparou Olímpio, que havia sido chamado pelo vereador carioca de “bobo da corte“.

Enquanto isso, em plena articulação, um dos irmãos de Carlos, Eduardo, tentava amenizar o discurso: “Os problemas dentro do PSL são pontuais e vamos resolver de maneira interna”.

Capítulo 6 – “Só o Saci e o Papai Noel não sabiam da operação da PF”
Na terça, dia 15, Luciano Bivar foi acordado em casa por policiais federais que cumpriam mandados de busca e apreensão em investigação sobre o laranjal do partido.

Via porta-voz, Bolsonaro mandou dizer que não soube anteriormente da ação, mas a ala dissidente do partido não acreditou.

“Só o Saci Pererê e o Papai Noel que não sabiam dessa operação da PF”, disse o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO). “Todo mundo sabia depois da fala do presidente na semana passada. Ele deu o recado”, afirmou.

A essa altura, a divisão na bancada estava escancarada e os parlamentares já pensavam o futuro do partido sem boa parte dos atuais eleitos. Um grupo de 20 deputados já havia assinado uma carta em defesa de Bolsonaro, isolando os demais, que previam que o partido representasse uma agenda de “direita moderada” e lavajatista, em detrimento da “direita radical” da qual faria parte o grupo ligado ao presidente da República.

Capítulo 7 – A Primeira Guerra das Listas
O dia mais quente até agora nessa novela pesselista foi a quarta, dia 16 de outubro.

Ironicamente, a primeira notícia do dia foi uma fala de Bolsonaro, de que não queria “tomar partido de ninguém” na briga. Nos bastidores, porém, o presidente estava se dedicando pessoalmente a conquistar votos para trocar o Delegado Waldir por seu próprio filho, Eduardo, na liderança do partido na Câmara, já que a crise começava a atingir a agenda do governo no Congresso.

A articulação escancarada levou Waldir a acusar Bolsonaro de “rasgar a Constituição” ao interferir no funcionamento do Parlamento.

Enquanto Waldir falava, o grupo de Eduardo protocolava na Mesa Diretora da Câmara uma lista para destituí-lo. Quando a troca parecia consolidada e Eduardo já fazia pronunciamentos como líder, o grupo de Waldir contra-atacou com outra lista, com mais nomes, para que o goiano fosse reconduzido ao cargo.

O partido terminou o dia sem saber quem era efetivamente seu líder na Câmara.

Capítulo 8 – Caça às bruxas
Com ninguém confiando em ninguém no PSL, a quinta, dia 17 de outubro, foi um dia de muitas ameaças, algumas delas cumpridas. A líder do governo no Congresso, deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), por exemplo, foi retirada do posto.

Mas não pareceu se importar muito: “Não nasci líder, não preciso disso. Trabalhei 20 horas por dia para salvar o governo de crises, aprovar pautas importantes para o país, apagar incêndios durante todos esses meses. Agora ganho minha alforria e mais tempo para cuidar do meu mandato e da minha candidatura à prefeitura”, desdenhou ela.

No fim do dia, a agora ex-líder do governo deu entrevista ao colunista Chico Alves, do UOL, e disparou a metralhadora (a imagem bélica é intencional, para seguir o zeitgeist do momento) ao que chamou de “milícia virtual” bolsonarista:

“São pessoas interligadas em todo Brasil, algumas recebendo para isso e outras não. Muitos robôs. Já sabia e não estou nem aí para isso”, denunciou. Antes ferrenha bolsonarista, Joice também não poupou críticas ao presidente – “Tem uma inteligência emocional de -20, não é nem zero” – e ao líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) – “Um nada”.

Mais cedo, o Delegado Waldir havia sido gravado ameaçando “implodir o presidente” Bolsonaro. Depois, questionado, recuou e disse que estava tomado pela emoção, negando ter munição contra o ex-aliado.

Bolsonaro, enquanto isso, buscava direcionar a crise para o fato de ter sido grampeado por um companheiro de partido. “[Parlamentares] deram uma de jornalista? Eu converso com deputados. Não trato publicamente desses assuntos, converso individualmente. Se alguém grampeou o telefone, primeiro é uma desonestidade”, disse.

Epílogo (ou Vem aí a Segunda Guerra das Listas)
O Delegado Waldir inicia esta sexta (18/10/2019) ainda como líder oficial do PSL na Câmara, mas não terá paz no cargo. A ideia do grupo que não conseguiu retirá-lo do poder na Primeira Guerra das Listas é mobilizar deputados ainda hoje para assinar um novo requerimento pela destituição do parlamentar, informou um grupo de bolsonaristas à reportagem. Mas, como a maioria da bancada já deixou Brasília e foi para as suas bases, a ideia é apresentar o documento apenas na segunda-feira (21/10/2019).

“Estamos colocando novas assinaturas. A lista dele [Waldir] está valendo, porque tivemos problemas com assinaturas. Vamos ter ao menos 27, que já vale para a troca de liderança”, informou um bolsonarista. “E estamos dialogando ainda com alguns parlamentares que estão mais abertos para que assinem a lista também”, completou.

Fim?

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