Com motosserra, deputado corta bloqueio em base indígena de RR
Em vídeo que circula nas redes sociais, o Jeferson Alves afirmou que a cidade de Boa Vista nunca mais ficará isolada
atualizado
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Com uma motosserra e um alicate de pressão, o deputado estadual Jeferson Alves (PTB-RR) cortou na manhã desta sexta-feira (28/02/2020) uma corrente que protege há anos a área indígena Wairimi Atroari.
O bloqueio retirado pelo deputado controla o acesso à BR-174, que liga Boa Vista (RR) a Manaus (AM). A construção da rodovia, durante o período da ditadura militar, causou uma série de violência contra os povos indígenas.
Vídeo que circula nas redes sociais mostra o deputado Jeferson ao cortar a corrente. Após usar a motosserra e o alicate para arrancar o bloqueio, o parlamentar da Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) destaca que a cidade nunca mais vai ficar isolada.
“Presidente [Jair] Bolsonaro, é por Roraima, pelo Brasil; e não a favor dessas ONGs que boicotam o meu estado. Essa [rodovia] aqui, nunca mais [será fechada]”, disse, ao evidenciar as correntes diante das câmeras.
Os kinja, como se autodenominam os Waimiri Atroari, acionaram a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF).
Longa batalha
O bloqueio no km 120 da BR-174, no trecho da reserva indígena Waimiri Atroari, ocorre diariamente, das 18h às 6h da manhã. O uso da corrente foi autorizado por volta dos anos 70 pelo próprio Exército para proteger o meio ambiente. Os kinja acusam o Estado de genocídio causado durante o período de governos militares.
Os indígenas relatam que homens brancos de uniforme “cor de mato” entraram armados nas terras, destruíram locais sagrados e provocaram a morte de crianças, adolescentes e adultos de aldeias inteiras.
Em contrapartida, o deputado estadual Jeferson Alves alega que não existe mais autorização legal para bloquear a rodovia.
“O estado não pode ser isolado no restante do Brasil. A constituição garante o direito de ir e vir”, disse o parlamentar em conversa com o Metrópoles.
Jeferson defende o desenvolvimento econômico da região e relatou que espera há anos um posicionamento do governo sobre o uso da corrente.
Questionado, o deputado disse achar correto tirar a corrente com as próprias mãos. “Ela é inconstitucional, não pode estar lá”, complementou.
Versões oficiais
A Fundação Nacional do Índio (Funai), que tem por objetivo proteger os direitos dos povos indígenas do Brasil, não se pronunciou até o fechamento desta reportagem. O espaço continua aberto.
Procurada, a Polícia Federal (PF) também não se pronunciou.