Bolsonaro ataca a imprensa: “Está acabando. Só abobrinha!”
Presidente afirmou que pode influenciar para que Petrobras não publique balancetes em veículos de grande circulação
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PSL) se mostrou irritado com a imprensa nesta quinta-feira (22/08/2019) e, em café da manhã com representantes de empresas de rádios de Santa Catarina, criticou veículos de comunicação nacionais e disse haver uma briga com a “mídia tradicional”. Na opinião do presidente, os veículos deturpam suas falas.
“Há uma briga também com a mídia tradicional, com a grande mídia, na questão de deturpar. Ontem eu tive saco de ouvir um pouco a GloboNews, falando sobre queimada na Amazônia. Duas senhoras ali que pelo amor de Deus, só falam abobrinha o tempo todo. Entendem de tudo, tudo. Lula e Dilma não tinham defeito nenhum, zero defeito. É lógico, estava lá dinheirinho na conta [inaudível] do governo”, criticou Bolsonaro.
Infuência
O presidente, que no início deste mês editou uma medida provisória direcionada a retirar receitas dos jornais impressos, disse que pode influenciar para que empresas estatais, como a Petrobras, não publiquem seus balanços nos jornais.
“Sabe o que eu posso fazer?”, indagou o presidente, respondendo em seguida. “Chamo o presidente da Petrobras aqui: ‘Vem cá, o, Castello Branco (Roberto Castello Branco, presidente da estatal). Você vai mostrar seu balancete este ano no jornal “O Globo”. Mas presidente, custa 10 milhões, entre jornal e comissão. Ô, cara, é Globo. Posso fazer ou não?”, disse o presidente.
A Medida Provisória (MP) 892/19 permite que os balanços das companhias sejam apenas publicados nos sites da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e nos próprios endereços eletrônicos das empresas, e não mais em jornais.
“Vinte páginas de jornais para isso, e o jornal Valor Econômico, que é da Globo, vai fechar. Não devia falar? Não devia falar, mas qual é o problema? Será que eu vou ser um presidente politicamente correto?”, disse.
Enfurecido com a repercussão de suas falas sobre a Amazônia na imprensa, ao sair do Palácio da Alvorada, rumo ao café da manhã, Bolsonaro voltou a falar da medida provisória, deixando claro seu direcionamento.
“Tirei de vocês (jornalistas) R$ 1,2 bilhão com publicação de balancetes. Não é maldade. É bondade e Justiça com os empresários, que não aguenta pagar isso para publicar páginas e páginas que ninguém lê. Então, publica no site oficial, CVM, a custo zero”, disse.
O presidente ainda disse que a imprensa “está acabando”, como acabou a profissão de datilógrafo.
“Já estamos ajudando assim a não ter desmatamento, porque papel vem de árvore. Estamos em uma nova era. Assim como acabou no passado o datilógrafo, a imprensa está acabando também. Não é só por questão de poder aquisitivo do povo que não está bom. É porque não se acha a verdade ali”, disse o presidente que avistou que tem tentado “converter” os jornalistas.
Bolsonaro disse que, em nenhum momento, acusou as ONGs de tocarem fogo na Amazônia, acusando a imprensa de deturpar sua fala. “Em nenhum momento eu acusei as ONGs. Suspeita!”, disse o presidente, que um dia antes havia insinuado que o aumento dos incêndios na Amazônia se devia a ações de ONGs contrárias ao seu governo.
“Problemas a gente vai ter pela irresponsabilidade da imprensa no Brasil. É inacreditável o que está escrito nos jornais. Para mim não é novidade. Estou tentando é converter vocês, pelo menos, falando como cidadão brasileiro. Porque se for falar sobre linhas editoriais dos jornais é o fim do mundo. É inacreditável o que a imprensa brasileira faz com o Brasil”, reclamou o presidente.
Na mesma entrevista, no entanto, Bolsonaro voltou a justificar suas “suspeitas”, reiterando as acusações feitas às organizações. “As ONGs perderam dinheiro. Tem que fazer o que? Tentar me derrubar. É o que sobra a eles, mas nada além disso”, disse o presidente.