Análise: vantagens na Previdência amarram militares a Bolsonaro
Reforma aprovada pelo Congresso, com salário integral, contribui para a estabilidade da relação entre o presidente e as Forças Armadas
atualizado
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Os militares brasileiros se lembrarão para sempre da boa vontade demonstrada a eles pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na reforma da Previdência, concluída nessa quarta-feira (04/12/2019). De todas as categorias profissionais, públicas ou privadas, nenhuma saiu tão bem quanto as carreiras fardadas.
Esse raciocínio vale para as altas patentes. As camadas mais baixas na hierarquia ficam comprimidas. Não acompanharam a compensação salarial recebida pelos oficiais.
Como exemplo das vantagens, destaca-se a remuneração integral depois da passagem para a reserva. Ao atender às reivindicações das cúpulas, Bolsonaro fortalece os laços com os quartéis.
O gesto do capitão compensa, de longe, as desfeitas sofridas por alguns generais que passaram pelo Palácio do Planalto. O caso mais chocante afetou Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo nos primeiros meses do ano.
General de grande experiência no exterior, caiu depois de perder uma queda de braço para o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSC), filho do presidente. Santos Cruz também enfrentou as baixarias do escritor Olavo de Carvalho.
Outro general, Maynard Santa Rosa, demitiu-se da Secretaria de Assuntos Estratégicos por ter seus planos ignorados por Bolsonaro. Também considerou indevido o tratamento que recebeu do ministro Jorge Antonio de Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência.
Claro que os militares brasileiros, pela importância da missão constitucional, fazem jus a salários e aposentadorias compatíveis com suas funções. Óbvio, também, que têm outras preocupações além da remuneração, como a modernização e a qualificação das FAs.
O que parece inadequado são benefícios muito acima de todas as outras categorias, como um aumento de R$ 22 mil para mais de R$ 30 mil nos salários dos generais.
Com tantas ressalvas, os militares vão contribuir com cerca de R$ 10 bilhões, em dez anos, para o reajuste da Previdência. Servidores civis e trabalhadores da iniciativa privada arcarão com mais de R$ 800 bilhões.
São essas contas que deixam as FAs mais felizes com Bolsonaro.